O novo Oriente Médio

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Solução do conflito entre Israel e o Hamas é um longo caminho

Jurandir Soares

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O confronto entre Israel e o Hamas teve uma trégua. Não se sabe até quando, pois não se vislumbra uma solução para o conflito. Mesmo que a organização extremista islâmica vá perdendo todas as suas lideranças e o apoio das nações árabes. Desde a fundação do Estado judeu em 1948, os árabes travaram quatro guerras contra o mesmo em defesa do povo palestino. Desde algum tempo, no entanto, esse apoio vem se esvaindo. Em 1979, o Egito, que pilotou as quatro guerras contra Israel, assinou um tratado de paz com os israelenses. Em 1994, foi a vez da Jordânia fazer o mesmo. E recentemente, pouco antes de terminar seu mandato, o presidente Donald Trump mediou uma série de aproximações na região, no que se convencionou chamar de Acordos de Abrahão.

Em 2020, quatro países árabes – Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos – reconheceram o direito à existência de Israel. A Arábia Saudita não chegou a assinar acordo, mas promoveu uma reunião de seu príncipe dirigente, Mohamed Bin Salman, com o primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu. Os árabes, que sabem que o petróleo vai terminar e que estão apostando na busca de novos rumos com base na ciência e na tecnologia, encontram essa perspectiva em Israel, que pode ser um grande aliado para o seu desenvolvimento. Além disto, tanto os países árabes sunitas quanto Israel têm um inimigo em comum: o Irã muçulmano xiita. Em janeiro último, os países árabes do Golfo Pérsico reataram com o Catar, tirando-o da influência do Irã. Diante deste quadro, atualmente, a situação dos palestinos é a que menos preocupa os países árabes da região.

Nas mesmas ações desenvolvidas no Oriente Médio, que envolveram os Acordos de Abrahão, o então presidente Donald Trump apresentou, em janeiro de 2020, um plano que contemplava a criação de um Estado palestino nas áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. O plano de Trump garantiria a Israel o controle de Jerusalém, que seria, segundo o presidente, “a capital indivisível” do Estado israelense. Apesar disso, previa uma capital palestina em “áreas” do setor oriental de Jerusalém. Também lhes asseguraria livre acesso às áreas muçulmanas de Jerusalém. O plano foi rejeitado pelos palestinos, por entenderem que lhes tiraria direitos históricos.

O think-tank Rand Corporation apresentou há algum tempo um estudo sobre qual seria a economia trazida pela paz entre Israel e um Estado palestino. De acordo com a pesquisa, seria de 173 bilhões de dólares em um período de dez anos. Seriam 123 bilhões deles em Israel e 50 bilhões na Palestina. Apesar de o ganho israelense previsto ser maior, os palestinos teriam uma vantagem proporcional, com sua renda média per capita crescendo 36%. A renda média per capita israelense cresceria 5%, comparando os cenários projetados para 2024. Os palestinos não se dão conta do quanto poderiam ganhar explorando o turismo em cidades bíblicas que ficam em suas áreas, como Belém, onde nasceu Jesus, Jericó, onde soaram as trombetas que derrubaram muralhas, Nablus, Ramalah e tantas outras. Para tudo isto, no entanto, é preciso dobrar um grupo de radicais estabelecidos em Gaza que, ao invés de proporcionar esse crescimento para a sua população, a leva a ser escudo para as bombas israelenses. Quem sabe, algum dia o bom senso e o realismo venham a imperar entre esse povo, que hoje está isolado dos seus irmãos árabes e recebe um único apoio, justamente daquele que é o maior inimigo deles, o Irã.

 


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