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Dia do Trabalho: as mulheres multitarefas e sobrecarregadas

A uma rotina profissional já sobrecarregada, soma-se outros papéis que as mulheres ganharam na pandemia, como o de cuidadora da família e professora, por exemplo

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Nesse Dia do Trabalhador, propomos uma reflexão: como você, mulher, está lidando com o acúmulo de funções? E aqui não estamos nos referindo apenas a questões profissionais. Neste último ano, muitas mulheres se viram obrigadas a exercer papéis que antes não eram seus, como o de cuidadora e professora. E isso tudo, ainda sendo mães, funcionárias, gestoras. Como se manter saudável dentro deste cenário?

Desde março de 2020, homens e mulheres assumiram mais papéis por conta da crise. Mas aqueles papéis que normalmente já são tidos como "femininos", como o de cuidadora da família por exemplo, se mantiveram e ganharam mais peso.  “Quando a gente vai conciliar entre cuidar da família (aí família a gente pode falar em filhos, idosos, pessoas doentes), é muito mais comum ver as mulheres assumindo mais papéis na família do que os homens”, observa a psicóloga e CEO da Planus Escolhas de Carreiras, Juliana Rondon. 

Nesse sentido, os momentos críticos da pandemia, como os fechamentos do comércio e escolas, também sobrecarregam as mulheres e há um acréscimo físico de demanda, carga horária de trabalho e novos papéis em casa. “Se antes se trabalhava de 8 a 10 horas, hoje se passa a trabalhar de 12 a 14. E ainda não estamos falando sobre a exaustão intelectual, porque é preciso aprender a fazer novas coisas”, complementa. 

Produtividade

Outra questão que entra em debate é a produtividade. É possível ter o mesmo ritmo de trabalho, dentro do cenário atual? Para Juliana, é preciso entender quais são as entregas para cada papel que se ocupa, na vida, como um todo: mãe, educadora dos filhos, gestora, empresária, funcionária. 

“A produtividade não tem a ver com nada sobre-humano, mas com o que você se propõe. O que eu destaco é: qual é o acordo que você fez de entrega em determinada situação? A resposta que não é possível ser dada naquele determinado momento, precisa ser recontratada. Precisa ter a maturidade da vida adulta para revisar os acordos", explica Juliana. Os pactos a que ela se refere são prazos, projetos, formas de trabalho. Ela lembra ainda que, abrir mão, nem sempre é um problema: "são escolhas e isso também é um caminho de maturidade. Neste momento não dá pra gente querer tudo”. 

Juliana ressalta que é preciso saber nossos limites, para poder combiná-los com as pessoas. “A gente tem que saber que não precisa atender a todas as expectativas e que vai (ou pelo menos deveria) abrir mão de ganhos em determinado papel da vida para reduzir perdas em outro”, diz.  Ou seja, ao definir o que é mais importante nesse momento, como, por exemplo, entrar em um novo projeto ou dedicar tempo a sua saúde mental, tomar (ou revisar) decisões maduras.

A produtividade também está ligada aos nossos hábitos de bem-estar e qualidade de vida: sono, alimentação, exercício físico, tempo de ócio. Isso tudo faz parte de uma produtividade saudável.

Não é preciso ser “heroína”

Para Juliana, o ponto primordial para se manter saudável diante das dificuldades é o entendimento da mulher de que ela não pode naturalizar a crise - e que está tudo bem com isso. “Acredito que a primeira pessoa a desumanizar a mulher é ela mesma. A gente aprendeu a se desumanizar e naturalizou a questão da heroína, da maravilhosa que dá conta de tudo, da multifuncional. Não somos isso, não somos heroínas. Somos multifuncionais sim, mas a gente só consegue ser multifuncional se a gente dormir, se a gente descansar o nosso intelecto, se a gente descansar o nosso corpo”, destaca.

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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