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Competências emocionais diferenciam profissionais no mercado de trabalho

Em entrevista exclusiva, o especialista Alexandre Pellaes analisa a importância da Inteligência Emocional

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Entre as principais mudanças que vêm sendo percebidas no mercado de trabalho está a valorização cada vez maior das competências emocionais. A chamada Inteligência Emocional, capacidade do ser humano de lidar com as emoções, e como ela impacta na rotina das empresas é um tema que está em alta no radar dos gestores.

O pesquisador e especialista em estudos sobre o significado do trabalho, novos modelos de liderança e Gestão Compartilhada, Alexandre Pellaes, acredita que há um consenso de que as empresas contratam profissionais com base em suas capacidades técnicas e os demitem por problemas comportamentais. “Ou seja, contratamos pelo currículo e demitimos pelas atitudes”, aponta. 

Pellaes é presença confirmada no I Congresso Internacional de Inteligência Emocional, realizado pelas empresas BG Desenvolvimento Comportamental e Com Propósito, que acontece no próximo dia 21 de outubro em formato online. Ele é um dos palestrantes do evento, que reunirá especialistas brasileiros e internacionais consagrados nas áreas de gestão das emoções, recursos humanos e negócios. 

O futuro do novo trabalho é o tema abordado por Pellaes no congresso

Em entrevista exclusiva ao Bella Mais, o pesquisador analisou este novo momento do mercado de trabalho e como os gestores e funcionários devem estar preparados para o cenário. Confira:

Como as empresas devem avaliar o desempenho de um profissional e de sua equipe nesse novo momento que estamos vivendo?

Em um mundo onde o conhecimento técnico começa a ser revisitado e temos muito a aprender, o grande diferencial é baseado em inteligência emocional e disposição. Isso não quer dizer que você pode abrir mão da capacitação técnica. Não pode. Mas não concentre todas as suas fichas nisso. Todas as empresas estão buscando profissionais que tenham energia para impactar pessoas e processos por meio do trabalho. Profissionais maduros, que não atuem como crianças esperando ordens. Que tenham compromisso em realizar trabalho com excelência e que tenham intenção genuína, colocada em ação. Para mim, um dos pontos fundamentais na avaliação de desempenho de um profissional é observar a sua  postura ativa, disposição em colaborar e realizar seu melhor trabalho. O mundo do trabalho é dos “makers” (pessoas que identificam o que tem que ser feito e tomam iniciativa para gerar as condições necessárias para realizar suas visões de mundo e de trabalho). Para isso, devemos investir em autoconhecimento e comunicação, pois, apesar de toda evolução tecnológica, o futuro do trabalho é relacional -  construído a partir da conexão entre dois pontos e reforçado por vínculos de confiança.

Como você enxerga essa crescente demanda de profissionais desejando mudar de rumo?

Atualmente, vivemos um movimento intenso de mudança no mundo do trabalho. O perfil das novas gerações, que se mostram mais qualificadas e menos propensas a aceitar modelos rígidos, acelera o processo de atualização das empresas, que correm o risco de não terem bons profissionais no futuro próximo. Por todo esse histórico e pela evolução acelerada da tecnologia, que derruba fronteiras de espaço e tempo, o futuro do trabalho se desenha com uma interação mais participativa, com mais autonomia e construção mais saudável do relacionamento entre pessoas e organizações. Menos hierarquia, maior distribuição de poder e tomada de decisão. Mais foco na qualidade e não na quantidade da entrega. A tecnologia facilitará muito a realização de atividades repetitivas. Empregos de baixo valor agregado, sem criatividade e sem interação construtiva com clientes, parceiros e fornecedores correm o risco de desaparecer. Por essa razão, é necessário dar um salto no nível de desenvolvimento e engajamento das pessoas com relação ao papel do trabalho em suas vidas.

E para um negócio prosperar, dentro da premissa do novo significado do trabalho, o que pode fazer a diferença hoje?

