O Grêmio sem Renato

O Grêmio sem Renato

A importância de Renato ultrapassa os limites do campo de jogo, ele sempre se colocou na linha de frente para defender os interesses do Grêmio

Nando Gross

Renato está longe do estereótipo do gaúcho, mas a sua trajetória vencedora o coloca num patamar superior na história do clube

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Quando o treinador Renato Portaluppi chegou ao Grêmio em 2016, o time tinha uma ideia coletiva de futebol bem organizada por Roger Machado. Estava surgindo um modelo de jogo diferente no tricolor, um estilo propositivo, com posse de bola, linhas altas e pressão no jogador adversário que estivesse com a posse de bola. Roger saiu e Renato assumiu a equipe para dar o salto que estava faltando. Com a sua liderança e capacidade de gestão de grupo, mantendo a ideia de futebol implementada pelo seu antecessor, Renato recolocou o Grêmio de volta ao protagonismo das grandes competições, conquistando a Copa do Brasil e a Libertadores da América, além da hegemonia no futebol gaúcho.

Durante todo o período em que esteve à frente do Grêmio, ele conseguiu manter a ideia de um time competitivo e que sempre era apontado como um dos postulantes ao título. No ano passado, onde o Grêmio teve seu pior desempenho em campo, ainda assim chegou à final da Copa do Brasil e manteve a hegemonia no futebol do RS, sendo que nos confrontos contra o Inter, seu maior rival, jogou seis vezes e não perdeu nenhuma, ganhou quatro e empatou duas. Ou seja, mesmo a temporada não sendo boa, ainda assim Renato tinha bons argumentos para defender o seu trabalho.

Mas a importância de Renato ultrapassa os limites do campo de jogo, ele se tornou uma referência para os torcedores na medida em que sempre se colocou na linha de frente para defender os interesses do Grêmio e dos seus jogadores, muitas vezes exagerou, analisando derrotas de uma forma absolutamente única, ou em outras palavras, falando de um jogo que não havia acontecido, mas sempre defendendo de forma intransigente o clube.

Renato é do tipo que gosta de brincar no futebol, provocar e tirar onda com os adversários, mas ainda insiste com piadas machistas e frases sexistas, algo que está mais do que na hora de evoluir. Não foram poucos os relatos de torcedoras gremistas que já se mostraram incomodadas com a fala de Renato, objetificando as mulheres.

Renato está longe do estereótipo do gaúcho, como Felipão, é muito diferente de um Foguinho, mas a sua trajetória vencedora e personalidade marcante o colocam num patamar superior na história do clube. Nesta terceira passagem, se tornou o técnico que mais tempo ficou dirigindo o time gremista desde a sua fundação, em 1903.

Ainda em 2020 afirmei que era chegado o momento de Renato deixar o Grêmio, os sinais de desgaste eram claros. O presidente Romildo Bolzan Júnior tentou uma última cartada na Copa do Brasil para mobilizar o grupo, anunciando a renovação de contrato do treinador até o final de 2021. O Grêmio perdeu para o Palmeiras e apresentou os mesmos problemas de antes do anúncio da renovação.

A esperança de que as coisas poderiam estar melhorando veio com a vitória no Gre-Nal, mesmo que a atuação tivesse sido fraca. Mas contra o Independiente del Valle, o Grêmio foi eliminado jogando duas partidas e perdendo as duas, uma em campo neutro e outra em casa. Estava claro que era preciso buscar um novo caminho.

O fato de eu reconhecer e elogiar o bom trabalho desenvolvido nestes mais de quatro anos de clube, não me impede de afirmar que era chegada a hora de mudar. O Grêmio vai precisar reconstruir a sua estrutura no departamento de futebol, na medida em que Renato era o grande comandante do processo. É chegada a hora de traçar novos caminhos.

Mudar mudando

O Grêmio precisa “mudar mudando” e não basta apenas a alteração do técnico. Jogadores importantes já não conseguem mais ter sequência de jogos e é momento de renovar. Geromel e Kannemann formam uma zaga maravilhosa, mas há quanto tempo eles não conseguem atuar juntos? Maicon é um grande jogador, mas está claro que ele não consegue mais dar ao time o que é preciso. É importante, o mais rápido possível, definir o técnico e o modelo de jogo porque o calendário do Brasileirão não dá trégua para ninguém.

Taison chega para o Inter

O Inter anunciou oficialmente a contratação de Taison e agora o debate é onde ele se encaixa melhor na equipe colorada. Na minha opinião, nesta ideia de 4-3-3, não há muito o que discutir, Taison chega para jogar na extrema esquerda, com uma característica diferente do Patrick, já que ele gosta de partir do lado e fechar para o meio, mas é ali que eu acredito que ele será escalado. Pode até ser testado no meio, junto com Dourado e Edenilson, mas tudo indica que, num primeiro momento, Ramírez irá escalá-lo na esquerda, como fez com Palácios no jogo contra o Aimoré.

La Paz no caminho colorado

Conversei esta semana com o presidente do Inter, Alessandro Barcellos. Falamos de vários assuntos e perguntei sobre a logística para a estreia na Libertadores e a questão da altitude de La Paz. O presidente me respondeu que este é um assunto que o clube está procurando não dar muita atenção publicamente e nem falar em demasia com os atletas para não criar ansiedade em ninguém. Eu entendo perfeitamente, sou daqueles que começa a sofrer antes do acontecido, melhor nem ser avisado antes. La Paz tem 3.640 metros de altitude e o Inter até na sua logística quer evitar que ela seja assunto, tanto que a delegação vai desembarcar apenas no dia do jogo na cidade.


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