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Dia do Empreendedorismo Feminino: o que caracteriza as mulheres empreendedoras

Na data que celebra a importância das empreendedoras, convidamos várias profissionais a nos contatem como as mulheres fazem negócios

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O mundo dos negócios já foi um ambiente exclusivamente masculino e isso nem foi há muito tempo. Ver uma mulher à frente de uma empresa era raridade e valorizar as características e competências consideradas femininas, menos comum ainda. Com muito esforço, essa realidade tem mudado e hoje as mulheres ocupam cada vez mais espaços no mercado.

Uma pesquisa publicada pelo Sebrae, em 2019, a partir de dados levantados pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) apontou que 24 milhões de brasileiras empreendem em negócios próprios. Esse número coloca o Brasil na sétima posição no ranking dos países com o maior número de mulheres empreendedoras. 

Data destaca empreendedoras

Para destacar a importância da mulher no mundo dos negócios e valorizar seu papel como empreendedora, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 2014, o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino, celebrado neste 19 de novembro. 

Aproveitamos a data para falar melhor sobre características e particularidades das mulheres que fazem toda a diferença nos negócios. Para isso, contamos com a ajuda de algumas empreendedoras, como as cofundadoras da Sonata Brasil, escola de formação de líderes, Natalia Leite e Soraia Schutel.

Competências vistas como femininas

As educadoras explicam que competências normalmente atribuídas à mulher, como a empatia e sensibilidade, eram deixadas da porta para fora no mundo dos negócios, mas que, atualmente, são muito importantes na vida profissional, principalmente de quem empreende.

“O que nos trouxe até aqui, não nos levará adiante. O novo tempo em que vivemos requer cuidado, empatia e flexibilidade, habilidades que culturalmente aprendemos a associar ao feminino e que devem ser levadas para o ambiente de trabalho”, pontua Soraia.

Natalia complementa ao explicar que essas características, vistas como femininas, devem ser valorizadas: “Aprendemos que para ter sucesso é preciso disciplina, raciocínio lógico, poder e controle. E está certíssimo. A questão é que deixamos de lado características como a intuição e sensibilidade, tão importantes quanto as demais. O jeito feminino de fazer negócios é aquele que rompe a lógica rígida, mecânica, e abre espaço para diversidade”, comenta.

Particularidades na visão de outras empreendedoras

Perguntamos para outras empreendedoras, de diferentes áreas, sobre quais características elas identificam nas mulheres que empreendem e qual a importância do empreendedorismo feminino. Veja o que elas responderam:

Daiane Peres Marchese, comanda a Plenna Farmácia de Manipulação

A farmacêutica e empresária Daiane Peres Marchese, há 8 anos comanda a Plenna Farmácia de Manipulação, em Porto Alegre. Seu dia a dia é rodeado de mulheres, já que 90% da sua equipe é feminina e a maior parte dos clientes também. "Meu olhar de mulher faz com que eu conduza meu negócio com uma visão mais dinâmica, mais atenta e aberta às mudanças do mercado. É emocionante ser mulher, pois fazemos várias coisas simultaneamente, somos mais ativas, mais apaixonadas, mais sensíveis. Certamente, tudo isso contribuiu para o sucesso do meu negócio", afirma ela. Seu trunfo como gestora é garantir um ambiente acolhedor e descontraído, através da flexibilidade e entusiasmo da equipe. 

Flávia Azambuja, divide a liderança da F2Conexões+Inovação

Já a administradora Flávia Azambuja, divide a liderança da F2Conexões+Inovação com um homem. E, nas suas próprias palavras, as visões diferentes dos dois contribuem positivamente para o resultado da empresa. “Tenho um sócio homem, então por ser mulher ajuda muito na operação da F2Conexoes+Inovação, pois, desta forma nos complementamos, temos visões diferentes e isso permite a multidisciplinaridade, a criatividade”, explica. 

O resultado é visto na prática: a empresa teve crescimento de mais de 70%, mesmo com a crise mundial envolvendo pandemia e guerra. Para Flávia, a jornada empreendedora tem seus desafios mas que são superados como o uso das características femininas a favor dos negócios. “Ser mulher é um dom que somente nós temos, use a seu favor!”, finaliza.

