Agro: vocação e oportunidade

Agro: vocação e oportunidade

Essa visão agrega cooperação e desenvolvimento social, tornando-nos mais fortes e competitivos.

Francisco Turra

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Já é conhecida a antiga dicotomia que vive o agronegócio brasileiro: “da porteira para dentro”, muita produtividade, recordes e excelência; “da porteira para fora”, problemas estruturais que diminuem a competitividade e trazem riscos para o futuro. Hoje, poucas situações demonstram isso com mais clareza do que o apagão logístico e de armazenamento do setor. Se, por um lado, a produção de grãos e demais produtos agrícolas cresce a ritmo intenso, nosso país sofre com a falta de capacidade estática de armazenagem. O déficit já ultrapassa 100 milhões de toneladas. Com os armazéns lotados, verdadeiras montanhas de milho e de outras matérias-primas ficam expostas a temperaturas elevadas, à possibilidade de chuvas e a ataques de insetos e roedores.

Iniciativas que fazem frente a esse problema precisam ser incentivadas — não apenas pelo negócio em si, mas por tudo o que representam para o futuro do agro e para a própria sociedade. Como ministro da Agricultura e, depois, executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), tive a oportunidade de conhecer o mundo, os desafios, os gargalos, mas principalmente constatar o potencial brasileiro para alimentar o planeta. Ano a ano, as indústrias do setor se aprimoram e se modernizam num ciclo virtuoso de respeito à sustentabilidade e ganho de produtividade. O Rio Grande do Sul tem vocação para isso, e tenho acompanhado de perto — principalmente nas regiões produtoras — as enormes possibilidades e oportunidades. Vejo com bons olhos empreendimentos liderados por empresários locais que têm buscado atender à forte demanda de implementos agrícolas e a soluções relacionadas à armazenagem da produção. E nesse sentido governos municipais, Estado, lideranças políticas e empresariais precisam cada vez mais unir esforços, destravar amarras com responsabilidade para atrair e preservar investimentos numa área que vai garantir empregos, inovação e rendimentos para toda uma cadeia.

Vale lembrar ainda que a questão da armazenagem é um dos centros do Plano Safra deste ano, o que estimulará o financiamento a projetos nesse âmbito. Outro ponto relevante são os problemas de logística: um país gigante como o Brasil não pode ser refém de um único modal. Para além do transporte rodoviária, há opções que precisariam estar integradas à nossa realidade, como a maior utilização do ferroviário, fluvial e da cabotagem. Essa visão agrega cooperação e desenvolvimento social, tornando-nos mais fortes e competitivos. E, assim, seguimos também para nos orgulhar de nossas conquistas, não apenas dentro da porteira, mas também fora dela.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895