O futebol deve parar?

O futebol deve parar?

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis questiona o protocolo da CBF, que, segundo ele, não leva em consideração o contato de jogadores, funcionários e pessoas envolvidas no futebol.

Nando Gross

Jogadores de futebol submetem-se a testes quase que diariamente

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Existe hoje uma divisão na opinião pública: o futebol deveria parar neste momento em que o Brasil vive a pior fase da pandemia de Covid-19, ou deveria continuar porque ajuda inclusive as pessoas a ficarem em casa assistindo aos jogos pela televisão? Quem defende a paralisação argumenta que isso é fundamental diante dos recordes diários de casos e mortes de Covid-19 e o colapso do sistema de saúde no país.

O médico e neurocientista Miguel Nicolelis questiona o protocolo da CBF, que, segundo ele, não leva em consideração o contato de jogadores, funcionários e pessoas envolvidas no futebol. E afirma que a única maneira seria fazer como foi feito na NBA, onde todos ficam no mesmo local, só saem para jogar e voltam imediatamente, sem contato com ninguém.

Nicolelis afirma que não devemos negligenciar a aura simbólica que o futebol carrega em nossa cultura e atesta: “Se o futebol continua, passa a imagem de que tudo está normal”.

O ex-médico do Corinthians Jorge Kalil fala sobre um fato que é preocupante. Segundo ele, a Covid vem produzindo efeitos diversos nos atletas contaminados. Uns sentem bastante, outros nem tanto. Estudos apontam para chances altíssimas de sequelas tão graves quanto variadas. Kalil afirma que, “por ser uma moléstia que ataca especialmente o pulmão, parte da engrenagem tão vital para esportistas profissionais, o melhor seria dar uma pausa nas competições.”

Evidente que se reduzirmos a questão à análise de se o futebol é serviço essencial ou não, o assunto estaria encerrado. É lógico que não é serviço essencial, mas outros fatores estão sendo levados em conta neste momento, como o protocolo de testagens adotado pelas entidades esportivas e o argumento constantemente usado de que o futebol é fundamental para auxiliar às pessoas a passarem o tempo neste período de isolamento.

É assustador o que está acontecendo em nosso país: fracassamos totalmente no combate à pandemia e hoje temos mais de 4 mil brasileiros morrendo por dia. Nossa economia está inviabilizada, não é por fechamento deste ou aquele setor, o mundo todo fez isso, a questão é que aqui o presidente da República decidiu brincar de cowboy e subestimou o inimigo, não comprando a vacina para liquidá-lo. Quando se deu conta, o inimigo estava muito mais forte, e a consequência estamos pagando com as milhares de mortes diárias no país.

Nunca tivemos um plano nacional para enfrentar a pandemia, o plano era conviver com ela e isto definitivamente nós não queremos. Os países que estão vacinando já estão reabrindo as suas atividades e aos poucos retomando suas vidas. No Brasil, temos pouco mais de 10% da população vacinada com a primeira dose e, por termos nos atrasado para comprá-las, estamos recebendo a conta-gotas, muito longe das necessidades do povo brasileiro.

O futebol está tentando driblar tudo isso e seguir em frente. Até quando, só o tempo dirá, mas a tarefa não é nada fácil.

Inter nas alturas

O Inter ficou no Grupo B da Libertadores da América, junto com Olimpia, do Paraguai, Deportivo Táchira, da Venezuela, e Always Ready, da Bolívia. Teoricamente não é dos grupos mais difíceis, o Olimpia é o time com mais tradição, já os outros dois o maior problema está na questão do fator local. Na Venezuela é sempre muito complicado, sem falar na distância, mas o fato de não ter torcida ajuda bastante. O problema maior está no jogo contra o Always Ready, que será disputado em Potosí, cidade que está mais de 3,9 mil metros acima do nível do mar. Torna-se um jogo de alto risco, independente da qualidade do adversário, porque os reflexos da altitude nos atletas realmente são muito grandes.

Eurocopa com público

Com o atraso no combate à pandemia, o futebol brasileiro certamente não terá público até o final de 2021. Será mais uma temporada de jogos frios, com arquibancadas vazias e torcedores à distância. Enquanto isso, nos locais onde a vacinação avança aos poucos, já existe um planejamento para a volta dos torcedores. Na Europa, a Uefa anunciou que oito sedes da Eurocopa terão a presença de público nas arquibancadas. A confederação assegurou a realização de partidas em oito dos 12 estádios originais do torneio. Cada país definiu a capacidade de público que os estádios poderão receber de acordo com sua realidade sanitária e projeção com relação à pandemia.

Grêmio joga pouco e perde

O desempenho do Grêmio contra o Independiente del Valle foi absolutamente preocupante. O time equatoriano dominou totalmente a partida, e o resultado de 2 a 1 foi uma bênção para o Grêmio, na medida em que joga por uma vitória simples de 1 a 0 no jogo da volta, quarta-feira, na Arena. Foram 15 finalizações do Del Valle e apenas quatro do Grêmio, e um domínio técnico que chamou a atenção, afinal de contas o jogo foi em campo neutro, sem torcida e sem nenhuma altitude. O Tricolor vai ter de jogar mais para garantir vaga à fase de grupos.


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