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Seiko Hashimoto, política e medalhista olímpica, assume comando de Tóquio-2020 após escândalo

Ela substitui Yoshiro Mori, que renunciou na semana passada após o escândalo provocado por comentários sexistas

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A ministra japonesa dos Jogos Olímpicos, Seiko Hashimoto, de 56 anos, foi nomeada nesta quinta-feira (18) presidente do Comitê Organizador de Tóquio-2020, em substituição a Yoshiro Mori, que renunciou na semana passada após o escândalo provocado por comentários sexistas. "Não vou poupar esforços para o sucesso dos Jogos de Tóquio", disse Hashimoto após sua nomeação.

Ela assume o posto a apenas cinco meses do evento, que tem cerimônia de abertura programada para 23 de julho e foi adiado no ano passado, devido à pandemia da covid-19.

Hashimoto destacou que as medidas de combate ao coronavírus, que permanece uma ameaça apesar das primeiras vacinas, serão "prioridade absoluta". Ela também disse que deseja que o público, tanto no Japão como no exterior, "sinta que os Jogos Olímpicos são seguros".

Pouco antes do anúncio, Hashimoto apresentou ao primeiro-ministro Yoshihide Suga sua demissão como ministra do governo, no qual era uma das poucas mulheres à frente de uma pasta.

Suga anunciou que será substituída por outra mulher, Tamayo Marukawa (50 anos), que já havia sido ministra dos Jogos Olímpicos entre 2016 e 2017.

Suga "me enviou palavras de boas-vindas", declarou Hashimoto à imprensa. "Ele tem a esperança de que eu possa dar toda minha energia para fazer os Jogos de Tóquio servirem de união para o povo japonês", comentou.

Hashimoto era considerada a grande favorita para substituir Mori, que renunciou depois da afirmar no início do mês que as mulheres falavam muito nas reuniões, algo que considerava "irritante".

"Um verdadeiro progresso"

As declarações de Mori, ex-primeiro-ministro japonês de 83 anos, receberam muitas críticas, dentro e fora do Japão. O Comitê Olímpico Internacional (COI) considerou, de maneira tardia, que eram contrárias aos valores olímpicos, sobretudo no que diz respeito à igualdade entre os sexos. Vários patrocinadores dos Jogos também pressionaram pela renúncia de Mori.

Após a saída do ex-premier, um conselho paritário foi formado para encontrar um sucessor de maneira rápida. Em um primeiro momento, Mori tentou emplacar alguém próximo para sua vaga, o ex-presidente da Federação Japonesa de Futebol Saburo Kawabuchi, que é mais velho que ele (84 anos).

Ministra dos Jogos Olímpicos e da Igualdade de Gêneros desde setembro 2019, integrante da Câmara Alta do Parlamento desde 1995, Hashimoto também tem uma longa carreira de atleta.

Ela disputou sete Jogos Olímpicos (quatro de inverno e três de verão) nas décadas de 1980 e 1990 como patinadora de velocidade e ciclista de pista. Hashimoto conquistou uma medalha de bronze na patinação nos Jogos de Inverno de Albertville, na França, em 1992.

Suga pediu a Hashimoto para "trabalhar duro" e concretizar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, com base em sua grande experiência como atleta. Kazuko Fukuda, ativista dos direitos da mulher no Japão, elogiou a nomeação de Hashimoto e o processo de seleção. "Penso que o fato de que estabeleceram cinco critérios para escolher o novo presidente, incluindo a compreensão da igualdade de sexos e dos direitos humanos, representa um verdadeiro progresso", disse Fukuda à AFP.

"Agora temos que garantir que as políticas de igualdade homens-mulheres no país não fiquem para trás", acrescentou Fukuda, que participou da criação de uma campanha on-line contra as declarações sexistas de Mori. A petição coletou mais de 157.000 assinaturas.

No Aberto da Austrália, onde derrotou a americana Serena Williams nas semifinais, a tenista japonesa Naomi Osaka afirmou que a nomeação de Hashimoto é "algo bom".

"As barreiras estão sendo derrubadas, sobretudo, para as mulheres", disse a atleta de 23 anos, que havia chamado Mori de "ignorante" por seus comentários machistas.

Hashimoto teria relutado em aceitar o cargo, segundo a imprensa nipônica.

O desafio é gigantesco. A maioria dos japoneses está contra a realização dos Jogos este ano, pelo temor de que o evento provoque uma aceleração da pandemia no país. Grande parte do Japão, incluindo Tóquio, está novamente em estado de emergência desde janeiro para lutar contra a nova onda do vírus.

Os organizadores de Tóquio-2020 prepararam uma bateria de medidas e restrições contra a covid-19, mas sem impor quarentena, ou a vacina, para os participantes dos Jogos. A questão delicada da presença de torcedores e de um eventual limite de espectadores será debatida nas próximas semanas.

AFP


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