A fome que grassa no continente

A fome que grassa no continente

A sociedade e os governantes não podem naturalizar a questão da fome porque ela é uma ameaça ao regime democrático, pois ele perde sua legitimidade ao não garantir à população o mínimo para uma sobrevivência digna.

Correio do Povo

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Alguém já disse uma vez que quem tem fome tem pressa, porque não é humanamente concebível que um ser humano possa ser privado no seu cotidiano de algo tão essencial para sua sobrevivência como a alimentação. A falta de comida, com tudo o que ela pode representar de deletério e de desagregador para qualquer sociedade, atinge hoje cerca 43,2 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe, de acordo com um levantamento do Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição na América Latina e no Caribe 2023, elaborado por cinco agências do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas as notícias ruins não param por aí. O montante catalogado em situação de insegurança alimentar moderada ou grave chega 247,8 milhões de pessoas da região. No Brasil, a situação que já foi razoável em termos de combate à condição famélica, hoje demanda novas ações para reverter um quadro que não chega a ser diferenciado em relação às regiões mais pobres do continente.

Essa realidade de escassez de alimentos na mesa das famílias é extremamente grave e exige a implementação de políticas públicas que gerem emprego e renda, que barateiem a cesta básica e que encurtem o caminho entre fornecedores e consumidores. Também é muito importante o incremento no trabalho voluntário, pois atualmente o panorama só não é pior por conta da solidariedade existente entre os diversos segmentos sociais, o que se ilustra por diversas campanhas de arrecadação e distribuição de itens alimentares.

A persistência da fome e da subnutrição é uma ameaça concreta à democracia, que pressupõe cidadãos e cidadãs com um mínimo de dignidade no dia a dia. É por isso que os governantes e a coletividade precisam estar atentos para reverter esse quadro adverso e propício ao fomento de instabilidades e de injustiças. Os mais pobres têm de estar no orçamento dos países, com investimentos que priorizem o bem-estar da maioria hoje negligenciada. 


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