Depois do show do Metallica, nada mais importa em Porto Alegre

Depois do show do Metallica, nada mais importa em Porto Alegre

Em sua terceira passagem pela Capital, banda californiana mostrou por que é uma das bandas de heavy/thrash mais completas do mundo

Luiz Gonzaga Lopes

Lars Ulrich, James Hetfield e Kirk Hammett, além de Robert Trujillo, mostrando o vigor e a contundência do som do Metallica

publicidade

A cidade de Porto Alegre que voltou a ser rota dos grandes shows internacionais em março deste ano viveu uma noite que deve entrar para a história do rock e do metal nesta última quinta-feira à noite. Em um show eletrizante para 40 mil pessoas, a banda californiana Metallica desfilou os seus sucessos e algumas músicas mais depressivas (por assim dizer) de seus 41 anos de história. A apresentação foi no estacionamento da Fiergs, um local que definitivamente não tem estrutura para este tipo de megashow. Foi 1h55min de show e mais cinco minutos de agradecimentos efusivos do quarteto, com 16 músicas executadas de vários períodos da carreira. 

Depois de 12 anos de ausência, desde o último show, em 28 de janeiro de 2010 na capital gaúcha (no Parque Condor), a banda não decepcionou o público, que superlotou o estacionamento da Fiergs. Antes, com duração de pouco mais de meia hora, a também norte-americana Greta Van Fleet aqueceu as turbinas com seu hard rock pesado, com destaque para “Built by Nations”, “Black Smoke Rising”, “My Way, Soon” e “The Weight of Dreams”. Às 21h15min, foi a vez da atração principal pisar no palco. Quando ecoou nas caixas de som o hino do AC/DC, “Its a Lon Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)”, o público começou a se agitar, pois sabia que iria presenciar um fato histórico. E aí, quando o telão exibe imagens de “Três Homens em Conflito”, de Sergio Leone, e a incidental “The Ecstasy of Gold”, do gênio Ennio Morricone, os celulares começam a filmar tudo e a preparação para o clímax da abertura está selada. O telão começa a mostrar quadrados de laser vermelho e a bateria de Lars Ulrich, com as guitarras de Kirk Hammett e James Hetfield e o baixo de Robert Trujillo dão tons e flashes iniciais da loucura hiperacelerada de “Whiplash”. E quando o petardo começa, ninguém se segura, é como se o Metallica quisesse “matar a todos” do coração e dos ouvidos já na primeira música. 

Com os primeiros riffs da pesada “Ride The Lightning”, os fãs mais pesados em idade devem ter lembrado de ter esperado aquele disco de vinil com os raios na capa na loja de discos mais próxima naquele distante 1984. Trinta e oito anos de história montando naquele raio que caiu três vezes na mesma cidade, Porto Alegre. E assim foi o show com Hammett e Hetfield se revezando nos solos, mas o primeiro sola com muito mais profusão e o segundo é o rei dos riffs do heavy metal. Na pausa da terceira para a quarta música, James Hetfield conversa pela primeira vez e agradece à família Metallica pela espera de 12 anos. E aí lança na roda mais uma do disco “Kill ‘em All” (1983), “Seek and Destroy”, que preenche todo o espaço com seu peso e refrão possantes. Aos primeiros acordes de “One” a pirotecnia aparece e o lamento pelo soldado atingido na Primeira Guerra Mundial mostra uma das melhores narrativas da banda. E assim segue o show alternando momentos de reflexão e lamento com “Harvest of Sorrow” com músicas gigantes como a doce “The Unforgiven”, “For Whom the Bells Tolls” e “Creeping Death”. 

A décima-terceira música é nada mais, nada menos do que o Mestre dos Bonecos metallicos. “Master of Puppets”, executada com vitalidade pelas guitarras de Hetfield e Kirk Hammett com a segura cozinha de Robert Trujillo e do “dinamáquina” Lars Ulrich. Logo há uma parada de cinco minutos para a volta do bis, com muita pirotecnia, fogos de artifício e chamas que saem das torres. 

No bis, a banda volta matadora, com “Blackened”, também oitentista do disco “And Justice for All...”, de 1988. O final foi apoteótico, diante de um público ensandecido no bis. Com nada menos que as clássicas “Nothing Else Matters” e “Enter Sandman”, o Metallica encerrou um show vigoroso na sua terceira e já histórica passagem por Porto Alegre. No final, eles voltam, ficam cinco minutos no palco e agradecem ao público dizendo: “Vocês são lindos”. O mais afeito com as línguas ibéricas, Robert Trujillo entoa um “Eu sou brasileiro com muito orgulho com muito amor”. E todos saíram com a sensação que este show entra para o panteão dos grandes shows da Capital, como Stones, Paul McCartney, Roger Waters, Iron Maiden, entre outros. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895