A alegria de torcer pelo Brasil

A alegria de torcer pelo Brasil

Os nossos atletas em Tóquio conseguiram esta façanha e de repente nos vimos em frente à televisão torcendo pelo nosso país nos mais diferentes esportes.

Nando Gross

O esporte é um extraordinário veículo para unir uma nação

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O melhor dos Jogos Olímpicos é sentirmos que ainda no Brasil conseguimos todos estar do mesmo lado, na mesma torcida. Não tivemos isto nem mesmo em meio à maior catástrofe mundial de saúde, a pandemia do Coronavírus, quando teria sido fundamental estarmos todos juntos para podermos nos defender do vírus e cuidarmos uns dos outros. Na pandemia não conseguimos isso, até porque a principal liderança da nação tratou de nos dividir, ao invés de acolher a todos os brasileiros.

Mas os nossos atletas em Tóquio conseguiram esta façanha e de repente nos vimos em frente à televisão torcendo pelo nosso país nos mais diferentes esportes. Nas redes sociais não teve divisão, todos vibraram e se emocionaram com os nossos atletas. O esporte uniu o país, algo que parecia totalmente impossível. Pessoalmente, fiquei feliz de poder torcer pelo Brasil sem ser cobrado por alguma posição política, ao contrário do que aconteceu na Copa América. Fui muito criticado porque não torci contra a Seleção Brasileira, algo que nunca fiz e nem me imaginando fazendo. Torcer pela Argentina é normal, cada um torce para quem quiser, a questão é que se criou um movimento de repulsa à Seleção Brasileira pelo fato de que a Copa América estava sendo realizada no Brasil.

Critiquei o fato de o nosso país sediar o evento, os próprios jogadores divulgaram um manifesto mostrando que não concordavam com a situação, o povo brasileiro protestou, mas o presidente Bolsonaro entrou em campo e a política tomou conta do caso. Isto não me faz acreditar que, torcendo pela Seleção, eu estaria apoiando o governo federal ou a sua decisão de trazer o evento para o Brasil. São coisas totalmente distintas. Torcemos pela nossa Seleção nos anos de ditadura e nunca deixamos de exigir a volta da democracia. É uma visão muito rasa de política. O esporte é um extraordinário veículo para unir uma nação, como fez Nelson Mandela, em 1995, durante a Copa do Mundo de rúgbi, mas não serve para dividir, como fez o presidente brasileiro. Por muitos anos, o rúgbi foi visto como um esporte separatista na África do Sul, e a seleção do país representava para os negros um símbolo da opressão. Uma atitude de Nelson Mandela durante a Copa do Mundo da modalidade em 1995 mudou a história. Pela primeira vez, negros e brancos estavam juntos.

“Eu percebi o impacto que aquele esporte poderia causar, tamanha era a importância dele para o país. E principalmente porque o esporte fala uma língua entendida por todos, e em todas as partes do mundo”, disse Mandela. Pela primeira vez, brancos e negros estavam juntos na África do Sul.

Este é o poder do esporte, de unir e nunca de dividir, por isso não conseguimos estar juntos na Copa América, porque sentimos quererem usar o evento para fins políticos em um momento totalmente inadequado. O jogador que está vestindo a camisa da Seleção é um jovem que veio das camadas mais pobres da sociedade brasileira e está realizando o sonho da sua vida. Não é ele que merece a revolta dos torcedores, o endereço para esta conta é equivocado. Os Jogos Olímpicos nos fazem acreditar novamente na possibilidade de trocarmos uma conversa, falar sobre nosso país e nosso futuro, sem que tenhamos de encerrar a amizade meia hora depois.

Edenilson

Edenilson quer deixar o Inter, e o motivo é absolutamente compreensível, ele e seus familiares têm sido constantemente ofendidos e ameaçados nas redes sociais. Enquanto essas redes nos ajudam, quando elas são usadas por movimentos organizados para atingir um só alvo vira uma espécie de linchamento público, o que nas redes sociais é definido como “cancelamento”. E não há limites para as postagens, vão desde as piores ofensas até ameaças aos familiares. Edenilson está sendo vítima destes movimentos, por isso compreendo a sua decisão de querer ir embora. É o melhor jogador do Inter e, saindo, o time perde muito.

Jogo para começar a recuperação

A goleada em cima do Vitória de Salvador animou o ambiente gremista e pode ser um fator positivo para começar hoje à noite a recuperação no campeonato brasileiro. O adversário é o Bragantino, que com o poder da gigante austríaca Red Bull, montou um time que ocupa agora a parte de cima da tabela, enquanto o Grêmio amarga a penúltima colocação. A falta de ambição ofensiva não se manifestou em Salvador, mas foi por uma evolução no trabalho de Felipão ou se deve à fragilidade do adversário, que está na série B do futebol nacional e colado na zona de rebaixamento para a série C? É o que vamos constatar hoje à noite, em Bragança Paulista.

Os atletas militares

Das cinco medalhas conquistadas pelo Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, duas delas são de atletas militares. O judoca Daniel Cargnin é 3° sargento da Marinha e o nadador Fernando Scheffer, 3° sargento do Exército. Eles mostram a força de um projeto das Forças Armadas que começou em 2007, com Djan Madruga, nadador com cinco finais olímpicas e que ocupava o cargo de secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte. Na época, a pasta era comandada pelo PCdoB e não vivíamos a paranoia da invasão comunista, éramos normais. Madruga deu a ideia que foi encampada pelo Brigadeiro Luís Pinto Machado, então presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil. Hoje, o Programa Atletas de Alto Rendimento tem 540 esportistas. Em Tóquio, há 92 desses atletas, de 21 modalidades.


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