Maria Caroline Palma, criadora da Cão Urbano

Maria Caroline é formada em análise de sistemas e trabalhou na área por 15 anos, até que em 2013, começou a pensar na possibilidade de largar a TI e empreender. Após fazer um curso para se capacitar como dogwalker (profissional especializado em fazer caminhadas com cães) nasceu a Cão Urbano, atualmente referência na área em Novo Hamburgo.

A profissional enxerga no empreendedorismo uma forma da mulher se tornar protagonista e conquistar sua independência e ressalta também algumas características que identifica nas empreendedoras: “Acredito que as mulheres são mais preocupadas com o impacto da sua empresa na comunidade. Além de serem mais comprometidas e detalhistas com os produtos ou serviços entregues, sempre atentas às necessidades reais de seus clientes”, afirma.

Daniela Maciel, à frente do Armazém Leopoldo

Formada em comunicação, Daniela também percebe uma complementaridade entre ela e seu parceiro de negócios. Enquanto ele fica focado nos números, a empreendedora assume a parte criativa. “Márcio é formado em administração, ele tem o pé mais no chão, lida com os números, cuida da questão de quantidade, de produto, de investimento. Eu gosto de trazer novidades, lido melhor com a questão das propagandas e do relacionamento com o público”.

Essa criatividade é inclusive uma característica que Daniela atribui às mulheres. “Eu acredito que elas são mais criativas e resilientes. Errou? Vai atrás e busca novas soluções. Eu também acho a gente mais organizadas e uma outra característica bem destacada do masculino, é que a gente está sempre aprendendo”, pontua.

Sabrina Becker, criadora da Massa Magra Confeitaria Inclusiva

Para Sabrina, criadora da Massa Magra Confeitaria Inclusiva, o final do ano é sempre um período de muito trabalho. É preciso dar conta de muita coisa ao mesmo tempo e essa capacidade de ser multitarefas e “imparável” é, para ela, uma das principais habilidades das mulheres.

“Nada é capaz de parar uma mulher quando ela quer alguma coisa. Também acho que a gente consegue ter uma visão macro e micro que - não que o homem não tenha -, mas que a gente, por ser multitarefa e conseguir fazer mil coisas ao mesmo tempo, consegue perceber melhor. Ao mesmo tempo, acho que a mulher tem uma sensibilidade maior, consegue perceber mais as necessidades, tanto do cliente quanto do mercado e analisar de fora o que que está acontecendo, percebendo novas possibilidades de negócio”, destaca.

Sobre a importância do empreendedorismo feminino, Sabrina fala da oportunidade das mulheres finalmente explorarem seu potencial. “A mulher tem um poder que por muito tempo foi guardado né? Abafado, sufocado. Eu fico muito feliz em ver que a gente está numa época em que a mulherada está vindo pra jogo, descobrindo seus poderes, o seu potencial”, complementa.

Empreender ajuda a promover a igualdade

De acordo com a colíder da Filial Regional do Instituto Capitalismo Consciente Brasil no Rio Grande do Sul (ICCB-RS) e pesquisadora sobre o empreendedorismo feminino, Eliane Davila, o ato de empreender tem sido um mecanismo para a promoção da paridade de direitos às mulheres e oportuniza a elas gerarem renda para si, tornando-se protagonistas de suas vidas. 

Sobre a forma como as mulheres empreendem, Eliane comenta: “Gosto de pensar que as mulheres trazem consigo uma forma diferente de se relacionar com seus empreendimentos. Trazer a mulher para o empreendedorismo é inovar. Isso é bom para a economia, bom para a sociedade e bom para o planeta. Minha experiência como pesquisadora da temática me leva à hipótese de que a presença feminina no empreendedorismo ajuda a construir um mundo mais sustentável, consciente e equânime”, afirma. Entre as características femininas presentes nas mulheres e destacadas pela especialista, estão a autonomia, criatividade, empatia e colaboração.

Eliane faz ainda uma reflexão sobre o envolvimento de todos na construção de uma sociedade mais justa. "Por muitos anos, a mulher não teve voz no mundo do trabalho, nem sequer podia votar ou ter uma conta em banco no seu nome. Contudo, pensar que o empreendedorismo possa trazer uma alternativa sustentável ao enfrentamento das desigualdades de gênero, requer a participação, coletiva e responsável, de homens e mulheres", conclui.


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