"Estar nesta superprodução é uma grande bênção”
O Caderno de Sábado entrevista o ator Marcelo Pio com 20 anos de carreira e papéis de destaque na TV e cinema
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Marcelo Pio celebra duas décadas de vida artística neste ano e está em diversas plataformas exibindo seus novos trabalhos. Na Record, após participar de “Gênesis”, ele ganhou papel na superprodução “Reis”. No streaming, faz sucesso em “Dom”, no Amazon Prime Video. E, no cinema, aguarda o lançamento de seu primeiro vilão com o filme “O que é meu é meu, o seu é nosso”. Ator versátil, produtor, diretor com ampla experiência no teatro, cinema e TV, transitou muito bem pelos diversos caminhos da arte em seus 20 anos de carreira. Em "Reis", da Record TV, interpretou Tamembér. A oportunidade na trama surgiu após a participação de Marcelo em "Gênesis". O ator foi convidado para um novo papel na Record. Ele comemora a sequência de novelas bíblicas na Record: "São experiências potentes e gratificantes.
Iniciaste 2022 com muitos motivos para comemorar. Além de celebrar duas décadas de carreira, após participar de “Gênesis”, tiveste papel de destaque em “Reis”. Tens como avaliar esses 20 anos de arte?
Nestes pequenos 20 anos de caminhada fui muito abençoado, trabalhei com os melhores, fui acolhido, "tratado" e direcionado para o melhor de mim. Sou muito grato a minha mãe Marlene Nunes, que sempre me apoiou. Eu, menino, a acompanhava nas aulas, na escola onde ela trabalhava, e nas apresentações de teatro. Minha mãe era uma exemplar professora, devo destacar, em Vila Muriqui, onde eu nasci. Sou grato a todos os profissionais artistas que colaboraram para que meus personagens viessem a existir. Nunca vamos fazer nada sozinho. Sou grato ao público e amigos que me acompanham com carinho e sempre dando forças para continuar. Sou grato aos parceiros que trabalham comigo e que multiplicam meu trabalho. Sou grato a todos os produtores, autores, diretores, atores e figurantes que pude ter uma troca de verdade. Sou grato a minha família, minha base, e ao público por ser a razão da gente lutar por cada personagem, ao teatro e a todos os personagens que fiz e os que virão. Acho uma missão linda e estranha poder viver vidas e colorir outras vidas que nos assistem. Sou grato a Deus pelo milagre dos artistas. Que venham mais 20 anos de arte e dedicação. Só estamos começando...
Em “Reis”, interpretaste Tamembér. Fala um pouco sobre o personagem.
Tamembér tem características bem específicas e sutilezas tênues que o distingue dos homens de sua época e do povo Filisteu. Ele é um apaixonado, vivo na vida, deixou muitos fãs e amigos com saudades.
Há alguma semelhança entre Tamembér e Marcelo Pio?
Sim, a paixão, o humor, a leveza e a indignação. Por que as coisas precisam ser tão injustas?
Como você avalia a participação em sequência de novelas bíblicas na Record?
É potente e gratificante fazer as histórias bíblicas. É a trajetória épica do homem e seu Criador, muitas e muitas histórias já provadas pela arqueologia, ciência e testificado pela história. Às vezes penso: "Estou com meu trabalho dentro da "Bíblia" - o livro mais lido e polêmico da História. A "Palavra de Deus" para a humanidade. Como ator, é uma oportunidade poder contribuir para que estas histórias cheguem da melhor forma para o nosso querido público, ajudar a inspirar. Soube que espectadores que estavam vendo, foram tocados e deixaram de tirar a própria vida. Forte isso. Está tudo ali na Bíblia: passagens, profecias, história das civilizações, a ética, os erros, quedas, superações, guerras, o mistério da eternidade e física quântica. Também há as "indicações que Deus dá ao homem sobre tudo" e sobre o futuro da humanidade. É necessário se aprofundar em toda esta riqueza desafiadora e contribuir um pouco para a melhora do ser humano na sua trajetória e a minha própria. Os cenários e figurinos me fizeram viajar no tempo e no espaço.
Existe algum tipo de preparação diferente de um papel em novela bíblica para um outro tipo de papel?
Esta foi a segunda vez que tive uma preparação com os preparadores (ótimos por sinal), Fernanda Guimarães e Antônio Gonzalez. A Record/Casablanca investiu muito na preparação de Reis. Trabalho delicado e pontual que conseguimos aprofundar os personagens e as relações, que fizeram toda a diferença no nosso trabalho. Mas a base do ator é estudar sempre, para um bom resultado. Quando se tem dedicação e paixão pelo trabalho acontecem milagres e inspirações.
Ainda sobre "Reis", o que você pode nos contar do seu personagem? E quais são suas expectativas quanto ao papel?
Tamembér é filisteu, ferreiro e informante dos nobres filisteus. Mas também tem uma relação forte com o povo hebreu. Ele tem um romance secreto na trama com a Ada (Giselle Tigre), grande atriz e parceira de cena. Tamembér tem características bem específicas. Estou muito feliz e grato, um dos melhores papéis que já pude fazer, mais uma bênção na minha carreira.
Estar no elenco desta superprodução representa o coroamento de uma brilhante carreira? Por quê?
Obrigado pela brilhante carreira (risos). Sim, com certeza. Este personagem foi um presente que veio coroar. Já é um divisor na minha trajetória, por várias características deste trabalho. Na preparação e na cena propriamente no set. Juan Pablo, Vicente Guerra e Guga Sander estavam com um equipe gigante de cinema nas mãos, jogando muito junto e a exigência com os atores era altíssima. Pude chegar a registros, tons inéditos como intérprete, fazíamos várias vezes em algumas cenas até chegarmos a um nível de alta qualidade e escuta na cena. Eu também estudei muito o contexto da época bíblica. Tudo veio para coroar realmente, estou muito feliz e grato.
