O futebol melancólico da Dupla Gre-Nal

O futebol melancólico da Dupla Gre-Nal

"No Brasileirão, o único objetivo do Grêmio é escapar do rebaixamento. O Inter pode sonhar com uma vaga entre os seis primeiros, mas também terá de melhorar muito."

Nando Gross

A dupla Gre-Nal tem mostrado pouco futebol no cenário nacional

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Os jogos do meio da semana da dupla Gre-Nal mostraram o tamanho das nossas equipes no atual momento. O Grêmio, na terça-feira, venceu a LDU, em Quito, no Equador, adotando uma estratégia defensiva, com linhas baixas e apostando no contra-ataque. O gol saiu desta forma e com o bom desempenho do goleiro Gabriel Chapecó, o Grêmio conseguiu o que mais importava, que era a vitória. Mas a atuação em nada nos transmite otimismo.

Trazer o adversário para dentro do seu campo é altamente arriscado, funciona eventualmente, mas não como rotina, ainda mais contra um time como o Fluminense, adversário do Grêmio neste sábado. 

Se jogar na retranca fora de casa desse resultado, os times gaúchos seriam os maiores vencedores do futebol mundial. Nos dois jogos do Grêmio comandados por Felipão, o destaque do time foi o goleiro Gabriel Chapecó. Será isso suficiente para sair da zona de rebaixamento?

O Internacional nos últimos seis jogos marcou apenas três gols e a última vitória foi ainda na estreia de Diego Aguirre, contra a Chapecoense. Na quinta-feira, empatou com o Olimpia, no Paraguai, em um 0 a 0 sofrível. Esteve próximo de perder, não fosse pela atuação do goleiro Daniel.

As justificativas dos treinadores são verdadeiras, mas repetitivas e cansativas, porque são sempre as mesmas, diante de um contexto que todos já sabiam como era. A conversa sobre excesso de jogos e a falta de tempo para treinar é demasiada, todos os grandes clubes sofrem igualmente, o problema é geral, portanto, a justificativa fica vazia, na medida em que o prejuízo é também para os adversários.

No Brasileirão, o único objetivo do Grêmio é escapar do rebaixamento. Pode parecer precipitada esta afirmação, mas o futebol que o time gremista apresenta até o momento não me dá outra perspectiva que não essa. O mais temerário é esta mudança radical de modelo de jogo, tendo praticamente o mesmo grupo de jogadores. No momento, a ideia é não perder, mas isto não pode durar muito tempo, porque não é empatando que o Grêmio vai conseguir subir na tabela.

O Inter, em relação ao rival, está bem melhor, na medida em que está com 11 pontos, enquanto o Grêmio tem apenas três, mas a questão é o futebol apresentado que é também muito fraco e não transmite maiores esperanças à torcida. O Inter pode sonhar com uma vaga entre os seis primeiros, talvez possa estar neste grupo, mas também terá de melhorar muito.

Mas sempre tem as Copas. Para o Grêmio a Sul-Americana e Copa do Brasil, e para o Inter, a Libertadores da América. Em um sistema de jogos eliminatórios, talvez a dupla possa avançar, talvez, sei lá, pode ser mais o desejo deste cronista do que a realidade, mas o futebol é também feito do imponderável, portanto, tudo é possível. Uma coisa é certa, quem joga bem estará sempre mais perto da vitória.

A Seleção sem a torcida 

Na minha coluna de quarta-feira, onde tratei da crise entre a Seleção e a torcida brasileira, e mencionei os fatos da Copa em 1970, recebi a ligação de Paulo Roberto Falcão, contextualizando o período e lembrando o quanto os jogadores não podiam se manifestar naquela época. Estávamos em plena ditadura militar, diferente dos dias atuais. Tem razão, os jogadores eram usados, mas era difícil reagir ou até mesmo entender o que estava acontecendo. Lembrando que Falcão foi cortado da Copa de 1978, quando era o melhor jogador brasileiro, exatamente pelo militar Cláudio Coutinho, que não gostava muito do excesso de personalidade do craque.

Sem saída

De qualquer forma, com a divisão atual da sociedade brasileira, os jogadores da Seleção seriam criticados por qualquer posicionamento. Eles fizeram um manifesto contra a realização da Copa América e apanharam dos dois lados. A esquerda achou insuficiente porque eles deveriam se negar a jogar, e a Direita os chamou de traidores da pátria. O deputado federal gaúcho Bibo Nunes chamou o técnico Tite de "capacho da esquerda, vergonha para os gaúchos” e ainda disse que Tite tinha de ser “ejetado do Brasil”. Não tem para onde correr, a sociedade está doente, jogar isto no colo dos jogadores não se justifica.

Recado do leitor

“Tudo bem, Nando Gross?
Lendo tua coluna até concordo com o arremate final. Está estabelecido no Brasil os que são a favor e os que são contra. Quem promoveu isto foram as correntes de pensamento político-ideológico, esquerda/direita. Está havendo uma divisão, quando deveria estar ocorrendo um somatório buscando soluções para nossos inúmeros problemas. Claro que torci pelo Brasil na Copa. No meu ponto de vista você poderia ter mencionado que o distanciamento do público com a Seleção, também tem causa no pouco conhecimento dos atletas por parte da torcida, visto que quase todos atuam fora do Brasil.
Abraço."
Flavio Jorge Dalla Costa
Getúlio Vargas-RS.


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