Dirigindo pela Pensilvânia, na semana passada, vi um outdoor com a frase: “sem combustível fóssil, sem eletricidade. Acorda, América”. Esse é retrato do pragmatismo americano. Os Estados Unidos possuem a maior reserva de combustível fóssil do mundo, com seu carvão representando 26% das jazidas mundiais. Hoje, são os maiores produtores de petróleo e gás do mundo e estão entre os cinco maiores fornecedores de carvão. Por isso, têm uma das energias mais baratas do planeta, o que permite a sua neoindustrialização.
Essa nova fase está ligada a indústrias consumidoras de energia firme, como os data centers que movimentam a inteligência artificial e contam como maiores investidores as big techs, pilares do crescimento digital. Somente a Apple vai investir, nos próximos anos, cerca de 600 bilhões de dólares em solo americano. Atender à demanda de eletricidade de forma segura é vital para essa política pública, que usa como instrumento de análise econômica o impacto dos projetos no emprego e na renda.
Em conversas com o órgão ambiental da Pensilvânia, tive discussões sobre a flexibilização de regulamentos ambientais. Com regras mais racionais e transparentes, é possível desenvolver tecnologias e extrair terras raras das estações de tratamento de drenagem ácida, do passivo ambiental da antiga mineração de carvão. Hoje, as terras raras são os metais mais cobiçados do mundo e sua produção é uma questão de segurança nacional.
Não existe eletricidade limpa sem minerais. Não há preconceito com a indústria “hard”, como a mineração, e muito menos com atividades que gerem emprego e renda, desde que atendam à rígida legislação ambiental. O foco são as pessoas, o emprego, a renda e o meio ambiente. Vi também cidades em que a siderurgia foi desativada e as comunidades sofrem para se manter, pois não houve planejamento para substituir a atividade.
Isso nos lembra o que aconteceu em Charquedas, aqui no Rio Grande, quando a usina térmica foi desativada e a região empobreceu. É importante saber que o pragmatismo pode e deve se sobrepor à visão ideológica baseada em narrativas externas. Para isso, é preciso ter foco nos resultados reais de políticas públicas, com visão no seu território, olhando seus recursos econômicos e a população. A indústria “hard” da mineração e da energia está na base da indústria “light”. A atenção nas pessoas passa pela análise econômica e social, sem relevar os aspectos ambientais.
O olhar sobre os impactos de cada projeto, calculados por métodos e modelos econômicos, deve ser a base de políticas públicas. Um elétron gerado por uma térmica a carvão tem muito mais impacto no emprego e na renda do que um projeto solar ou eólico. Nós, gaúchos, sempre atentos às modernas narrativas, temos de ser pragmáticos e aptos para as mudanças que possam viabilizar a retomada de nossa economia. Não podemos colocar as narrativas externas acima de nossa realidade e da nossa gente.