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Medo do desemprego é maior entre as mulheres

Segundo especialista, é comum mulheres sem demitidas primeira por não serem consideradas "chefes de família"

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A pesquisa Índice do Medo do Desemprego, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), aponta que o índice ficou em 57,1 pontos, na medição feita em dezembro de 2020 - a média histórica é de 50,2. Entre as mulheres, o indicador, que mede o medo de perder o emprego, é ainda maior: chega a 64,2 pontos (entre os homens, o índice é de 49,4 pontos).

De acordo com a professora da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, Ana Claudia Bilhão, a pandemia impactou significativamente neste resultado, pois refletiu diretamente na saúde e economia, dentre outras variáveis. Porém, os reflexos deste fenômeno vão além, pois, segundo Ana, a pandemia fez com que muitos de nós nos déssemos conta de algo que já era sabido, mas muitas vezes negligenciado: a fragilidade da vida. “De repente nos deparamos com algo totalmente desconhecido, um vírus capaz de literalmente ‘parar o mundo’, algo que parecia impossível de acontecer”, reflete.

Para a docente, além das pessoas que tiveram o adoecimento físico, muitos tiveram impactos na saúde emocional e mental. “Penso que a incerteza, a ansiedade, a insegurança, a tristeza, o stress, enfim, tantos fatores nocivos contribuíram para o aumento do medo em relação a quase tudo, inclusive o desemprego”, explica.

Impacto é maior para as mulheres

Ana acredita que é comum as mulheres serem demitidas primeiro pois ainda há, em alguma medida, a ideia de que seria pior socialmente demitir o “pai de família”. “Há uma noção equivocada de que a mulher será suportada por alguém, quando na verdade sabemos que quase a metade dos lares brasileiros - 43% - são sustentados por mulheres, segundo o Ipea. Além disto, muitas mulheres são as únicas responsáveis pelos filhos e o medo de não poder oferecer o mínimo a eles aterroriza qualquer mãe”, avalia.

Há também outros fatores. Infelizmente as mulheres ainda têm que batalhar para ingressar e se manter no mercado de trabalho. O desemprego, especialmente em épocas tão instáveis como a atual, pode ocasionar grandes lacunas na vida profissional, fazendo com que o reingresso ao trabalho seja dificultado, ocorra mediante condições de trabalho e salário inferiores às anteriormente conquistadas ou mesmo através da informalidade. “As mulheres tendem a pensar de forma mais coletiva e não temem somente por si, mas por todos que dela dependem, isto amplifica o medo feminino”, afirma Ana.

Cenário reforça o papel do RH

Dentro do cenário de temor sobre o desemprego no país, a área de Recursos Humanos ganha destaque. Apesar das dificuldades de aprender sob condições tão adversas, de acordo com a professora, os profissionais do ramo tiraram valiosas lições neste contexto tão desafiador e doloroso. Dentre elas, o desenvolvimento da inteligência emocional, ampliação da empatia, aceitação da vulnerabilidade e resiliência. “Percebo que o papel de RH envolve ainda mais profissionalismo. Vamos procurar engajar as pessoas mas não podemos dar muitas garantias; temos que participar de tomadas de decisões difíceis, mas temos que fazê-las com ética e respeito; precisaremos criar a melhor experiência para os colaboradores, equilibrando com possibilidades que permitam a manutenção do negócio, enfim, um papel paradoxal, mas que é próprio da área”, ressalta.

Para a profissional, dentro do possível, a área de RH deve criar espaços de diálogo, troca de experiências, ações voltadas à saúde física, mental, emocional e espiritual. “Precisamos de ambientes de trabalho mais humanizados e empáticos. Aos que forem desligados, a área de RH também pode oferecer algum tipo de apoio como por exemplo, auxiliar na atualização do currículo, dar dicas para futuras entrevistas ou oferecer recomendações”, indica. 

Apesar das dificuldades, o ano que se inicia é também de boas expectativas. “A existência da vacina traz uma expectativa positiva, mas sabemos que a sua aplicação para a maioria da população ainda deverá demorar, portanto, não é algo que no curto ou médio prazo ocasionará uma mudança tão efetiva no que estamos vivenciando. Em uma perspectiva pessoal, penso que sempre devemos manter a esperança e uma dose de expectativa positiva sobre tudo, mas também é preciso atenção à realidade e respeito à ciência”, finaliza a professora.

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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