A ansiedade extravasada no futebol

A angústia dos dias difíceis da pandemia está sendo extravasada na atual insatisfação quase geral dos torcedores brasileiros com as suas equipes. Ninguém parece satisfeito, e o pior: todos têm motivos para isso, à medida em que não existe nenhuma equipe no país praticando um futebol de encher os olhos, nem mesmo o milionário Flamengo. Os jogos em geral são lentos, e a ausência do público deixa tudo ainda mais sem graça. Mas também é verdade que os ânimos estão acirrados por conta do isolamento e da mudança brusca que sofremos em nossas vidas. O futebol sempre foi uma válvula de escape, um momento de lazer e com direito a esquecer os problemas e focar na disputa. A pandemia proibiu os torcedores de irem ao estádio e colocou a todos nós diante de uma tela. Lidar com isso tem sido muito difícil.

Vejo as notícias e não encontro uma torcida vibrando com o desempenho do seu time, todos em geral reclamam. Talvez seja necessário admitir que o nível de exigência está elevado demais para o que o nosso futebol pode apresentar. Mesmo as equipes que estão conseguindo bons resultados são questionadas porque a qualidade do espetáculo apresentado é muito baixa. A torcida do Grêmio ainda tem na sua memória aquele time que, como Renato se orgulhava de repetir nas entrevistas, jogava “o melhor futebol do Brasil”. Mesmo quando perdia, o técnico sempre lembrava do desempenho da sua equipe.

No momento, o que o Grêmio pode alegar é que tem bons resultados, porque o desempenho é muito abaixo de anos anteriores. O time de Renato finalizou em primeiro lugar no seu grupo da Libertadores, já está nas quartas de final da Copa do Brasil, conquistou o Gauchão e não perdeu nenhum clássico Gre-Nal. É verdade, no Brasileirão a campanha é despretensiosa, mas enfim, esta é a maneira do clube encarar esta competição. No mais, os objetivos estão sendo atingidos e isto tem respaldado o trabalho.

Tanto na Libertadores quanto na Copa do Brasil, os próximos adversários são de estatura menor do que o Grêmio, portanto é grande a possibilidade de avançar em ambas. Mas converse com os torcedores gremistas e veja se estão satisfeitos. A maioria não está, o futebol apresentado é muito inferior ao que todos estavam acostumados até bem pouco tempo e isto tem incomodado profundamente.

O Inter é líder do Brasileirão, algo que nenhum colorado imaginava antes de a competição começar. Na Libertadores, Coudet pegou na chamada “pré” e já colocou a equipe nas oitavas de final. O drama do ano chama-se Gre-Nal. O fracasso nos clássicos custou ao Inter o título do Gauchão e a liderança do grupo na Libertadores. Se analisarmos os resultados diante da expectativa que se tinha, eles são muito melhores, mas o torcedor quer mais, quer ver jogos de qualidade, quer ver seu time jogando melhor e isto não acontece. Mas atenção, isto não acontece no atual futebol brasileiro, não é só por aqui, salvo alguns momentos de maior qualidade em jogos pontuais, mas a média é de baixa qualidade. Portanto, o melhor é reduzir o nível de exigência e tratar de vibrar quando os resultados positivos acontecerem.

Sorteio foi bom para a Dupla

Evidente que não existe jogo jogado, mas é inegável que o sorteio da Copa do Brasil foi bom para a dupla Gre-Nal. O Inter pega o América-MG, e o Grêmio, o Cuiabá. Mesmo sabendo que os dois times chegaram até aqui por seus méritos, não há como negar o total favoritismo da Dupla para passar à próxima fase. Ficar fora da Copa do Brasil, sendo desclassificado por América-MG ou Cuiabá, convenhamos que não é algo muito recomendável.

Não é bem assim

Sempre defendi que o presidente do Inter, Marcelo Medeiros, deveria deixar o clube apenas ao término da participação do time nas competições em que está envolvido. A resposta que sempre me deram foi a de que o próprio presidente teria recusado esta ideia. Pois entrevistei Medeiros esta semana no meu canal no YouTube e não foi o que ele me disse. Garantiu que não houve nenhuma consulta formal ao Conselho de Administração sobre a possibilidade. Não faz sentido tratar o ano de 2020 de uma forma normal, como se nada tivesse acontecido. Medeiros pegou o clube na segunda divisão e de quebra enfrentou a pandemia, tinha o direito de ficar.

Futebol na rede

Na final da Uefa Champions League, entre PSG e Bayern de Munique, o Facebook reuniu 13,7 milhões de espectadores, um aumento de 170% em relação à decisão da primeira edição transmitida pela empresa, em 2018/2019. No Brasil, o pico de audiência foi de 4,3 milhões de pessoas assistindo simultaneamente ao jogo. Na Libertadores, o Facebook tem um pacote de jogos de quinta-feira que inclui pelo menos uma partida dos grandes times brasileiros na fase de grupos. Mas não tem direitos de jogos mata-mata das fases finais. Mas o Facebook mostra que entrou no jogo para ganhar.