O recado negativo que o Santos manda para o futebol

O recado negativo que o Santos manda para o futebol

O machismo estrutural é cultural e muitos brasileiros ainda normalizam situações de violência sexual contra as mulheres.

Nando Gross

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 A polêmica contratação de Robinho por parte do Santos ganhou um novo capítulo após a divulgação da sentença que condenou o atleta a nove anos de prisão na Itália. Importante dizer que o julgamento em primeira instância na Itália não é feito apenas por um juiz e sim por um tribunal e ainda com participação popular.

A sentença da Justiça italiana que condenou, em primeira instância, Robinho e um amigo a nove anos de prisão por violência sexual de grupo contra uma jovem de origem albanesa, mostra que as interceptações telefônicas realizadas contra os envolvidos ao longo da investigação foram decisivas para o veredito. É verdade que ainda cabem recursos em duas instâncias e por isso o atleta não poderá ser chamado de “condenado” e sim de “condenado em primeira instância”, mas a transcrição das conversas telefônicas são estarrecedoras e mostram um grau de monstruosidade que será difícil Robinho ter algum ambiente para jogar no futebol brasileiro. O futebol é muito mais do que simplesmente um esporte onde há vencidos e vencedores. Trata-se de uma paixão popular, que forma opinião, paralisa guerras e é capaz de promover confrontos extremamente violentos entre torcedores. Um atleta que atua em um grande clube terá sempre seu nome vinculado à instituição e aos seus torcedores. Alguma empresa quer seu nome ligado a Robinho atualmente? A Orthopride, empresa de ortodontia, rompeu contrato com o Santos assim que a contratação foi anunciada. O patrocinador anunciava dentro dos números da camisa do clube desde maio de 2018.

E os demais parceiros comerciais do Santos trataram de divulgar notas oficiais para esclarecer que são contrários a toda e qualquer situação de violência, mas justificam não terem poder de opinar nas contratações do clube. Mas a expectativa é que as marcas esperem um pouco mais para ver a repercussão para então decidirem qual o caminho a seguir. O Santos presta um desserviço ao futebol neste momento. A pandemia fez crescer os números da violência contra as mulheres no Brasil, e a contratação de Robinho é uma homenagem à impunidade que infelizmente ainda existe no país em casos de violência contra as mulheres.

Não se trata de pré-julgamento, a sentença revela áudios que confirmam as denúncias, é muito triste saber que um jogador como Robinho, com passagens por grandes clubes do futebol mundial e atleta da seleção brasileira tenha feito algo deste nível, mas o passado de ninguém autoriza os seus atos no presente. O machismo estrutural é cultural e muitos brasileiros ainda normalizam situações de violência sexual contra as mulheres. O Brasil não tem acordo de extradição com a Itália e é muito provável que Robinho, mesmo condenado em última instância pela justiça italiana, nunca cumpra pena naquele país. Um clube de futebol é muito mais do que títulos, o seu maior patrimônio é a sua torcida e ele precisa ter princípios éticos que respeitem estes torcedores. Os detalhes divulgados da sentença de Robinho são revoltantes para qualquer pessoa que tome conhecimento, imagino então para as mulheres, especialmente as santistas, como poderão conviver com uma situação deste tipo?
Foi-se o tempo em que se dizia que “o futebol vive numa bolha”, os clubes representam seus torcedores e devem ter responsabilidade social e sempre procurar promover valores positivos de vida, jamais respaldar atos criminosos como estes que condenaram Robinho em primeira instância na justiça italiana.

A coragem de Felipão

Felipão é mesmo corajoso, fechou contrato até o fim de 2022 com o Cruzeiro. Ele estava havia mais de um ano e meio sem clube, desde que saiu do Palmeiras. A marca negativa dos 7 a 1 ficou muito forte na imagem do treinador, mas ele ganhou uma Copa do mundo vencendo todas as sete partidas que disputou, acumulou títulos nos principais clubes brasileiros, não tem mais nada para provar, é um vencedor, está rico e poderia se aposentar para curtir a vida, mas decidiu aceitar o desafio, porque é isso que move Scolari. Pela sua capacidade de mobilização e o respeito que os atletas têm pela sua trajetória, acredito que o Cruzeiro poderá reagir a partir da sua chegada. 

The King of Rome

Ontem foi aniversário de Paulo Roberto Falcão, o catarinense que veio ainda criança para o Rio Grande do Sul e se transformou no maior jogador da história do Internacional. O futebol gaúcho ganhou outra dimensão com a chegada de Falcão e as conquistas que ele liderou naquele time colorado dos anos 1970. Até então a dupla Gre-Nal rivalizava em títulos regionais, mas a partir de 1975 e a conquista do primeiro título brasileiro do Inter, os objetivos se ampliaram e hoje temos a dupla num outro patamar.

Falcão chegou a Roma e liderou sua equipe na conquista do Scudetto na campanha de 1982-1983, quebrando um jejum de 40 anos, e por três vezes a Copa da Itália (1980–81, 1981–82 e 1983–84). Transformou-se no Rei de Roma. Encantou na Copa de 1982 com a seleção que apaixonou o país mas, por um capricho do futebol, não ganhou. A história em geral é registrada pelos vencedores, mas nas copas de 1950, 1974 e 1982, Hungria, Holanda e Brasil, respectivamente são sempre reverenciadas.

Falcão fez história também em 1979, quando levou o Inter ao tricampeonato nacional de forma invicta, algo inédito e nunca mais repetido até hoje. Foi comentarista de sucesso na televisão e acredito que intimamente ainda aguarda uma oportunidade justa de se afirmar como técnico, esta é a sua verdadeira ambição. Falcão é um homem de ideias, tem conceitos claros sobre futebol e é mestre na avaliação técnica de jogadores, em qualquer país do mundo estaria atuando como treinador ou diretor de futebol em algum clube. Nos seus 67 anos fica a homenagem desta coluna a Paulo Roberto Falcão e o agradecimento por tudo o que fez e segue fazendo pelo futebol.


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