Milongas reaquecidas ao frio de Ramil

Milongas reaquecidas ao frio de Ramil

Editor do Caderno de Sábado comenta a edição especial de 25 anos de "Ramilonga - a Estética do Frio"

Luiz Gonzaga Lopes

Vitor Ramil comemora os 25 anos de "Ramilonga - a Estética do Frio com edição especial do disco de 1997

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A sensação que se tem ao ouvir o abrir lívido do fole do harmonium de Roger Scarton e o pulsar do contrabaixo de Nico Assumpção, com o dedilhado bem assentado de Vitor Ramil, nos primeiros acordes de “Ramilonga”, abrindo a edição especial, remixada e remasterizada, é que o disco “Ramilonga - A Estética do Frio - 25 anos” faz com que nos aprocheguemos da escuta íntima com os ouvidos da alma. O novo álbum aparece em um formato físico nostálgico, no modo caderno de anotações com páginas brancas e quadriculadas, com manuscritos de Vitor Ramil, os rascunhos e rasuras na concepção das letras, algumas fotos, e o álbum em CD, com a faixa-bônus, “Milongamango”, uma colagem musical de três milongas do repertório, “Milonga”, “Indo ao Pampa” e Milonga de Sete Cidades”, que à maneira de um Libertango, de Piazzmais, se acelera e pausa com a voz do poeta João da Cunha Vargas, extraída de fita cassete, na récita do poema “Mango”, que Vitor havia musicado e gravado no álbum “délibáb” (2010). 

São 25 anos passados em revista e a saudade das cordas do violino de Zé Gomes e do baixo de Nico Assumpção, que já nos deixaram, se somam ao “recuerdo” dos arranjos sensacionais para a cítara (sitar) de André Gomes em “Noite de São João” e “Causo Farrapo”. André me remete ao Cheiro de Vida, pois Alexandre Fonseca está ali nas tablas e percussão marcando o ritmo de outro tempo das milongas de Vitor. A milonga, assim como o chamamé e a chacarera, nos aproxima do nosso berço pampeano e “gaucho” que inclui Argentina e Uruguai. Em entrevista concedida a mim nesta semana, Vitor disse que “Ramilonga”, a música e também o disco, acabaram sendo um centro gravitacional da obra dele, as canções e conceitos que definiriam o que seria a sua carreira dali por diante. E são tantas canções com a lindeza do esmero de compositor que esquecer de alguma delas seria imperdoável, mas “Gaudério” é tão visceral com o baixo de Nico Assumpção e uma espécie de pajada musical de Vitor, que vale destacar assim como as clássicas “Deixando o Pago” e “Semeadura”. Vale a pena ouvir de novo nas plataformas e em CD.


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