Quando decai a civilização

Quando decai a civilização

Uma análise crua e incisiva sobre a natureza do terrorismo, sua motivação obscura e por que a busca de soluções racionais é crucial para evitar mais derramamento de sangue.

Sergio Lewin

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Diante de repetidos e inomináveis atos de selvageria, surge a pergunta: a humanidade um dia aprenderá algo? Diante desses atos, logo corremos atrás de explicações, em uma tentativa desesperada de compreender e eliminar suas causas, para que não voltem a ocorrer. Ora, somente problemas racionais podem ser resolvidos por vias racionais e sem derramamento de sangue. Quando as causas não são racionais, não há solução possível. 

Usamos nossa métrica de cidadãos civilizados para entender como funciona a cabeça de pessoas cegas e fanatizadas, o que é infrutífero e contraproducente. Muito já se tentou justificar as ações de grupos terroristas na palestina como uma tentativa de recuperar territórios ocupados. Quando atentados terroristas começaram a ocorrer em países que nada têm a ver com o conflito, sob razões e justificativas vagas e genéricas, ficou claro que o problema é bem mais profundo. Cobra-se de Israel que resolva o conflito com a criação de dois estados − ideal plenamente justo e razoável − como se com isso fosse possível amainar a sanha assassina de radicais que querem a destruição final de Israel e de seu povo. Não é possível: uma melhor partilha dos territórios não é a causa do problema e por esta mesma razão não poderá ser a sua solução. Arrisca-se a dizer que nem mesmo entregando o território inteiro de Israel a esses movimentos o ódio genocida cessará.

O seu objetivo é não menor do que tingir o planeta inteiro com as cores sangrentas de sua bandeira e enquanto isso não ocorrer qualquer tentativa de diálogo será apenas mais uma forma de capitulação e de impedir o aparecimento de lideranças com quem se possa conversar. Quando o interlocutor escarnece com a vida alheia, com a sua própria e com a de seus filhos, estão ausentes as condições básicas civilizatórias, tratando-se de uma marcha em linha reta em direção à morte.

O terrorismo, sob as vestes da ideologia e da religião, já matou milhões e continuará matando. Já devíamos ter aprendido que transigir com inimigos da civilização não é se aproximar da paz, mas da autodestruição. Devemos tratá-los como o que são: criminosos que atentam contra a humanidade. Que não merecem diálogo, mas reação implacável. E quem relativiza o terror está também com as mãos sujas de sangue. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895