Fala sobre o Barradas, sucesso na Amazon Prime?
Barradas é uma potência. Uma honra e desafio viver personagens complexos. Ele vive toda a idiossincrasia humana e do sistema complexo corrupto. Foi um dos trabalhos que senti a personagem bem viva comigo e estudei muito para poder dar força a Barradas. Muito bem escrito, como todas as personagens da Série. Você como ator tem que chegar nos limites, tem que se jogar. Fiz o teste com a produtora Cibele Santa Cruz e o Breno Silveira me escolheu para o Barradas. Realmente uma bênção, são aqueles personagens "chaves" da carreira. Acredito que a personagem "pode" escolher seu intérprete assim como uma música que cai bem na boca daquela específica voz de cantor. Ser dirigido por Breno foi incrível, ele sabia o que queria. Trabalhou com potência, paixão e sensibilidade, aliás todo o time de profissionais e elenco, só feras. Essa partida prematura de Breno foi um choque para o mundo das artes, um cara real, amigo, talentoso, gente boa, um gênio que deixa a gente muito órfão. Ele tinha tanto para nos oferecer ainda, tantos projetos, tantas emoções, alegrias e histórias... Inacreditável!
Como é conviver com dois personagens tão distintos?
Muita responsa (risos). Você tem que mergulhar com tudo, com essas figuras tão fortes e importantes na trama. O trabalho começa desde o convite até o corte do diretor. Me dedico 100%. Gosto de conviver com o personagem como você fala, ficar com eles, pensar com eles, é importante ter esse senso crítico e inteligente da personagem. Dar seu depoimento também através deles. Ficamos vivos em cena. Barradas forte, inteligente, manipulador e Tamembér aparentemente manipulador mas doce, amável, irônico e apaixonante. Duas forças da natureza.
Também neste ano, assumes o papel de vilão em "O Meu é Meu, o Seu é Nosso", na figura de Carlos, um traficante de pedras preciosas. É seu primeiro vilão no cinema? O que você pode adiantar do personagem?
Legal você perguntar sobre Carlos, "o problema misterioso do filme", e este filme espetacular. Fui convidado por Guga Sabatiê, autor do filme. O elenco é maravilhoso. A equipe divertida. Foi uma grande aventura, pois filmamos num casarão incrível em Petrópolis. Eu dormia num quarto que todo mundo tinha medo de ficar lá, tudo foi compondo o Carlos, tudo vinha de forma natural. Há trabalhos que são assim. Chegam de forma mais espontânea. Eu fazia uma espécie de cinema instantâneo, "ficava na personagem" o máximo de tempo no set. Poder fazer isso com tempo no set é um sonho para qualquer ator. E legal, que com isso tudo, tentei humanizar esse vilão, não deixá-lo num estereótipo. Ele tinha silêncios preenchidos, um humor seco e impaciente, logo estará nas telonas do cinema. No elenco só tem feras, vocês vão ver!
Quais foram a cena e o personagem mais complicados que se lembra de ter feito?
Foi em "Reis", com Tamembér, a cena da morte. Fizemos vários takes, os atores bem dedicados e concentrados. No final, fui tomar banho, estava exausto, pois tinha uma intensidade emocional e eu caía várias vezes no chão e fiquei até com dores para andar, mas valeu muito.
Durante a pandemia, participaste do espetáculo digital “#desafiohitchcock”, do diretor André Warwar. Como foi passar por essas adaptações e além do espaço, quais as principais diferenças que sentiu?
#desafiohitchcock foi um convite inusitado do "homem do cinema" e meu amigo Thiago Greco. Amei este processo que foi único, eu fazia o Dr. Arthur. Ninguém nunca se viu pessoalmente e estreamos tudo remotamente. Mas era louco, fazíamos nossas câmeras com celular, e cada ator na sua casa, e o Warwar, genial, fazendo a edição ao vivo e on-line, da sua casa. Nunca vi nada igual e, pasmem, dava certo. Fiquei bobo, como nos adaptamos a tudo. Este projeto foi uma revolução, pouco divulgado e acho que inédito no mundo todo. Uma perda lastimável que nosso diretor André Warwar também se foi prematuramente. O céu está cheio de artes e gentes boas.
Com 20 anos de carreira, qual foi a maior experiência que já teve como ator?
Olha, difícil resposta essa. Tudo é emocionalmente importante para um ator, desde as primeiras cenas, improvisos "verdes" na escola de teatro até a cena mais exigente profissional. Quando você me pergunta de "maior experiência como ator", poderia te dizer que é realmente ainda hoje, 20 anos depois, estar vivendo esta missão estranha de viver outras vidas e entregar como arte. Acho que somos chamados para viver esta missão. Marlon Brando dizia: "todos nós somos atores, até mesmo os atores". Me divirto com as frases inteligentes dele. Agora a experiência verdadeira fica, a sintonia fina que "acontece", sempre a escuta do outro, estar realmente presente e trocando com outro ator, "vivenciando" aquela circunstância. Ali na "ação" você só tem espaço e tempo para "viver", nada mais cabe ali. Acho que quando você tem tempo de "voo" e tranquilidade, para isso tudo acontecer. Aí sim você está pleno para o "voo do ator". Poderia te dizer que é essa experiência que vale a pena, quando "acontece".