Emily Matte: a eclética atriz da Série "Reis"

Emily Matte: a eclética atriz da Série "Reis"

Na oitava fase da trama, ela dá vida a Keren

Luciamem Winck

Emily Matte: "Então acho que a alma de artista já veio comigo de alguma forma. Mas ela se estabeleceu quando eu tinha três anos, quando fiz minha primeira peça de Natal dirigida por minha mãe na escola"

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Atriz, dançarina e cantora, Emily Matte está estreando na TV em “Reis”, da Record. Na oitava fase da trama, ela dá vida a Keren, uma jovem que vive em meio a conflitos e emoções com a família do Rei Davi. Com 24 anos e 10 de carreira, o ponto de partida profissional ocorreu na fronteira do Brasil com o Paraguai. Em seu currículo constam mais de 15 peças teatrais, incluindo alguns musicais. Ela também já chegou a se apresentar como bailarina no clássico Don Quixote. Também formada em Administração, está produzindo um curta-metragem com a Tower Filmes.

 

Quando a arte entrou em tua vida?
A arte não entrou em minha vida, nasci com ela (risos). Meus avós se apaixonaram no teatro, ela na plateia e ele no palco. Meu pai cantava em festivais e minha mãe dançou ballet em sua adolescência. Então acho que a alma de artista já veio comigo de alguma forma. Mas ela se estabeleceu quando eu tinha três anos, quando fiz minha primeira peça de Natal dirigida por minha mãe na escola onde trabalhava. Desde então, nunca mais parei. Comecei a cantar e tocar na igreja aos cinco anos, e a dançar também, e sigo até hoje nessa jornada linda. Embora nenhum de meus familiares atue na área, foram eles que me inseriram nesse meio, mesmo que indiretamente, e não poderia ser mais grata.


Como está sendo participar da 8ª temporada de “Reis, A Consequência”?
Está sendo uma experiência incrível em todos os sentidos, tanto profissional quanto pessoal. Estar em uma superprodução na TV é a realização de um sonho, e ter entrado na oitava temporada de Reis é um aprendizado e desafio constante. Essa nova fase é cheia de conflitos e emoções. O elenco é de uma força gigante. Trabalhar com artistas tão incríveis como o Petrônio Gontijo, a Vannessa Gerbelli, Marcos Winter, Ricky Tavares, Michelle Martins e tantos outros, está transformando a artista que sou. Além disso, a troca com os diretores e com toda a equipe envolvida está sendo uma delícia. Estou conhecendo pessoas maravilhosas e criando elos muito especiais nos corredores, camarim e no set. Fui muito bem recebida, são tão generosos que me emociona.


Como te preparaste para interpretar Keren, uma jovem que vive em meio a conflitos e emoções com a família do Rei Davi?
Entrei na produção bem próximo do início das gravações, então estudei a personagem incansavelmente. Quando recebi os roteiros, li tudo que consegui para me aprofundar na história como um todo e entender de fato a complexidade do pecado que causaria as consequências. Além disso, li os capítulos da Bíblia que seriam essenciais para mim e pesquisei muito sobre as cidades, costumes e história da época. Mergulhei na vida de Keren, criando camadas e profundidades que seriam interessantes para ela, mas tive também a ajuda da preparadora Nara Marques, que foi fundamental. Ela me ajudou a enxergar detalhes mais íntimos desses conflitos e a afinar minha relação com os outros personagens dentro dessa narrativa tão turbulenta.


Há alguma semelhança entre você e Keren?
Há sim. Keren é uma jovem muito forte, sagaz e ao mesmo tempo cuidadosa em suas ações, quando necessário. Ela é um ótimo equilíbrio entre razão e emoção, e acho que isso define a Emily também. Sou bem emotiva, mas bem silenciosa e racional, e vejo a Keren um pouco assim. Ela pensa, analisa, age e diz muito com pouco, nos pequenos detalhes, no olhar.


É verdade que atuas em três idiomas?
Sim. Tenho o privilégio e muito orgulho em ter duas línguas nativas. A língua materna é o Português, mas morei até meus 14 anos no Paraguai, então, toda a minha alfabetização foi em Espanhol. Como comecei a estudar Inglês muito nova e fiz Ensino Médio Americano, tenho a terceira língua também. Mas me aprofundei ainda mais na atuação em Inglês e em como reduzir o sotaque, porque falar e atuar em outro idioma são coisas bem diferentes. Tenho certeza que atuar em três idiomas é um grande diferencial para mostrar o potencial de nossa América Latina para o mundo, e desejo aprender mais um idioma em breve.


Além de atriz, és dançarina e cantora. Como concilias as três atividades profissionais e qual delas mais te fascina?
Por movimentos e escolhas necessárias da vida, acabei dando um foco maior para a atuação nos últimos tempos, mas nunca deixei de me aprofundar nas outras áreas. Sou performer de musical, então concílio as três atividades juntas no palco, e para mim não poderia ser melhor. Teatro musical é uma explosão de arte e sentimentos para mim. Nesse momento que estou no audiovisual não tenho feito nenhum show, mas sempre que surge a oportunidade estou fazendo audições para novos espetáculos. Agora, sobre qual mais me fascina? Pergunta difícil hein (risos). A dança me encanta pela força do corpo e do não dito, a música pela forma em que notas e palavras ecoam no coração e a atuação pela potência em contar histórias e me aproximar de públicos diversos. Mas na verdade, todas despertam emoções, sentimentos e experiências. Porém, a atuação me faz entender um pouco mais sobre mim e o outro, e isso me encanta muito.


