Os livros vão dominar até o fim do ano

Os livros vão dominar até o fim do ano

Colunista traz informações sobre Flip, Feira do Livro de Porto Alegre, Feira de Sharjah e FliAraxá

Luiz Gonzaga Lopes

Escritora londrina Bernardine Evaristo está confirmada na Flip

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 Desde que o isolamento social começou por causa da pandemia da Covid-19, em março, as lives musicais pareciam ser as maiores campeãs de audiência, pois oferecem entretenimento, um aprofundamento sobre o artista e sua condição caseira e canções que cativam o público.

Pois do final de outubro até dezembro, os livros e a boa literatura é que exercerão o seu fascínio sobre o mundo virtual. Como amostragem, trago informações sobre quatro eventos literários que serão realizados entre 28 de outubro e 6 de dezembro.

Três deles, eu cubro ou já cobri presencialmente: a tradicional Feira do Livro de Porto Alegre em sua 66ª edição, a 18ª edição da Flip de Paraty (RJ) e a 39ª Feira Internacional de Sharjah, nos Emirados Árabes. O Festival Literário de Araxá (MG) é uma aspiração de cobertura em 2021. Nesta coluna, dou um panorama sobre estes eventos literários. 

Paraty nas redes

A Flip – Festa Literária Internacional de Paraty vai realizar a sua 18ª edição, de 3 a 6 de dezembro de 2020, em formato virtual, pelas redes sociais. A programação será composta por mesas transmitidas ao vivo em plataforma própria e nas redes sociais da Flip, além de vídeos gravados, eventos paralelos e programações de parceiros.

Para as mesas ao vivo, estão confirmadas as presenças de autores internacionais como a britânica Bernardine Evaristo (Londres, 1959 – vencedora do Booker Prize 2019), a colombiana Pilar Quintana (Cali – Colômbia 1972) e o baiano Itamar Vieira Junior (Salvador-BA, 1979). Segundo o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, “A Flip Virtual contará com uma linguagem própria que respeita o sentido original e o espírito da Festa: ser mais do que um mero evento, estabelecendo uma relação duradoura e permeável com Paraty”.

Uma das mudanças da edição deste ano foi a escolha e depois o cancelamento da figura do autor homenageado, que seria Elizabeth Bishop, mas o apoio dela ao golpe militar de 1964 acabou gerando reações negativas de escritores e os organizadores resolveram não ter homenageado, respeitando também o momento de pandemia. “Entendemos que este ano a pandemia causou a morte de artistas imprescindíveis à nossa cultura. Portanto, este não é um momento de celebração. Assim, não teremos um autor específico em destaque, iremos homenagear coletivamente os que partiram”, lembra Liz Calder, presidente do Conselho da Flip. Mais pelo www.flip.org.br 

Oliveira Silveira recebe debate especial no dia 11 de novembro, na Feira de Porto Alegre.  Acervo Naiara Silveira / Divulgação / CP Memória 

Precisamos falar sobre Faraco e Oliveira Silveira 

A 66ª Feira do Livro de Porto Alegre será realizada de 31 de outubro a 15 de novembro de forma virtual. Diferentemente de outros anos, a Feira também escolheu o primeiro patrono negro de sua história, o escritor Jeferson Tenório, e está investindo nas temáticas que permeiam estes momentos atuais do século XXI, como a diversidade de raças, etnias e gêneros e também os assuntos como a reflexão sobre a própria literatura e sobre a saúde pública.

Dois eventos serão especiais, as mesas em homenagem a dois grandes escritores e/ou ativistas, Sergio Faraco e Oliveira Silveira. Faraco recebe mesa no dia 3 de novembro, às 19h30min, com  o professor e ex-patrono Luís Augusto Fischer, Nóia Kern e Altair Martins. Em 25 de julho de 2020, o autor alegretense completou 80 anos de idade. O debate especial tratará dos contos concisos, precisos e ásperos de Faraco, autor de obras como “Dançar tango em Porto Alegre” (L&PM, 1998), “Noite de matar homem” (L&PM, 2008), “Majestic Hotel” (L&PM, 1991) e cuja antologia “Contos completos” (L&PM, 2011) é imperativa em qualquer estante de leitor que se preze. 

