capa

O jeito feminino de liderar na crise

Estenda porque as empresas lideradas por mulheres estão se saindo melhor nessa nova realidade econômica

publicidade

Um dos setores mais afetados pela pandemia de coronavírus foi, sem dúvidas, a economia. Das gigantes às microempresas, todas tiveram que se adaptar rapidamente à nova realidade imposta, que exigia mudanças quase que diárias conforme a Covid-19 avançava pelo mundo. Nesse cenário, que exigiu uma adaptação rápida dos profissionais, os negócios comandados por mulheres se destacaram por seus resultados mais positivos.

Os pesquisadores Jack Zenger e Joseph Folkman, da Universidade de Harvard, realizaram um estudo avaliando ambos os gêneros e concluíram que as mulheres fazem uma melhor gestão em períodos de crise. A psicóloga Helena Brochado, consultora da Fundatec, considera que a inteligência emocional, que é mais desenvolvida na mulher, faz com que criemos uma sensibilidade maior, influenciando na maneira de lidar com situações adversas.

“Essa habilidade vem se desenvolvendo nas mulheres desde a pré-história, quando cuidar dos filhos era responsabilidade exclusiva da mulher e não existia comunicação verbal. Ainda hoje a maternidade proporciona isso para as mulheres e essa sensibilidade está sendo muito necessária no meio corporativo, sobretudo no cenário totalmente online”, explica Helena. 

Diferenciais femininos

Com a pandemia, as empresas começaram a explorar essa capacidade feminina de reconhecer aquilo que não é dito, principalmente com a comunicação remota. “Não vemos o outro e precisamos de uma certa sensibilidade para entender o que aquele colaborador ou cliente precisa naquele momento", aponta Helena.

Além disso, a psicóloga acredita que a mulher não usa tanto a autoridade, quando colocada em cargos de liderança, quanto o homem. A forma mais colaborativa e com uma escuta ativa acaba gerando mais engajamento. “Como clientes, procuramos estar com gestores e pessoas que se preocupem e que entendam a nossa demanda, além de realizá-la com mais flexibilidade”, afirma.

Mulheres na liderança

A presença da mulher em cargos de liderança é mais percebida nas áreas de Recursos Humanos, Marketing e Administrativo Financeiro. Nos setores técnicos, como engenharia, e produtivos, como logística, as oportunidades ainda são poucas. “Um reflexo disso pode ser visto nas faculdades, que ainda formam menos mulheres”, sinalizou Helena.

Porém já é possível ver um movimento das empresas para mudar esse contexto. Muitas delas já começaram a trabalhar com indicadores de mulheres em nível de gestão e essa preocupação mostra que as companhias têm a intenção de aumentar a diversidade em seus cargos de chefia.

Ainda existem obstáculos          

Apesar dos direitos já conquistados, as mulheres ainda passam por muitas dificuldades para poderem ser reconhecidas dentro de suas áreas. A jornada dupla, que já era um problema antes da pandemia, se acentuou com o cenário. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mostrou que, até o terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres perderam o emprego por não conseguirem conciliar emprego e trabalho doméstico.

Pensando no trabalho doméstico, outro fator decisivo na carreira de uma mulher, independentemente da pandemia, é a gestação. Muitas mulheres desistem ou adiam os planos de ter filhos em detrimento da carreira, segundo um estudo feito pelo site Trocando Fraldas.

A queda de rendimento, aumento do risco de demissão, o fato do pai raramente deixar de trabalhar para cuidar dos filhos, a dificuldade em encontrar creches e a falta de suporte das empresas são alguns dos fatores que pesam na hora de pensar na maternidade.

As leis que protegem as mulheres não são tão efetivas. A lei só garante o emprego da mulher até cinco meses após a gestação, depois desse período a empresa pode demitir. Estes, dentre outros fatores, acabam adiando, e às vezes impossibilitando, a chegada das mulheres em cargos superiores.

Apesar dos obstáculos, Helena acredita que as mulheres estão se posicionando cada vez mais e as empresas estão mais preocupadas com essa inclusão. “Implementar esses indicadores é um dos caminhos para esse avanço, além de propor discussões acerca da diferença salarial entre gêneros e trabalhar a sororidade, para que mulheres em níveis de gestão possam trazer outras consigo”, conclui a profissional.


compartilhe