Para nos mantermos produtivos (e sãos), o trabalho deixa de ser uma relação de ter, para ser reconhecido de fato como uma relação de ser. Nós mostramos quem somos para o mundo, por meio da forma que executamos e vivemos o trabalho. As empresas passarão a ser plataformas para o desenvolvimento das pessoas, em ambientes mais inclusivos, com diversidade de ideias e de perfis profissionais, flexibilidade e alinhamento de ideias. Propósito deixará de ser uma busca desenfreada e passará a ser uma construção conjunta. Parece uma utopia, mas não é. É uma conquista que só será recebida se mantivermos o desenvolvimento e saúde econômica. Em crise e desespero, há a tendência para voltar aos primórdios da busca pelo atendimento das necessidades individuais. Por isso, a responsabilidade social e a ética são palavras de ordem para o futuro!

Quais são as maiores dificuldades hoje - incluindo também a questão da gestão do tempo - que as pessoas podem enfrentar profissionalmente e como fazer para superá-las?

Há pessoas que transferiram para seus empregos toda a fonte possível de realização de suas vidas. Ou seja, elas se enxergam pela lente organizacional. Mesmo quando sofrem, não conseguem mudar o comportamento, pois ele representa quem elas são, como formador de sua identidade. Infelizmente, não há uma receita para mudar a mentalidade das pessoas, pois os valores que motivaram esses comportamentos são diferentes para cada indivíduo. O que podemos reconhecer é que essa mentalidade é resultado do sistema de gestão que funcionou até agora. Conforme o sistema vai se atualizando, as pessoas irão descobrindo novas formas de adaptar sua identidade. Isso só será possível se as organizações adotarem novas práticas, políticas e processos, realinhando sua visão sobre qualidade de entrega. Se as empresas seguirem reconhecendo o sofrimento como forma de entrega, as pessoas repetirão o comportamento.

Na sua avaliação, quais são as principais competências que todo o profissional precisa desenvolver para ser bem sucedido no futuro do trabalho?

Autorrealização: sua relação com o trabalho. Porque você realiza determinadas atividades. Como você se enxerga a partir do trabalho; Empatia: sua relação com as pessoas. Como você realiza suas atividades. Qual é sua intenção na relação com as pessoas e como você a expõe; Foco: sua relação com a organização. O que você realiza em suas atividades. Quanto você contribui para a equipe e para a organização. Certamente, há um monte de capacidades pontuais e individuais que podem ser agregadas a essa visão. Meu ponto aqui é que uma compreensão mais completa sobre o trabalho vai resultar em profissionais mais responsáveis e comprometidos. Além disso, há dois elementos complementares que são imprescindíveis para o sucesso: habilidade em comunicação (capacidade de expor ideias, compreender e influenciar) e aprendizagem intencional (interesse genuíno e ação para aprender de diversas formas e em diversos meios, sem ficar esperando mais um curso).

Como você faz para manter-se atualizado dentro de seu propósito profissional? Alguma dica?

Encaro meu propósito profissional sempre como uma construção! O propósito, muitas vezes é explicado como o "porquê" você realiza alguma coisa. A sua mais profunda motivação. E então, nessa ditadura, só teriam valor e felicidade as pessoas que atendem o seu "chamado" e compreendem claramente o seu "porquê".

Em contraponto ao valor do "porquê", eu faço um chamado ao valor do "como". Quem traz mais contribuição ao mundo, afinal? Alguém que trabalha por vocação sem qualidade e sem impacto, ou alguém que faz seu trabalho com qualidade e com cuidado às pessoas, mesmo sem identificar aquela como sua missão de vida?

Será que o "porquê" (vocação) é mais relevante e traz mais felicidade do que um "como" (atividade) bem feito? Tenho sérias dúvidas. Cuidado com o discurso vazio sobre propósito, sem entrega! O que muda o mundo é a AÇÃO. O resto é sonho!

Propósito é uma construção. Ninguém "encontra" propósito. A gente constrói o propósito costurando atividades, relacionamentos e impacto sobre as pessoas e sobre nós, com uma linha de significado individual. Por isso é impossível copiar o propósito de outro ou tentar apropriar-se dele. 

Além de Pellaes, o I Congresso Internacional de Inteligência Emocional, terá as as presenças dos palestrantes Liliana Patrício, Fernando Brancaccio, Brenda Giuriolo, Carolina Fuhrmeister, Helena Brochado, Paulo Moreira, entre outros. A programação completa e os ingressos podem ser obtidos no site https://congressoie.com.br/.


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