No dia 11 de novembro, 18h, a mesa Para Celebrar Oliveira Silveira reúne o patrono Jeferson Tenório, o crítico e ex-patrono Antonio Hohlfeldt e Lilian Rocha. O poeta e pesquisador da cultura afro-brasileira Oliveira Silveira, um dos fundadores do Grupo Palmares e autor de livros como “Décima do negro peão” (1974) e “Pelo Escuro” (1977). Ele morreu há pouco mais de 11 anos e suas ideias e obras nunca estiveram tão atuais e tão necessárias.  Mais pelo https://feiradolivropoa.com.br/

O mundo lê Sharjah 

Se este tema da 39ª Feira Internacional do Livro de Sharjah (SIBF), nos Emirados Árabes Unidos, “O mundo lê Sharjah”, ainda não é uma verdade unânime, não falta muito para que todos leiam obras advindas de contatos e negócios feitos nesta Feira que reúne todo o ano mais de 2,5 milhões de pessoas durante 11 dias. Uma das três principais feiras do livro do mundo, o evento, que será realizado de 4 a 14 de novembro, é um dos responsáveis por disseminar as traduções de livros árabes pelo mundo e de verter para o árabe livros de línguas como inglês, francês, espanhol e português como foi o caso recente de “Longe das Aldeias”, de Robertson Frizero, que ganhou uma tradução ao árabe feita pelo egípcio Mark Gamal para a editora Takween, com sede no Kuwait e Iraque.

A programação cultural será virtual enquanto as editoras estarão presencialmente recebendo público no Sharjah Expo Center, que terá visitação controlada. O tema da Feira tem a ver com a posição de liderança de Sharjah como uma incubadora da cultura árabe e um centro criativo que atrai intelectuais, escritores e artistas para conhecer e compartilhar experiências. A cidade foi a Capital Mundial do Livro em 2019. O presidente da Autoridade do Livro de Sharjah, Ahmed bin Rakkad Al Ameri destaca que a decisão de realizar uma edição excepcional neste ano, apesar dos desafios da pandemia, é direcionada para beneficiar os leitores e editores locais, regionais e globais. 

Feira Internacional de Sharjah terá programação cultural virtual e presença controlada de público. Satish Kumar / SIBF / Divulgação / CP 

As línguas em português em Araxá 

Se nós já gostamos de literatura naturalmente, quiçá aquela feita originalmente em língua portuguesa. O 9º FliAraxá – Festival Literário de Araxá se apropriou de uma frase de José Saramago para o tema/conceito do evento. A frase é "Não há uma língua portuguesa, há línguas em português", extraída do documentário “Língua – Vidas em Português”, de Victor Lopes. O evento será de 28 de outubro a 1º de novembro, nas telas do Youtube, Facebook e Instagram, com transmissão do palco do Teatro Tiradentes, no Grande Hotel de Araxá, alternando momentos híbridos, com participações ao vivo de autores e músicos locais, mas sem público. Tudo ancorado pelo criador do Festival, o jornalista Afonso Borges. Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, cujos centenáriios de nascimento são comemorados neste ano serão os patronos; e Conceição Evaristo e José Eduardo Agualusa, os autores homenageados. Calmon Barreto será o patrono local.

A lista de autores inclui nomes como Ondjaki (Angola), Germano Almeida (Cabo Verde); Ungulani Ba Ka Khosa e Mia Couto (Moçambique); Valter Hugo Mãe, Bruno Vieira Amaral, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Teolinda Gersão e Afonso Cruz (Portugal); além de autores de São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Guiné-Bissau. Do Brasil, nomes como Jeferson Tenório, Paulo Scott, Luiz Ruffato, Lira Neto, Alberto Mussa, Elisa Lucinda, Lilia Schwarcz, Adriana Lisboa, Milton Hatoum, Nélida Piñon, Marina Colasanti, Itamar Vieira Júnior, Ailton Krenak, estão confirmados. Mais: youtube.com/fliaraxa - Instagram, Facebook e Twiter: @fliaraxawww.fliaraxa.com.br.  

José Eduardo Agualusa será escritor homenageado pela FliAraxá junto com Conceição Evaristo. Crédito: Miguel Manso / Divulgação / CP Memória 


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