"Reis é um produto sofisticado com cenas intensas"

"Reis é um produto sofisticado com cenas intensas"

Ator gaúcho Thiago Amaral, que vive o personagem Micael da série concede entrevista ao Caderno de Sábado

Luciamem Winck

Thiago Amaral vive o personagem Micael na série "Reis"

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O ator gaúcho Thiago Amaral, de 35 anos, que interpreta o personagem Micael, já atuou em outros trabalhos da Record TV, mas destaca que essa produção é diferenciada. “É uma superprodução, coisa de cinema, o resultado está incrível”, salienta. Sobre o destino do personagem, o ator sorri e não dá muitas pistas, mas antecipa que retornará interpretando um novo personagem, na terceira temporada. Os cliques nos bastidores de “Reis” fazem sucesso junto ao público que está acompanhando a primeira temporada da série. As publicações de fotografias ao lado dos colegas de elenco fazem bonito nas redes. É a quarta produção do ator na emissora. Antes, interpretou Miguel, em “Rebelde” (2014), Wesley, em “Amor sem Igual” (2019) e Jasper em “Gênesis” (2021). 
Torcedor do Internacional, revela que as tardes de domingo no Beira-Rio ficaram eternizadas na memória. Igualmente confidencia que, para a trama, fez aulas de lutas com espada, escudo, arco e flecha, lança e adaga. Thiago começou a fazer teatro aos 14 anos. Em Porto Alegre, formou-se em Artes Cênicas na Faculdade de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atuou na minissérie “Segredos”, veiculada no canal português RTP, e nos curtas-metragens “No elevador” e “De Corpo Presente”. Mas foi em 2007, no Rio de Janeiro, que entrou para a Oficina de Atores da Globo e, na sequência, atuou na emissora em projetos como “Casos e Acasos”, “Lara Com Z”, nas novelas “Ciranda de Pedra”, “A Favorita”, “Lado a Lado” e “Sangue Bom”, e na minissérie “Capitu”. Ele ainda fez parte do elenco de “Preamar”, na HBO, “As Canalhas”, do GNT e ainda pode ser visto na novela “Cúmplices de um Resgate”, no Netflix. 
No teatro, dedicou-se ao musical “O Despertar da Primavera”, dirigido por Claudio Botelho e Charles Moeller, em cartaz entre 2009 e 2010. Já no cinema, fez o longa-metragem “Meu Tio Matou um Cara”, dirigido por Jorge Furtado. Em 2020, tão logo começou a pandemia, ele optou por retornar ao RS. Na época, ele, a esposa, também atriz Ohana Homem e a filha Ellora viviam em São Paulo. Eles fixaram residência em Capão Novo, em Capão da Canoa, para ficar perto da natureza e dos familiares. “A escolha foi perfeita”, atesta.


O que o israelita Micael, de Reis, representa na tua carreira?
Representa um voto de confiança da emissora no meu trabalho. O convite para viver Micael, logo após Jasper, é um marco na minha carreira. Estou muito feliz e grato com a oportunidade de estar nesse projeto. Micael é um personagem fantástico. É uma honra entregar ele para o espectador. 
Estás realizando mais um trabalho na Record. Qual a importância da trama para a tua vida pessoal?
Minha vida pessoal e profissional se fundem à medida que o personagem carrega também minhas experiências de vida. Sempre procuro me colocar na situação que o personagem sugere. Esse é o grande barato. Experimentar vivências totalmente diferentes a cada trabalho. 
Existe alguma semelhança entre Micael e Thiago? Por quê?
Eu sou a matriz do Micael. Ele carrega minhas esperanças e carências. Micael é um personagem levado por acontecimentos inesperados. Sua trajetória é marcada por injustiças e, mesmo assim, ele se mantém resiliente no que acredita. Além disso, ele atravessa batalhas carregando a força do amor pela família. Durante as gravações precisei ficar afastado da minha esposa e filha. A falta que senti delas está em Micael. 


Que reflexão fizeste quando começaste a entender a história que seria contada por teu personagem em Reis?
Micael é um personagem com atitudes à frente do seu tempo. Mesmo sendo fruto de uma sociedade machista, extremamente patriarcal, ele se movimenta no sentido oposto. Na sequência em que Micael pede Sâmila (Natália Ferrari) em casamento fica claro essa característica. Ao saber que Sâmila foi estuprada pelo levita Finéias (Edu Porto), Micael desafia a atitude da maioria dos homens na trama, mantendo seu pedido de casamento, reforçando seu amor por ela. 
Acumulas diversos trabalhos na televisão. Como classifica o novo trabalho da Record TV?
Felicidade imensa em fazer parte desse projeto. “Reis” é um produto sofisticado. As cenas são intensas. A câmera respira com os atores, coloca o espectador dentro da ação. Fiquei vidrado vendo as sequências das batalhas. Estou muito satisfeito com o resultado do trabalho.
Após viver Jasper, em Gênesis, foste escalado para viver Micael, em Reis. Quais as diferenças e semelhanças entre os dois personagens? Com qual deles você se identifica mais?
Tanto Micael quanto Jasper carregam valores fortes baseados no trabalho e na família. Jasper era servo. Passava os dias trabalhando na casa do patriarca Betuel (Roberto Bomfim) em troca do seu sustento e de sua família. Esse era o ambiente desse personagem. O universo de Micael é mais amplo. Ele viaja por muitas cidades. Atravessa batalhas. Forma alianças com mais personagens que Jasper. Micael tem mais espaço e desenvolve mais identificação com o público. 


