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Cromossomo 21: inspiração e aprendizado que transbordam

No Dia Internacional da Síndrome de Down, conheça Fernanda, que é portadora da condição, e lançou seu primeiro livro

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“Gosto de pertencer a esse planeta, mas às vezes gostaria de pertencer a outro”. A escritora Fernanda Schacker Machado, de 30 anos, expressa este e outros sentimentos através das suas histórias. Sobre “Taragô”, obra de sua autoria lançada recentemente, ela destaca: “é um livro de ficção, mas contém muitas das minhas emoções”.

A personagem principal do livro, Nândhya Luz, assim como Fernanda e outras 270 mil pessoas no Brasil, tem Síndrome de Down. Segundo o Ministério da Saúde, “em cada célula do indivíduo existe um total de 46 cromossomos, divididos em 23 pares. A Síndrome de Down é uma alteração genética produzida pela presença de um cromossomo a mais, ligado ao par 21, por isso também é conhecida como trissomia 21”. O Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado em 21 de março (21/3), representa a singularidade da triplicação do cromossomo 21.

Esta condição (e não doença!) acompanha Fernanda, mas é apenas um dos capítulos da sua história. Formada em Design Gráfico, sempre teve foco na construção e editoração de livros. A paixão pela literatura foi despertada no primeiro ano do ensino médio, durante um projeto de escrita em que teve de escrever uma autobiografia. “Eu amei ter escrito e, depois do projeto, pensei: vou ser escritora”, conta. A partir dali, sempre que tinha um tempo livre, ia para as últimas páginas dos seus cadernos escrever histórias.

Hoje, ela se divide entre a vida de escritora e o trabalho na área administrativa. Além disso, é parte do Conselho Deliberativo da Associação dos Familiares e Amigos do Down (AFAD), a qual faz parte desde os seis anos de idade. No grupo, são desenvolvidas atividades que buscam promover a autonomia, oferecer conforto e informações para as famílias. “Minha mãe sempre me incentivou a realizar todo o tipo de atividades, pois ajuda na minha autonomia, independência e desenvolvimento”, relata. Entre as aventuras já conquistadas, ela destaca a participação em um grupo de escoteiros, a viagem para a Disney - presente no aniversário de 15 anos e a participação na Jornada Mundial da Juventude. 

Prêmio Cromossomo 21 de Literatura e Inovação

Fernanda conta que “Taragô” surgiu de suas inquietações. Na obra, a personagem principal descobre um outro planeta, um misterioso e mágico portal que a levará a conhecer sua verdadeira origem. “A história passa através do tempo e espaço e envolve muitos sentimentos. Temos a possibilidade de estar em dois planetas, e num deles, Taragô, ela descobre seus poderes e encontra sua verdadeira história”, adianta a escritora.

Junto com a história da personagem (e porque não, também da Fernanda), também foi idealizado o Prêmio Cromossomo 21 de Literatura e Inovação, pelo educador social Alex Duarte. O principal objetivo é a descoberta de novos escritores que tenham algum tipo de deficiência intelectual.

Assim que ficou sabendo, Fernanda não perdeu tempo em agilizar sua inscrição. “Já fiquei nervosa no momento em que me inscrevi. A expectativa era muito grande”, relembra ela. Quando recebeu a ligação comunicando que havia sido a vencedora, mal podia acreditar. “Foi incrível. Me emocionei muito, chorei, vibrei”, conta.

O prêmio possibilitou uma assessoria completa para o livro se tornar possível: desde a revisão, diagramação, até o lançamento e criação do site de vendas. E a escritora já adianta que este é apenas o começo, pois “Taragô” será uma série de 3 exemplares. “Já estou trabalhando na segunda edição”, revela. “Ainda quero escrever muitos livros!”, complementa.

Recado para outras mulheres

Seja escrevendo livros ou desenvolvendo qualquer outro tipo de atividade que desejarem, o recado de Fernanda para outras mulheres que também têm Síndrome de Down é apenas um: não desistam dos seus sonhos. “Corram atrás. Eu sei que nós podemos conseguir e somos capazes. Temos condições de aprender e conquistar nosso espaço. Somos seres humanos, temos as mesmas condições que todos”, ressalta. 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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