Um consolidador

Um consolidador

Todavia, legou imensa herança de cunho moral e ilimitada benemerência.

Thiago Roberto Sarmento-Leite

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Através de inúmeros festejos, vêm sendo celebrados os 125 anos da Fundação da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, Instituição que, juntamente com a Faculdade de Direito e a Escola de Engenharia, se constitui como parte do “tripé” originador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em tais ocasiões, sempre tem sido destacada a personalidade ímpar do prof. dr. Eduardo Sarmento Leite da Fonseca. Sem qualquer dúvida, plenamente justificadas as homenagens a Sarmento Leite (como ele se nominava e também passou a ser referido por seus contemporâneos e pósteros). De fato: sobre a existência e feitos de Sarmento Leite, muito tem sido escrito e divulgado, bem dando a amplitude de sua obra em geral e na consecução do ensino médico. Portanto, a validar o permanente culto à sua memória. O que cresce de significação, quando considerada a circunstância de que tributadas à pessoa não mais viva e já transcorridas quase nove décadas de seu falecimento.

Então, no exame da personalidade de Sarmento Leite, afora a qualificação como médico-cirurgião notável, salientam-se diversas importantes funções em prol da comunidade. Realmente, apesar de sua curta existência (falecido aos 67 anos), teve consagração por firme e produtiva atuação em diversos setores, caracterizando-se como autêntico visionário e o maior obreiro do ensino médico. Sempre determinado à concretização de seus ideais: com altruísmo inabalável, foi até à renúncia de conveniências pessoais e a interesses profissionais e inclusive aos de plano financeiro-patrimonial. Todavia, legou imensa herança de cunho moral e ilimitada benemerência. Por força de suas virtudes e coerência inalterável, seus insuperáveis exemplos têm resistido ao tempo, jamais sendo esquecidos pelas gerações que o sucederam. Donde, constantemente apresentados preitos de respeito e admiração, provindos de variadas procedências, sejam nos âmbitos sociopolítico-administrativos, sejam nas áreas médico-científica-educacional-culturais. Ficou registrado que, por sua imbatível ação em defesa e manutenção (em momentos de reais e graves vicissitudes) da faculdade que tanto amou e pela qual se sacrificou ao extremo, passou ela a ser, carinhosa e deferenciosamente chamada, por todos, de Casa do Velho Sarmento.

Sim, com toda certeza, muito mais que mero cofundador, é unanimemente, porque tudo que por ela entregou e por ela se doou, tido como o lídimo consolidador da Faculdade de Medicina. Por todos títulos e razões, hoje brilhante e relevante unidade integrante da exponencial Ufrgs. Em verdade, lícito enfatizar, por tudo ante a obstinação ilimitada e permanente defesa de Sarmento Leite na afirmação do ensino médico.

Porquanto, ao par do exercício como inolvidável e admirável titular da cátedra de Anatomia Descritiva, foi diretor por vinte anos (“sempre reconduzido por necessidade da instituição e merecimento pelas realizações”). Entre outras, construiu o belo prédio da faculdade, criou excelentes institutos para melhor ensino-pesquisa, estabeleceu estreito entrosamento com a Santa Casa de Misericórdia (ao dinamizar enfermarias) e tornou-a excelente hospital-escola”, além de inúmeras outras realizações a partir de sua liderança ímpar e tudo sob integral e genuína dedicação. Donde, por irretocável e exemplar devotamento à medicina e ao ensino médico e inquestionável decisivo desempenho na consolidação da Faculdade de Medicina e na formação de legiões de médicos de renome, não só no Estado como nacional e mesmo internacionalmente, Sarmento Leite está cognominado no Panteão Médico do Rio Grande do Sul como Patrono da Medicina e também do Centro Acadêmico da Faculdade, bem como de uma das cadeiras da Academia Sul-Riograndense de Medicina.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895