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Nara Sonallio dedica seus dias a ajudar crianças carentes de Porto Alegre e região

Gaúchas que servem de modelo a toda terra

Nesse 20 de setembro, conheça 3 gaúchas que nos enchem de orgulho e que fazem a diferença na sociedade

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Setembro é um mês especial para os gaúchos. Especialmente no dia 20, gostamos de lembrar o que há de melhor no nosso Estado. Por isso, o Bella Mais traz a história de três mulheres inspiradoras e que fazem a diferença em suas áreas de atuação aqui no Rio Grande do Sul e tornam a terra dos gaúchos um lugar melhor. 

O mundo colorido de Josiane

“Apesar de estar no escuro, tenho comigo que minha vida é colorida, porque assim a desejei e a tornei”. Para Josiane França, tudo na vida é questão de escolha e a dela foi essa: viver de forma colorida. Há 12 anos, ela adquiriu a deficiência visual cega por conta de uma meningite, logo após ganhar o segundo filho, Rodrigo. Após cinco meses no hospital para o tratamento da doença, depois de receber alta, Josiane ainda levou um tempo para entender que ainda estava viva e que existiam razões para seguir em frente. Dentro deste novo entendimento, uma das decisões tomadas foi levar sua filha, Jenifer, para fazer um curso de modelo. Jenifer acabou desistindo da formação, porém, a procura não foi em vão: o professor do curso convidou Josiane para fazer as aulas. Ela foi a primeira aluna cega da escola, onde segue até hoje. Na passarela, nada de óculos escuros e bengala, mas sim maquiagem e salto alto, como qualquer outra modelo. “Eu e meu professor conseguimos mostrar que isso é possível. Que nós, pessoas com deficiência também nos vestimos, também compramos, também gostamos de estar bem arrumados. Agradeço a oportunidade que ele me deu de hoje ser uma modelo tanto de fotografia quanto de passarela”, declara.

Josiane concilia a carreira de modelo com a participação em movimentos sociais. É coordenadora de comunicação do Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão. “No grupo, trato de beleza, postura, elegância, ou seja levo o que aprendi e sei para essas mulheres. Sempre para elevar a estima delas e fazer com que entendam que não é por sermos cegas que não vamos nos cuidar e usar as tendências que estão na moda. Eu penso que a moda é para todas e todos, inclusive nós mulheres com deficiência visual”, explica. Também faz parte do Movimento Feminista de Mulheres com Deficiência - Inclusivass, de Porto Alegre, que engloba todas as especificidades de deficiência. Para Josiane, faltam oportunidades no mundo da moda para pessoas como ela. “A questão não é que não somos capazes, mas sim porque as pessoas não estão preparadas para nos receber. Todo mundo tem corpos diversos e todos devem ser contemplados no mundo da moda. Nós usamos roupas, como tantas outras pessoas. E tenho certeza que quando tivermos a nossa representatividade das pessoas com deficiência, esse mundo de fato será inclusivo. Almejo o dia que aconteça um Fashion Week inclusivo e eu quero estar lá - desfilando ou na plateia”, diz a modelo. “Os problemas e obstáculos aparecem, mas a maior força que podemos buscar pra driblar isso é a que temos dentro de nós mesmas”, é o recado dela para as outras mulheres.

Descrição da foto: a modelo Josiane aparece sorrindo de cabelo solto , maquiagem natural e um colar de bolas coloridas em tons de vermelho. Ela está com um vestido preto e por cima uma jaqueta reversível com tecido de chita interno nas cores verde e vermelho e xadrez preto e vermelho na parte externa, fazendo um mix de estampas. Ela usa também um cinto obi, estilo faixa larga forrada na mesma chita da parte interna da jaqueta e está sentada, posando com as mãos na cintura. 

