Biden mostra força

Biden mostra força

Jurandir Soares

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Os apoiadores de Donald Trump argumentavam, durante a campanha eleitoral, que os Estados Unidos deveriam reeleger o republicano porque Joe Biden seria muito fraco para enfrentar os grandes rivais do país, China e Rússia. No entanto, desde que assumiu, Biden tem agido com esses adversários de modo até mais incisivo do que Trump. Basta ver a recente declaração: ao ser questionado por um jornalista se achava que Vladimir Putin é um assassino, ele respondeu que sim. No que toca à China a ação é mais contundente. Durante sua primeira coletiva de imprensa, na quinta-feira, disse que o presidente chinês Xi Jinping “não tem um osso democrático no corpo. E com ‘d’ minúsculo. Ele é um daqueles caras como Putin, que pensam que autocracia é a onda do futuro”.

Na realidade, autocracia tem sido uma marca histórica tanto de China quanto de Rússia e não se vê perspectiva de mudança nesse quadro. O que é preciso fazer é justamente o que os EUA estão tentando desde os tempos de Trump e que Biden não só dá sequência como incrementa: ações militares de contenção do expansionismo chinês. Isto está se dando, fundamentalmente, no mar do Sul da China, onde Pequim criou ilhas artificiais e estabeleceu bases militares. Apoderou-se de uma área que também pertence a seus vizinhos, Taiwan, Vietnã, Bornéu etc. Para os EUA se trata de águas internacionais e por isto, desafiadoramente, tem mandado para a região porta-aviões, navios e aviões de combate. É um jogo perigoso no qual Biden resolveu aumentar a aposta.
Com relação a Putin, a denúncia envolve não só a perseguição a dissidentes, como Navalny, que foi envenenado, mas também uma preocupação com o avanço da influência russa sobre a Europa. Agora, por exemplo, os norte-americanos estão preocupados com a dependência cada vez maior da Europa para com o gás russo. Além das instalações já existentes que levam o produto através da Ucrânia, está sendo construída uma ligação direta. Um gasoduto que vai de São Petersburgo, na Rússia, até a cidade alemã de Lubmin, através do mar Báltico. O chamado Nord Stream 2, tem 1.200 km de extensão, faltando apenas 150 para a sua conclusão. O tema divide os europeus. Os alemães entendem que precisam se sujeitar porque estão desativando suas usinas nucleares. Outros países entendem que o continente não pode ficar refém da Rússia. Alegam que, mediante um conflito qualquer, Putin pode fechar a torneira e deixar os europeus sem calefação em um rigoroso inverno. Os EUA, de sua parte, querem não só evitar o avanço da influência russa, como também vender o seu gás para a Europa. Por isto Biden diz que Putin é um assassino no qual não se pode confiar.
Por fim cabe destacar que Biden também mostrou força nesta semana ao anunciar a superação da meta de fornecimento de vacinas contra a Covid-19. O objetivo era vacinar 100 milhões de pessoas em 100 dias, o que foi alcançado em 58 dias. Com isto, ele estabeleceu outra meta: alcançar 200 milhões de vacinados nestes mesmos 100 dias. E para aumentar seu entusiasmo, citou a recuperação da economia do país, avaliando um crescimento do PIB neste ano da ordem de 6%. Foi até modesto diante das previsões do Banco Goldman Sachs, que prevê um crescimento de 7,6%. Ou seja, o barco norte-americano saiu do meio da violenta tempestade e passa a navegar em águas menos agitadas. Mas, neste meio tempo, é preciso consertar outra avaria da embarcação, deixada pelo ainda insolúvel problema da imigração.


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