Imprevisibilidade da guerra

Imprevisibilidade da guerra

Temor é de um conflito muito mais amplo e de consequências impensáveis

Jurandir Soares

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Há um dito de que uma guerra se sabe como começa, mas não se sabe como termina. E esta da Ucrânia é uma delas. Até porque o que, na cabeça de Vladimir Putin, seria uma rápida “operação especial” está se tornando um massacre de civis e uma fuga em massa da população ucraniana. E é impensável o fato de se cogitar o uso de armas nucleares como fez o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. A Rússia sabe que tem força suficiente para dominar a Ucrânia. Mas sabe também que o seu potencial bélico é muito inferior ao do Ocidente. Daí a ameaça com algo que torna tudo igual: a bomba atômica. Mata todo mundo.

Espera-se que Putin não seja louco a tal ponto. No entanto, é preocupante a dimensão que o conflito vem tomando. Especialmente, depois que a Rússia atacou uma base militar ucraniana a apenas 25 km da fronteira com a Polônia, que é um país-membro da Otan. E é sempre importante lembrar que o artigo 5º do estatuto da Organização estabelece que um ataque a um país-membro significa um ataque a toda a entidade. 

A rigor, o uso de armas atômicas ou mesmo químicas poderia ser considerado um blefe de Putin. Porém, todo mundo também achou que ele estava realizando manobras militares no entorno da Ucrânia. O que se viu, no entanto, foi um país cercado.

Pouco se obteve em termos de negociações. A não ser para uns poucos corredores humanitários, alguns violados pelos russos. Putin deu as cartas para acabar a guerra: Ucrânia não entrar na Otan, se tornar um país neutro, aceitar a Crimeia como território russo, aceitar a independência das províncias separatistas do Donbas e não entrar na União Europeia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já anunciou sua disposição de abrir mão do ingresso na Otan. O que, aliás, já devia ter declarado antes da eclosão da guerra. Quem sabe tivesse evitado o conflito. Agora, a Rússia vai em frente, e os pedidos sobre Crimeia e Donbas muito possivelmente terão que ser aceitos. A única questão que não pode ser aceita é o veto à entrada da Ucrânia na União Europeia. E este direito poderia ser exigido em troca do aceite das outras questões.

Mas para se resolver estas questões é preciso a atuação de negociadores, outros que não da Rússia e da Ucrânia. Estes estão mais preocupados na imposição de sanções e em aumentar as ameaças bélicas do que buscar uma negociação entre os dois contendores. Daí o fato de aumentarem os temores de uma guerra muito mais ampla e de consequências imprevisíveis.

 


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