Como economizar no dia a dia e fazer seu dinheiro render mais?

Sim, a conta do mercado está bem mais alta. O botijão de gás ou o tanque de combustível do carro também. Assim como o custo da corrida de Uber, o preço das passagens, as roupas... Mas como chegamos até aqui?

Para explicar essa situação, a economista e professora da Universidade Feevale Lisiane Fonseca da Silva faz uma breve linha do tempo. “No início da pandemia, em 2020, tivemos uma queda muito brusca de consumo, tanto de pessoa física quanto de pessoa jurídica: por exemplo, passamos a usar menos transporte público e privado e mudamos o perfil de alimentação, pois quem costumava comer fora por causa do trabalho passou a cozinhar em casa ou pedir entregas de comida”, recorda. 

Lisiane frisa que, nesse primeiro momento, não sentimos uma alta nos preços porque o mercado se autorregulou durante essa fase de adaptação aos novos perfis de consumo.Já no final de 2020 e início de 2021, a economia global começou a retomar o ritmo. 

“Nesse momento, enfrentamos um desalinho entre demanda e oferta das commodities como aço, petróleo, soja e café. Com um maior consumo global e uma menor oferta, enfrentamos a primeira pressão de alta nos preços, que são calculados em dólar e regulados pelo mercado internacional”, detalha.

Para completar a instabilidade nos preços, a Guerra na Ucrânia, agora em 2022, envolve dois países que são importantes fornecedores de petróleo (Rússia), milho e trigo (Rússia e Ucrânia). “Os dois países abastecem várias nações mas, como o conflito dificulta a saída das mercadorias dos seus territórios, os clientes tiveram que buscar por insumos em outros países, que já têm seus clientes. Essa reorganização do mercado causa mais uma alta nos preços”, afirma.

Por que certos produtos são mais caros?

Uma dúvida frequente, segundo Lisiane, é por que as coisas estão caras mesmo sendo produzidas no Brasil. “Realmente, somos um dos maiores produtores de soja do mundo. Se eu exportar, ganho um valor X, em dólar. Para eu optar por vender internamente, preciso ter um preço que compense, que seja equivalente ao preço externo”, detalha. A economista lembra que, para o Brasil, ainda há o agravante de as commodities terem seu preço calculado em dólar. E quando o câmbio está alto, os produtos se tornam caros”, resume. 

Lisiane resume que, a curto prazo, não há uma grande mudança prevista. “Com exceção da guerra, a gente sabe que os outros fatores que impactam na economia têm um prazo para ocorrer: a eleição é no fim do ano, o câmbio depende também de decisões internacionais. Eu sempre comparo a economia ao jogo de dominó: a gente joga alinhando as peças e quando mexer uma, vai movimentar as outras”, finaliza.

Dez dicas para economizar no dia a dia

Se você percebeu que a sua renda está achatada, seja pela perda inflacionária ou por algum reajuste de salário em decorrência da pandemia, é importante ficar atenta às questões econômicas. Globais, essas dificuldades (infelizmente) não devem se resolver em um curto prazo, por isso pedimos para Lisiane nos orientar com 10 dicas para ajudar você a usar melhor o seu dinheiro e economizar no dia a dia.

1. Independente da sua idade, você precisa ter uma organização do seu orçamento. O controle pode ser feito em uma planilha do Excel, em um aplicativo ou em um caderno... O importante é ter a referência do quanto você ganha e do quanto e como gasta seu dinheiro. Ao monitorar as despesas, você identifica o aumento de uma despesa e pode entender o que aconteceu (e evitar que ela continue aumentando) e, se o orçamento ficar apertado, consegue definir melhor onde ajustar para não ficar no vermelho.

2. Trabalhe com listas de compras, seja a do mercado ou qualquer outro item que você precise comprar (roupas, livros, um perfume...). Fazer a lista vai dar uma noção de limite e necessidade. Por exemplo: se esfriou e você precisa de um casaco mais grosso, quando sair para comprar terá consciência do que precisa e, se derrapar e se exceder, saberá que teve um gasto extra e vai ter que ajustar outra despesa. A lista dá uma percepção de prioridade e ajuda a ranquear o que se precisa e organizar no orçamento. 

3. Antecipe a programação de compras de maior valor, especialmente de eletrodomésticos. Claro que podem ocorrer emergências, como o clássico "estragou, preciso repor". Mas se você sabe que vai precisar trocar um equipamento em breve, pode começar a juntar o dinheiro para negociar na hora da compra, ter desconto por pagar à vista, tentar um frete grátis...

4. Tem crianças em casa? Muitas escolas e clubes já instituíram sistemas de trocas e venda de peças usadas. Pode ser de roupas diversas, uniforme e material escolar... Claro que é fundamental avaliar a qualidade das peças e negociar com os outros pais para que todos possam aproveitar melhor os itens.

5. Já visitou um brechó? Até alguns anos atrás nem todos viam estes comércios com bons olhos, mas hoje bons brechós oferecem produtos interessantes por bons preços. Vale conferir se aquela roupa que você precisa não é a peça que alguém não usa mais.

6. Sempre avalie a necessidade de uma compra. A economia não explica o "eu mereço" e normalmente é nessas compensações que o orçamento estoura. 

7. Ter um controle orçamentário ajuda a viver com mais tranquilidade e permite gastos mais prazerosos. Uma boa ideia é ter objetivos futuros - como uma viagem, a compra de um bem de maior valor, uma reserva de emergência – que vão ajudar a organizar e a repensar na hora de gastar. 

8. O cartão de crédito precisa ter um controle diário, porque é um gasto que só aparece no mês seguinte. Muitas vezes você vê o saldo em dinheiro no banco e não lembra que parte dele já está comprometido com cartão de crédito. Isso vale também para o débito em conta: você precisa incluir no controle do orçamento para saber que aquele dinheiro vai sair da conta em breve.

9. É fundamental conversar sobre dinheiro, seja em casa ou nas escolas. Se for falar com as crianças, use recursos lúdicos para mostrar a elas como se usa o dinheiro, o que são os gastos, por que economizar...

10. Fique mais atenta às promoções e às sazonalidades. Aquele período do mês em que as pessoas recebem seus salários (normalmente do dia 30 até por volta do dia 10) normalmente tem menos promoções e ofertas, pois as pessoas têm mais dinheiro disponível. Da mesma forma, como o churrasco é um hábito do gaúcho, entre sexta e sábado normalmente não há promoção de carne – mas no início da semana, sim. Na hora das compras, é simples: encontrou um produto que você costuma comprar com um preço bom, compre e guarde.