Obrigado, Pelé

Obrigado, Pelé

Confesso ter enormes dificuldades de reproduzir em palavras o tamanho da minha admiração pelo Rei do Futebol

Nando Gross

Pelé em ação na inesquecível Copa do Mundo de 1970

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Como a maioria das crianças brasileiras nascidas nos anos 1960, eu sempre fui um guri apaixonado por futebol. Este interesse foi despertado de forma definitiva quando aos oito anos assisti à Copa de 1970 ao vivo pela televisão. Ainda em preto e branco, mas pela primeira vez tínhamos as imagens em tempo real e quis o destino que isto acontecesse exatamente na Copa onde o Brasil apresentou a maior equipe de futebol já vista no planeta. Pelé era para mim algo inalcançável, inatingível, um ser vindo do além, acima do real. Quando fui assisti-lo ao vivo no estádio, meus olhos o seguiam fixamente, independente de onde estava a bola. Pelé se tornou adjetivo, quando você quer definir alguém como o melhor, pode dizer sem medo de errar que ele ou ela é o Pelé naquilo que faz.

Pelé é o brasileiro mais famoso e mais bem sucedido do mundo. Em várias atividades existem gênios, como na pintura, na música, no cinema, no esporte e na ciência, mas eles dividem atenções com outros, Pelé é o único que você define como o melhor, o único nota 10, perfeito em todos os movimentos, alguém que atingiu o máximo, o limite. O único atleta masculino ou feminino a vencer três Copas do Mundo e marcar 1281 gols em 1363 jogos pelo Santos e pela Seleção Brasileira. Pelé atuou numa época em que os jogadores tinham pouca influência nas relações de trabalho, por isso ele nunca jogou fora do Brasil. O Santos recusou ofertas milionárias de clubes como Real Madrid e Milan e a pressão para que ele não deixasse o país chegou ao ponto de em 1961 o então presidente Jânio Quadros emitir um decreto declarando Pelé um "tesouro nacional" que não podia ser "exportado".

São inúmeras histórias sobre Pelé e cobranças de todos os lados para que ele fosse fora de campo tão perfeito como foi dentro dele. É simplesmente impossível, ele sempre soube disso e sempre que pôde, salientou as diferenças do jogador para o homem. Dentro de campo ele foi perfeito, não há como exigir o mesmo fora dele.

Desde quando jogava, Pelé sempre foi próximo dos artistas da música popular brasileira e chegou inclusive a gravar um disco com Elis Regina. Quando fez o milésimo gol chamou a atenção do país para o descaso com as crianças, muitos deram risadas, mas basta olharmos à nossa volta para constatar que a sua preocupação era procedente. Foi ministro, virou nome da lei que passou a dar direitos aos atletas nas negociações de seus contratos, acabando com a instituição do “passe”, que fazia o clube dono absoluto do jogador. Pelé deu autoestima para os brasileiros e nos elevou ao patamar de “país do futebol”, antes dele Nélson Rodrigues escrevia sobre o nosso “complexo de vira-lata”.

Foi a Revista France Football que concedeu a Pelé o título de Rei do futebol e foi a mesma revista que em 2014 fez uma correção histórica. A premiação da Bola de Ouro foi criada em 1956, mas limitada apenas para europeus que atuassem na Europa. Em 1995 a premiação permitiu que qualquer jogador em atividade no continente disputasse o prêmio e somente em 2007 a revista abriu para o mundo.

Em 2014, Pelé foi convidado para a cerimônia do prêmio de melhor jogador do mundo e durante a premiação foram entregues a ele sete troféus da Bola de Ouro. A France Football revisou toda a lista usando as regras atuais e decidiu conceder a Pelé uma correção histórica. Na revisão, Pelé teria vencido em 1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1965 e 1970. Pelé está na minha vida desde a infância e confesso ter enormes dificuldades de reproduzir em palavras o tamanho da minha admiração por ele. Por isso me limito a agradecer. Obrigado, Pelé.

Erro de estratégia

O Internacional provavelmente não tenha prestado atenção na diferença dos adversários que pegaria nas oitavas de final caso tivesse ficado na primeira colocação do seu grupo na Libertadores. Esta é a única explicação que encontro para Patrick não ter viajado e Galhardo e Edenilson terem ficado no banco de reservas. Bastaria analisar as últimas atuações do Grêmio para perceber que não era nada improvável um tropeço diante do América. O Inter resolveu tentar ganhar o seu jogo já na metade do segundo tempo, mas acabou não dando certo. Agora pega o Boca, invicto na temporada e com a melhor defesa da Libertadores. Evidente que poderá ganhar, mas o favoritismo é todo dos argentinos.

Um jogo para sonhar com o título

Já o jogo deste domingo vai estabelecer com clareza o quanto o Internacional tem realmente de chances de disputar o título brasileiro. Não se trata apenas de ganhar ou perder, mas da forma como vai se dar o enfrentamento. O Flamengo tem o melhor elenco do Brasil, é sim o favorito ao título e parece ter reencontrado o seu futebol, mas estes são fatores teóricos que dão esta vantagem ao time carioca, não significa que isto será materializado em campo, cabe ao Inter subverter esta lógica.

Resultados bons, atuações ruins

Dá para se dizer que o ano de 2020 tem sido generoso com o Grêmio. O time de Renato tem jogado muito pouco e mesmo assim vem conseguindo bons resultados. O Tricolor conquistou o Gauchão de forma melancólica e, apesar das atuações pífia,s finalizou em primeiro lugar do seu grupo na Libertadores da América. O adversário da próxima fase é o modesto Guaraní do Paraguai, que eliminou o Corinthians da competição, mas que está longe de ser uma equipe da primeira linha do futebol sul-americano. Evidente que o Grêmio é o favorito, mas pelo futebol que vem apresentando até agora, não é possível cravar uma classificação gremista para a próxima fase. O fato é que até agora o Grêmio tem resultados bem acima do seu desempenho.


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