A próxima vítima

A próxima vítima

Para Pequim, Taiwan é uma província rebelde que deve ser resgatada

Jurandir Soares

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Os Estados Unidos não ligaram para a advertência que o presidente chinês Xi Jinping fez ao seu colega americano, Joe Biden, em diálogo virtual, quinta-feira passada, para “não brincarem com fogo”. O fogo é Taiwan, a ilha que se considera independente, mas que Pequim vê como uma província rebelde e quer resgatar. A faísca que poderia acender o pavio seria a ida a Taiwan da presidente do Congresso americano, a deputada democrata Nancy Pelosi. Pois, na terça-feira, Nancy chegou à ilha para encontros com autoridades locais, inclusive com a presidente Tsai Ing-wen. Num completo desafio às advertências chinesas.

Os chineses consideram não só fato de que ela é a segunda na linha sucessória dos Estados Unidos, mas, também, a atitude que ela teve em 1991, ao visitar Pequim, quando foi até a Praça da Paz Celestial e desfilou um cartaz em homenagem às vítimas da repressão, ocorrida naquele mesmo local dois anos antes, quando estudantes protestaram por democracia. Mesmo antes da chegada de Nancy, os chineses já estavam reagindo com fúria, com o jornal estatal do Partido Comunista sugerindo que o avião da legisladora fosse derrubado. Manobras militares sugerindo a invasão de Taiwan logo começaram a ser realizadas.

O fato é que os EUA deram um passo importantíssimo na sua disputa com Pequim. Mostraram que o governo chinês não tem poder para determinar onde um dirigente americano pode ou não ir. Mesmo sabendo do risco decorrente da decisão. Correu a informação de que o presidente Biden era contra a ida de Nancy a Taiwan, mas respeitou a independência dos poderes. Acontece que os EUA não têm para com a China, assim como para com a Rússia, uma política de governo, e sim, uma política de Estado. E a posição é de defesa da democracia de Taiwan.

Esta defesa, no entanto, vai até o limite do fornecimento de armas e equipamentos para a ilha. Porém, não implicará em uma ação militar em caso de invasão por parte da China. Aliás, esta invasão parece estar cada vez mais perto. A própria visita de Nancy pode ter acelerado esta decisão. Que pode acontecer até em decorrência das atuais manobras que a China está realizando. Pois, nestas manobras, navios de guerra chineses têm penetrado em águas territoriais de Taiwan, assim como aviões têm violado o espaço aéreo da ilha. Além do disparo de mísseis que têm passado por sobre a ilha e caído no mar a Leste. Como são manobras agressivas, Taiwan tem mobilizado suas forças de defesa, com o consequente perigo de um enfrentamento. Vale lembrar que Hong Kong foi devolvido pela Inglaterra à China em 1997, mediante um acordo que garantia a manutenção ali das leis britânicas por 50 anos. Não chegou nem na metade desse período e Pequim já impôs seu tacão sobre a província, acabando com as liberdades ali vigentes. A perspectiva para Taiwan é de que será a próxima vítima.

 


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