Com 24 anos e 10 de carreira, começaste na fronteira do Brasil e Paraguai. Como foi a experiência?
Para responder essa pergunta preciso explicar um pouquinho sobre minha vida. Sou brasileira, mas com cidadania paraguaia também, pois cresci lá e é onde minha família mora. Deixei a casa de meus pais aos 14 anos para fazer o Ensino Médio no Brasil (em Foz do Iguaçu, minha cidade natal). E foi lá onde, de fato, comecei a estudar teatro e a trabalhar com isso. Então comecei a minha carreira “em casa”, tendo família, amigos e parceiros próximos como público. De certa forma, isso conforta e tranquiliza para quem está começando em uma carreira tão intensa como a nossa. Assim, a minha experiência foi incrível pois me senti acolhida e em um ambiente seguro. 


Em tuas andanças pelo mundo, fizeste um curso profissionalizantes de atuação. Conta um pouco sobre esses aperfeiçoamentos.
Desde pequena, sempre fui uma pessoa apaixonada por estudar e me desafiar. Posso dizer que sair da zona de conforto é o que me move e faz meus olhos brilharem. Sempre tive o sonho e a vontade de estudar atuação fora do Brasil, para aprofundar a técnica, melhorar a atuação nas línguas e claro, criar uma rede de conexões e contatos no exterior. Estudar em Nova Iorque foi inexplicável, primeiro porque é minha cidade dos sonhos e segundo porque o curso que fiz foi muito amplo em várias áreas de atuação. Tive vários professores, conheci artistas incríveis e fiz amigos para a vida. Aprendi técnicas novas de atuação do Meisner e da Uta Hagen. Técnicas para fazer uma boa audição e como gravar um self-tape excelente que nunca havia escutado, como ser uma atriz nesse mercado globalizado, como achar meu diferencial como artista e tantas outras coisas. Foi transformador em todos os sentidos. Em Madrid, foi singular. Cai de paraquedas em um intensivo que não era divulgado, sendo a única atriz estrangeira e com a grande Belén, que já dirigiu artistas espanhóis gigantes e que arrisco dizer ser a diretora mais exigente que já tive. O método dela de ensino era muito simples: apenas atuar com a verdade. Mas extrair essa verdade em cena, exigia muito. Ela me ensinou sutilezas que muitas vezes passam despercebidas na atuação, mas sobretudo, que jamais devo esconder quem sou em cena, e sim abraçar meus erros, medos e imperfeições. Além do mais, só tive companheiros incríveis. Aprendi muito observando cada um, afinal a atuação espanhola é muito precisa e sofisticada.


Em teu currículo constam mais de 15 peças teatrais, incluindo musicais. Como foram esses trabalhos?
O musical dirigido por Rafael Zulu foi meu primeiro trabalho no Rio e a primeira experiência profissional na cidade. Tinha 17 anos. Era tudo novo e desafiador para mim e estava com a emoção a flor da pele de fazer acontecer, sabe? Então foi uma experiência intensa, divertida e muito especial. Conheci pessoas e profissionais incríveis e aprendi muito como artista e pessoa em ambos.


És graduada em Administração. Por que escolheste a área? 
Sempre fui muito sonhadora, mas com os pés no chão. Sei consciente que a área artística é muito difícil, inconstante e incerta, e por isso sempre pensei no famoso “Plano B” e vi na Administração uma boa oportunidade, pois é um curso amplo e que dá margem para tudo. Além do mais, adoro ampliar horizontes e me desafiar, então aprender teorias novas e me afogar nos cálculos foi sem dúvidas um grande aprendizado. A Administração me ensinou a olhar para o mercado com outros olhos, olhos mais racionais eu diria, e eu gosto dessa dualidade entre a emoção da artista com a racionalidade empresarial. Além disso, me ensinou muito sobre comportamento humano em um ambiente de trabalho, mas principalmente em como ver a minha carreira como uma empresa e como me posicionar como CEO de minha própria vida e carreira. Tenho muitos sonhos profissionais, e sem dúvidas empreender é um deles, então é aí que entra a Emily administradora. Sem contar que estou produzindo no audiovisual e aplicando todos os aprendizados possíveis desse curso encantador.

 

Fale um pouco sobre a atuação em filmes.
Foi na sétima arte que a magia do audiovisual se iniciou. O cinema tem uma linguagem e tempo diferente da televisão. Acho que tudo é um pouco mais ampliado, dilatado e normalmente o tempo de preparação e criação de personagem também é maior. Então fazer filmes é uma experiência um pouco diferente, embora tudo parta do mesmo princípio, a verdade cênica. Preciso dizer também que as vivências que tive no cinema, foram de um cinema independente, o que também é muito diferente de uma grande produção, exige além de tudo, uma vontade gigante dentre todos de fazer acontecer, o que tornou minha experiência muito enriquecedora. Aprendi muito e só desejo conquistar todas as telonas por aí, porque quero sim ser reconhecida como uma grande atriz de cinema.

 

Quais teus planos para o futuro?
Tenho tentado cada vez mais aproveitar o momento presente sem pensar muito a longo prazo, mas é claro que planos e metas são estabelecidas por aqui para um porvir próximo. Sem dúvidas, agora quero conquistar meu espaço no audiovisual brasileiro e embarcar em novos projetos que me desafiem como atriz. Estou produzindo dois curtas-metragens independentes também, então meu desejo é que eles rodem esse mundão em festivais, porque quero ampliar horizontes aqui e no exterior, e produzir ainda mais. Além disso, quero continuar me aprofundando e melhorando como atriz, porque parar de estudar não é uma opção para mim. Sempre tem algo novo para aprender ou aprimorar, e tem alguns cursos que desejo fazer.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895