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9 meses de home office: o que aprendemos durante este período?

Flexibilização das rotinas, mais comunicação e o uso da tecnologia já são alguns dos legados percebidos

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Um estudo elaborado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) aponta que 46% das empresas adotaram o home office durante a pandemia. Muitas delas não imaginavam a possibilidade de trabalhar neste formato e tiveram de se adaptar. Já são nove meses desde o início do isolamento social e a pergunta que fica é: o que aprendemos com o teletrabalho?

Para Juliana Rondon, gestora de Método e Relacionamento da Planus Escolhas de Carreiras, a flexibilização ditou as relações de trabalho de maneira geral. “Líderes com seus times, seus pares, líderes de alta gestão, que conduzem decisões estratégicas e que negociam com clientes e fornecedores: todos estes precisaram flexibilizar a forma de entender o que é verdade e o que é o certo”, afirma. 

A gestora lembra que, ainda em março, muitas questões permeavam nossas rotinas: seguimos pagando fornecedores? Trancamos projetos? Rescindimos contratos? Demitimos? Logo após isso, também os questionamentos sobre o funcionamento do home office. “O ser humano de forma geral precisou flexibilizar suas verdades em todas as áreas da vida. Mas, nas relações de trabalho, foi a ‘cereja do bolo’. Tivemos de mudar a forma que entendíamos produtividade, resultado, registro de processos, comunicação. Mudar também os rituais normais, como número de reuniões, como fazer feedback… Mas o mundo do trabalho precisava muito de maior flexibilidade”, opina Juliana.

Mais tecnologia, menos comando e controle

Para Juliana, o uso da tecnologia é um dos elementos que as empresas não poderão abrir mão daqui pra frente. “Porém, a questão dos processos e da forma de comunicação não é uniforme. Apesar de pouquíssimas empresas passarem isentas, não foi um homogêneo - cada uma evoluiu na sua velocidade, dentro da sua realidade”, explica a gestora. “Quem já tinha uma predisposição ou quem já estava no formato mais interessante de comunicação, de flexibilização e de utilização de processos desconstruídos, de times mais em trabalho em rede com menos comando e controle, evoluiu absurdamente. Já quem estava muito comando e controle, era industrial, acredito que tiveram também um grande impacto e precisaram questionar muitas coisas e aprenderam sobre as possibilidades do ser humano”, aponta.

A profissional acredita que, as práticas de comando e controle, da era industrial e que ainda estão dentro de muitas organizações sofreram mais um grande impacto com a pandemia. “Se viu que essas práticas antigas não são inteligentes. Por exemplo, controlar quanto tempo se faz um cafezinho ou quanto tempo a funcionária fica no banheiro se maquiando. Não é isso que importa, e sim o quanto ela entende o papel dela e o quanto ela está se entregando para aquilo que ela faz e se esforçando dia a dia para evoluir”, afirma Juliana. 

Como viver o home office da melhor maneira

Rotina e exceções: duas palavras-chave para viver o home office com harmonia. “Independente da área, todos precisam entender quais são suas ‘entregas chave’, ou seja, aquelas que sempre se mantém, independente da situação e aquilo que é emergente, daquele momento. Eu sempre sugiro que se prepare a semana antes do dia. Ou seja, eu vou pensar na próxima semana na sexta-feira e não na segunda. É interessante que eu chegue na segunda-feira já sabendo como vai ser a minha semana e o meu dia”, indica. “Lembrando que planejamento não é para enrijecer, mas sim dar mais flexibilidade”, ressalta. “Essa organização ajuda também para quando surgem imprevistos. Afinal, se eu nem sabia o plano anterior, sou obrigada a começar a ‘apagar incêndio’ e essa sensação constantemente não é saudável”, complementa.

Outro ponto importante é a comunicação. “Ela precisa cada vez mais da fala e do detalhamento. Quando a gente não pode fugir da escrita, ela tem que ser muito detalhada e a comunicação viva precisa englobar pensamentos e emoções. Não é só de razão que se faz o fluxo da comunicação”, ressalta Juliana. 

Qual mãe ou pai não teve seus filhos ao fundo das reuniões virtuais? As combinações entre a família também são um elemento importante no trabalho remoto, principalmente em uma casa com crianças. “Uma dica é ter sinais em casa, por exemplo: quando os pais colocam o abajur em tal lugar, é porque estão em reunião e não podem ser interrompidos”, indica. Para Juliana, também é preciso naturalizar estas situações. “Não é preciso ficar constrangido quando a criança aparece na tela, pois faz parte. Em uma casa com mais pessoas, isso eventualmente vai acontecer”, ressalta.

Um último ponto trazido por Juliana, é o equilíbrio entre momentos de concentração e distração. “É fundamental que a gente possa estruturar hábitos de concentração e hábitos de distração. Por exemplo, se afastar do celular, fechar o whatspp no computador quando não pode responder - avise as pessoas, olhe a cada uma hora e não a todo momento, como costumamos fazer. Quando se está almoçando, não ficar olhando para a tela do computador. E quando voltar ao trabalho, não interromper este momento”, destaca. “Estando em casa, a tentação de levantar e ir pegar algo no armário acontece, mas é preciso respeitar os limites que a gente mesmo estabeleceu”, complementa.

Flexibilização não é desordem, assim como planejamento não é rigidez. “É preciso relativizar os conceitos. A concentração é como se fosse um mergulho: para se atingir profundidade, é preciso seguir no mergulho. Quem mergulha e logo depois volta para a margem, não atinge a profundidade. Ou seja, cada vez que a gente levanta ou abre outra tela no computador que não a do trabalho central, no momento que reservamos para a concentração, estamos voltando para a margem. As pessoas precisam mergulhar em momentos de concentração para que sua produtividade e performance tenham consistência”, finaliza. 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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