Tensão na Seleção Brasileira

Os jogadores da Seleção Brasileira que atuaram na sexta-feira em Porto Alegre podem estar fazendo história, se confirmarem a decisão de não participarem da Copa América. Tite deixou claro o mal-estar na comissão técnica e nos atletas após o anúncio de que a competição será realizada no Brasil, mas a posição oficial será dada somente após o jogo na semana que vem contra o Paraguai. Vários jogadores e treinadores do continente já se manifestaram contra a realização da competição. Por enquanto no Brasil foi criado um pacto de silêncio entre os atletas e a diretoria da CBF para não atrapalhar os dois compromissos com as Eliminatórias, mas a notícia do descontentamento dos jogadores e da comissão técnica já está colocada.

A solução que parece estar sendo apresentada é disputar a Copa América apenas com os jogadores que atuam no Brasil, contando que eles aceitem participar. Este seria um enorme problema para os clubes, na medida em que o Brasileirão não vai parar durante a competição. E o técnico Tite aceitaria dirigir a Seleção na Copa América? A informação é de que ele não gostou de saber pela imprensa que o Brasil seria sede da competição. Além de não ter sido consultado, o técnico nem ao menos foi comunicado com antecedência. Tite sentiu-se traído pela diretoria da CBF e existe a possibilidade de que anuncie a sua saída após o jogo contra o Paraguai, na semana que vem.

O problema ganhou enorme proporção, na medida em que houve o envolvimento pessoal do presidente Jair Bolsonaro para trazer o evento para o Brasil, fazendo campanha e até mesmo atacando publicamente jornalistas e veículos de comunicação que tenham se manifestado contrários à realização do evento. Evidente que os jogadores e o próprio técnico perceberam o uso político dos seus nomes e, diante da gravidade do momento, estão se manifestando. O posicionamento oficial dos atletas e da comissão técnica será um recado muito sério e vai trazer consequências graves para o futuro. O anúncio oficial somente será dado após o jogo contra o Paraguai, mas existe a possibilidade inclusive de um movimento maior, envolvendo os principais atletas do continente para boicotarem a Copa América. Treinadores e jogadores de algumas seleções do continente demonstraram preocupação em disputar a competição em meio à pandemia, mas os dirigentes querem de qualquer jeito, até porque as dez entidades nacionais (incluindo a CBF) receberão, no mínimo, 4 milhões de dólares. Desses, a Conmebol já adiantou 1 milhão para cada entidade, ainda em 2020. O cancelamento da competição causaria um rombo de R$ 637 milhões nas contas da Conmebol.

O fato é que a CBF outra vez se afasta do povo brasileiro ao ter a infeliz iniciativa de oferecer nosso país para sediar a Copa América em meio à maior tragédia sanitária já vista em todos os tempos. É inacreditável a falta de sensibilidade e percepção da realidade que mostram os dirigentes da entidade, aliás, fazendo jus aos seus antecessores. Esta será a quarta vez em seis anos que teremos Copa América: 2015, 2016, 2019 e 2021. Podemos estar diante, pela primeira vez, de um movimento histórico onde atletas e comissão técnica da Seleção Brasileira se juntam para dizer não aos dirigentes da CBF. Com certeza, se isto acontecer, o povo brasileiro os aplaudirá.

Tite pode sair

Acompanho o trabalho do técnico Tite desde o seu título de campeão gaúcho pelo Caxias. Como repórter e depois comentarista, pude estar mais próximo dele quando esteve no Grêmio e depois no Internacional. Chegamos a trabalhar juntos em um jogo da Copa do Mundo de 2010, quando dividimos o comentário da partida. É fácil perceber que Tite está totalmente desconfortável no comando da Seleção Brasileira e é possível afirmar que é bem possível que ele deixe o cargo, apoiando a decisão do grupo de não disputar a Copa América. A CBF tem até terça-feira para resolver esta situação ou procurar um novo treinador.

A lentidão que incomoda

Claramente o que mais incomoda até agora no time do Internacional é a lentidão com que os movimentos são executados. Por vezes, o time passa a impressão de que está ali por obrigação, esperando o tempo passar para os jogadores voltarem para casa e seguirem suas vidas. Claro que todos estão ali querendo a vitória e estão empenhados nisso, mas a execução do modelo de jogo os está deixando travados, vulneráveis e sem confiança. O time do Inter parece se contentar em ter a posse de bola, mesmo que não ataque o adversário. É importante dizer que um time propositivo não necessariamente é um time ofensivo.

Escolhas discutíveis

Tiago Nunes chegou vencendo e garantindo a sequência da supremacia Tricolor no Estado. Na Copa Sul-Americana, fez quase 100% dos pontos e garantiu a confiança do torcedor. Mas com a derrota na estreia do Brasileirão contra os reservas do Ceará, as críticas começaram, especialmente após a escalação inicial do time com Thiago Santos e Lucas Silva, deixando no banco Maicon, Jean Pyerre e Darlan. A escolha do treinador se mostrou em campo um enorme erro. Na estreia da Copa do Brasil, venceu o fraco Brasiliense e outra vez escalou a mesma dupla, tendo ainda o goleiro Paulo Victor como titular.