A substituição da estadista

A substituição da estadista

Angela Merkel, depois de 16 anos à frente do governo alemão, abre caminho para seu sucessor

Jurandir Soares

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A Alemanha realiza eleições parlamentares neste domingo, as quais deverão definir quem será o substituto da chanceler, Angela Merkel, que, depois de 16 anos à frente do governo, decidiu não mais concorrer. Durante esse período ela se consagrou como a maior líder da Europa e uma das maiores do mundo, senão a maior. Em meio a crises profundas, como a financeira, de 2014-15, dos migrantes, 2015-16, e da pandemia do coronavírus, 2020-21, ela soube conciliar pragmatismo, pulso firme e respeito aos direitos humanos. Dependendo da data em que o próximo governo for empossado, Merkel pode superar seu mentor, Helmut Kohl — premiê de 1982 a 1996 —, como a que mais tempo ficou no cargo. O recorde pode ser batido em 19 de dezembro deste ano.

Superando ou não o recorde de tempo no governo, o certo é que Merkel sai com seu prestígio em alta. As pesquisas dão 70% de aprovação. Em seus quatro mandatos, a chanceler consolidou um estilo de governar que virou até verbo em seu país: “merkeln”, algo como “merkelizar”. Significa manter a calma, recolher informações, ponderar, evitar conflitos e adiar decisões e compromissos até quando for impossível. Antes de sair, ela deixou concluído, no último 10, o gasoduto Nort Stream2 que, através de 1.230 km, liga a Alemanha e a Rússia. Seu objetivo: facilitar o abastecimento de energia para o seu país, diante das dificuldades que o mesmo tem para a geração, tendo em vista que as usinas nucleares, grandes fontes de fornecimento, estão sendo gradativamente desativadas. Os críticos, porém, dizem que, com isto, a Alemanha acaba ficando refém da Rússia. Conforme o número junto ao nome indica, este é o segundo gasoduto ligando os dois países. O primeiro foi concluído em 2011-12. Este de agora dobra para 110 milhões de metros cúbicos/ano a capacidade de transporte sob as ondas bálticas, sem intermediários.

Com todo o seu histórico, seria de esperar que Merkel conseguisse ver eleito como seu sucessor o candidato de seu partido, CDU, Armin Laschet. Este, no entanto, se atrapalhou durante a campanha e perdeu prestígio. Pesquisa do site Político dá à União Democrata Cristã 21% dos votos. Quem cresceu na parada foi o representante do SPD, Partido Social Democrata, de centro-esquerda, Olaf Sholz, que está com 25%. O detalhe é que uma vitória de Sholz não configura uma derrota de Merkel. Afinal, ele era um integrante de seu governo como ministro das Finanças e vice-chanceler. E seu plano de resposta à pandemia, que atenuou os efeitos do desemprego e da recessão, é visto como um caso de sucesso.

O fato é que, qualquer que seja o resultado da eleição, a Alemanha não corre risco de mudança radical. O país sempre oscilou entre a CDU, de centro-direita, que teve figuras como Merkel, Helmut Khol e Konrad Adenauer, e o SPD, de centro-esquerda, que teve Helmut Schmidt, Gerhard Schroeder e Willy Brandt, ganhador do Nobel da Paz pela reaproximação entre as então duas Alemanhas. Cabe apenas ressaltar o trabalho da nova estadista que entra para a história do país.


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