 

O vício em ajudar crianças de Nara

“Sou uma ponte entre as pessoas que querem ajudar - e são muitas - e as que querem receber, que são milhares de crianças”. Por algum tempo, a paranaense Nara Sonallio se perguntava o que tinha vindo fazer em Porto Alegre, longe da família e amigos. Há 5 anos, descobriu. Após passar mais de 20 dias trabalhando junto a Defesa Civil no Ginásio Tesourinha como voluntária, teve a ideia de fazer uma campanha arrecadação de brinquedos entre seus amigos naquele Natal de 2015 para as crianças que haviam voltado para as suas casas nas comunidades de Porto Alegre. Ela fez questão de acompanhar a entrega. A partir desse momento, ela entendeu que não conseguiria mais deixar de fazer ações deste tipo. Foi aí que nasceu o projeto Criança Mais Feliz. “O mais difícil é chegar nessas comunidades, pensar de que forma chegar. Mas depois que se começa a fazer, se torna completamente viciante. Sou viciada nas ações do Criança Mais Feliz”, declara. E ela faz questão de destacar que não está sozinha no “vício”. “Sem a minha rede de voluntários não seria possível. Tenho pessoas que estão comigo desde o início. Pessoas das mais diversas profissões e classes sociais, que são unidas com um único propósito que é de ajudar essas crianças. Todo mundo carrega em si uma necessidade de ajudar e não sabe como e o Criança Mais Feliz dá essa oportunidade”, relata.

Desde o início do projeto, já foram mais de 20 mil crianças atendidas e mais de 250 mil itens doados. As ações realizadas são grandiosas, para mais de 700 crianças - englobam comunidades inteiras. Elas tiveram de ser reestruturadas por conta da pandemia, mas a rede de solidariedade não mudou: no mês de maio, foi lançada a primeira campanha de arrecadação de alimentos. Em 35 dias, foram arrecadadas cinco toneladas de alimentos e dois mil litros de leite. “Ser idealizadora do projeto é a missão da minha vida. Tenho certeza que muitas crianças ainda passarão por nós e nós na vida delas. Hoje sei o real significado da palavra altruísmo: é fazer sem esperar absolutamente nada em troca. E essas crianças, na sua maioria das crianças também não espera nada de nós. Quando chegamos nas comunidades, a expectativa delas é que a gente brinque com elas e dê um abraço”, relata. Após meia década de atuação, o projeto agora vai virar ONG: Instituto Criança Mais Feliz RS. “Sou muito feliz em saber que hoje faço a diferença na vida dessas crianças. Por isso decidi criar a ONG, para poder receber ajuda da rede de empresários, pois precisamos de uma sede para o projeto para termos espaço para organizar as doações”, explica. “Nós não atendemos crianças carentes, porque carentes todos nós somos de alguma coisa. Nós atendemos crianças em situação de vulnerabilidade social”, destaca.

O empoderamento empreendedor de Camilla

“O empreendedorismo empodera as mulheres, a partir do momento que elas se sentem capazes de gerir seu próprio negócio e começam a adquirir sua independência e autonomia financeira”. Camilla Duncan não se contentou em ser umas das 24 milhões de mulheres que empreendem no Brasil. Há quatro anos, lidera o Relações Positivas, um projeto voltado para profissionais liberais, autônomos e empreendedores, que como objetivo de conectá-los através de troca de conhecimento em palestras e eventos e mentoria. 90% do público atendido pelo Relações Positivas é composto por mulheres. Isso motivou Camilla a pensar em uma mentoria voltada para este grupo. Ela ressalta: as mulheres são guerreiras, mas precisam de orientação. “Precisamos ter conhecimento em várias áreas pro negócio dar certo: gestão, custos, marketing. O empreendedorismo feminino vem crescendo no país e cada vez mais para se ter sucesso é preciso estar sempre se qualificando. O aprendizado é constante, por isso estou sempre motivando elas a estudarem e a se desenvolverem. Que elas empreendam na área que se identificam e sejam apaixonadas pelo que fazem”, declara.

Para muitos, abrir o próprio negócio é considerado uma ato de loucura. Durante estes dois anos como mentora, Camilla viu que muitas vezes as mulheres não recebem o apoio necessário, nem dos próprios familiares, que se assustam quando elas escolhem o caminho do empreendedorismo. E é justamente nesse contexto que cresce a importância de uma rede colaborativa. “É fundamental que elas conheçam outras mulheres que estejam na mesma situação e percebam que não estão sozinhas. Os desafios são e dificuldades são semelhantes entre todas. Muitas vezes o negócio não dá certo por questões pessoais e emocionais”, conta. Para a profissional, o segredo é trabalhar o autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, competências e habilidades. E o mais importante de tudo: “acreditem em si mesmas!”, é o recado final de Camilla.

 


 

 

por Mariana Nunes

Mariana Nunes é jornalista. Ama café, praia, chocolate e futebol - não necessariamente nessa ordem. É torcedora fervorosa do Internacional e repórter do Bella Mais. @a_marinunes


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