As manifestações de Abel constrangem o Inter

As manifestações de Abel constrangem o Inter

Os resultados dentro de campo não foram bons, mas isto era compreensível na medida em que o técnico chegou às pressas

Nando Gross

Abel tenta reverter uma linha de queda que já havia apresentando a equipe sob o comando de Coudet

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As recentes manifestações do técnico Abel Braga demonstraram, de forma categórica, que ele não estava acompanhando os jogos do Internacional no Campeonato Brasileiro, nem na Copa do Brasil e na Libertadores da América. Todos sabem que o ex-técnico Eduardo Coudet foi embora do clube de uma forma intempestiva e em desacordo com o desejo dos dirigentes, isto fez com que o clube tivesse que correr atrás de um substituto o mais rápido possível.

Com a eleição marcada e o clube dividido politicamente, era preciso encontrar alguém que já conhecesse o ambiente, que tivesse afinidade com as características e o dia a dia do Beira-Rio. Por isso mesmo, eu fui um daqueles que considerou a contratação de Abel Braga como um acerto, mesmo sabendo que ele não seria o nome indicado para a manutenção de um projeto que pretendia mudar a filosofia de futebol implantada no clube.

As informações que me passaram é de que o técnico acompanhava os jogos do Internacional, conhecia o grupo de jogadores e, portanto, chegaria em Porto Alegre e imediatamente saberia exatamente o que fazer. Para minha surpresa, Abel declarou ao final do primeiro jogo contra o América no Beira-Rio, que não conhecia João Peglow, que não sabia das características deste jogador.

Ao final do segundo jogo contra o América, após a vitória nos 90 minutos e a derrota nas penalidades máximas, Abel confessou que não conhecia o time americano. Se disse surpreso com o fato de o adversário fazer a cobrança de escanteio curto.

O ideal seria trazer um treinador atualizado com todos os jogos do Campeonato Brasileiro, que conhecesse os jogadores que estão à disposição dos clubes e que chegasse para dar sequência ao trabalho até então vitorioso de Coudet.

Como já disse, dentro de uma situação emergencial, considerei acertada a contratação de Abel Braga, mas eu não tive a oportunidade e nem tinha obrigação de conversar com o técnico e saber das suas ideias e do seu conhecimento do que está acontecendo no futebol brasileiro atualmente, antes de contratá-lo. Ao conversar com ele e ouvir da sua boca o que depois disse publicamente, não teria como acertar a contratação.

O que aconteceu é que as ações que justificavam a vinda de Abel ruíram definitivamente após as suas últimas manifestações. Os resultados dentro de campo não foram bons, mas isto era compreensível, visto que o técnico chegou às pressas para tentar reverter uma linha de queda que já havia apresentando a equipe sob o comando de Coudet. O desastroso mesmo foi saber que Abel estava em casa sem assistir futebol e o mais grave, não teve ninguém no clube para lhe passar ao menos um relatório minucioso sobre cada jogador, além de todas as características dos seus próximos adversários. Em momento algum, culpei a diretoria do Internacional pela saída de Eduardo Coudet, para mim ficou muito claro que era desejo dele trabalhar na Europa e por isso abandonou o projeto no Internacional, mas sou obrigado a reconsiderar a contratação de Abel. Tudo indicava ser um acerto, mas a desinformação passada pelo treinador de forma pública é algo constrangedor para os dirigentes que decidiram a sua contratação.

Tenho o maior respeito por Abel Braga e a sua trajetória no futebol, é um dos maiores treinadores da história brasileira, mas ele chega em um momento de emergência, onde não existe um período para pré temporada e, portanto, seria fundamental estar bem informado sobre tudo o que está acontecendo no clube. É possível que com a sua capacidade e liderança, mesmo com todo o desconhecimento já manifestado publicamente, Abel possa superar as dificuldades e quem sabe mais uma vez fazer história no Internacional, mas infelizmente esta não é a lógica.

Renato vira o jogo

Com uma gestão de crise extremamente talentosa e uma capacidade de se reinventar impressionante, o técnico Renato novamente recoloca o Grêmio entre os times que praticam um futebol vistoso e de alta qualidade no Brasil. O Grêmio sob comando de Renato por diversos momentos praticou o melhor futebol do país, talvez o mais representativo da escola brasileira de jogar, com posse de bola, toques curtos, jogadores de alta capacidade técnica e envolvimento do adversário. O Grêmio parecia ter perdido tudo isso e como num passe de mágica, Renato mais uma vez achou a solução, e o Tricolor mais uma vez chega forte nas três competições que disputa no momento. 

Experiência ou qualidade?

Abel escalou um time para enfrentar o América-MG sem levar em conta a qualidade técnica dos atletas. Ele mesmo justificou a escolha tendo a experiência como principal critério. Conseguiu uma vitória de 1 a 0 que depois foi desperdiçada nos pênaltis, mas apresentou um futebol sonolento e um time absolutamente inofensivo no ataque. Enquanto isso, Renato apostou na juventude e escalou Matheus, Darlan, Jean Pyerre e Pepê, e passeou em cima do Cuiabá. Será que esta história de experiência é realmente o principal critério nas horas decisivas? Escalar os melhores não seria o ideal?

Richarlison em Porto Alegre

O atacante Richarlison não entra nessa de que atleta não deve se envolver em causas sociais ou políticas. Quando George Floyd Jr. foi assassinado por um policial branco nos Estados Unidos, ele postou em suas redes sociais uma caricatura do norte-americano acompanhado do adolescente brasileiro João Pedro, também negro e igualmente baleado por forças policiais na mesma época, no Rio de Janeiro. Depois do crime em Porto Alegre, ele escreveu ontem em seu twitter: “Parece que a gente não tem saída... Nem no Dia da Consciência Negra. Aliás, que consciência? Mataram um homem negro espancado na frente das câmeras. Bateram e filmaram. A violência e o ódio perderam de vez o pudor e a vergonha. George Floyd, João Pedro, Evaldo Santos foram em vão?”


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