Estás na primeira parte da série... O que os espectadores podem esperar de Micael nos próximos episódios?
Reviravoltas. A trama do Micael é surpreendente. Tomei um susto quando li esses capítulos. Não posso falar mais que isso (risos). Convido o público a acompanhar a trajetória dele. Os telespectadores não vão se arrepender.
A ascensão de “Reis” será melhor compreendida após Israel ter conquistado a sua terra prometida, que é o ponto de partida da nova produção, permitindo uma ordem cronológica dos fatos. 


Encerras a participação nesta primeira etapa ou voltarás em breve para seguir interpretando na trama?
Volto na terceira temporada com outro personagem totalmente diferente. Não posso falar nada por enquanto. Mas já sei que será incrível.
 

Cresceste nas ruas do bairro Vila Ipiranga, na zona Norte de Porto Alegre e, desde cedo, ser ator era uma certeza. Quando nasceu em ti a vontade de interpretar? Ser ator é realmente um sonho realizado?
No colégio formei um grupo de teatro para participar de festivais no interior do Estado. Foi minha primeira experiência com teatro amador e foi nessa época que comecei a sentir minha vocação. Me considero privilegiado por trabalhar com arte hoje. Minha carreira é construída dia após dia. É sempre uma batalha. O caminho é duro, mas é maravilhoso.
Com 29 anos, trocaste o Rio Grande do Sul, onde fazia campanhas publicitárias, teatro amador e a Faculdade de Artes Cênicas na Ufrgs, pelo Rio de Janeiro. Como foi essa experiência?
Foi decisiva na minha carreira. Minha ida para o Rio de Janeiro fazer oficina de atores da Globo, em 2007, foi minha virada profissional. Saí de casa para morar sozinho com a mala cheia de sonhos e objetivos. Meu amadurecimento artístico foi sendo construído ao longo desses 15 anos. 


Quando estás longe do Rio Grande do Sul, quais são as lembranças que tens da capital gaúcha e do próprio Estado? Aqui no RS tens um time do coração?
Minhas lembranças de infância e adolescência são todas daqui. Lembro das tardes que passei no Pampa Safári, na Redenção e Gasômetro. Recordo das idas ao Beira-Rio, nos domingos, ver jogos do Internacional. Também guardo na memória as descobertas da vida acadêmica, no Departamento Arte Dramática, e os passeios pela Serra gaúcha e interior do Estado. São muitas lembranças. Carrego vários hábitos gaúchos comigo. Tomo meu chimarrão todas as manhãs e finais da tarde. Gosto muito de reunir a família e amigos num churrasco. 


Na atualidade, fixaste residência no Litoral Norte gaúcho. A que se deve esta mudança? A praia de certa forma contribui para a elaboração dos personagens?
Fizemos a mudança para o litoral gaúcho em 2020. Estávamos morando em São Paulo durante a fase crítica da pandemia. Nesse período sentimos muita falta de estar em contato com a natureza, perto dos familiares e de fazer o isolamento com mais qualidade de vida. A escolha foi perfeita. 


Quando não estás envolvido em gravações, o que costuma fazer em horários de lazer? Pratica algum esporte?
A preparação física foi fundamental para interpretar Micael. É um personagem com cenas no limite da exaustão física. Para as longas cenas de corrida e batalhas dei atenção especial ao meu condicionamento físico. Esporte sempre esteve presente na minha vida, agora meu treinamento está focado em correr, malhar e na prática de artes marciais.


Como enfrentaste a pandemia? Foi um momento difícil?
Acho que foi um período importante para refletirmos sobre o que realmente importa no nosso cotidiano. Na batida normal do dia a dia, nos acostumamos a ter nossa atenção pulverizada. Buscar cada vez mais estímulos e focos diferentes para lidar ao mesmo tempo, geralmente ligados ao trabalho. A falsa ideia do quanto mais melhor. A quarentena escancarou esses vícios. A busca pelo consumismo e a obsessão pela produtividade estão nos levando a negar o valor da própria vida. Além disso, em casa nós três ficamos muito mais unidos. Encontramos nossa fortaleza um no outro. Descobri o quanto nossa capacidade nata de adaptação é mais potente, vibrante e criativa juntos.

 
Ao lado de tua família – Ohana Homem (esposa) e Ellora (filha) – descobriste um novo cotidiano com a quarentena?
Criatividade foi a palavra-chave. Ellora tinha 2 anos e meio e sempre foi muito ativa. Adaptamos todas as atividades que a gente conhece para dentro de casa. Fomos da pintura com tintas, montagem de brinquedos com material reciclável até esconde-esconde e pega-pega. Foi uma farra. No fim do dia a casa estava de pernas para o ar. Resgatei muitas lembranças da minha infância.


Quais os planos para o futuro?
Os planos estão na próxima etapa do trabalho em “Reis”. Como mencionei, volto na terceira temporada com outro personagem. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895