Pulso firme com Pequim

Pulso firme com Pequim

Pretensões expansionistas e rivalidade comercial da China são desafios para Biden

Jurandir Soares

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O secretário de Estado do novo governo norte-americano, Anthony Blinken, manteve na terça-feira a primeira conversa com dirigentes chineses. Mais especificamente com Yang Jiechi, diretor da Comissão de Assuntos Exteriores da China. Segundo as informações da imprensa norte-americana, ele fez fortes cobranças aos chineses. Começou com o tema referente à perseguição às minorias uigures, passou pelo domínio que a China estabeleceu sobre o Tibete e também pelo retrocesso que está havendo em Hong Kong em termos de democracia. Mas teria ido além, abordando o tema mais espinhoso hoje nas relações entre os dois países: o domínio que Pequim está estabelecendo no mar do Sul da China, uma área que entende que lhe pertence, mas que é disputada por uma série de países vizinhos como Vietnã, Indonésia, Taiwan, etc. Aliás, Taiwan também tem sido um empecilho nas relações entre os dois países. Pequim entende que a ilha é uma província rebelde e, portanto, faz parte de seu território, enquanto que os Estados Unidos sutilmente apoiam o movimento independentista. Blinken teria responsabilizado Pequim por qualquer “tentativa de ameaçar a estabilidade na região do Indo-Pacífico, incluindo o estreito de Taiwan”. Ou seja, jogo duro com Pequim.

Este jogo duro, que começou no governo de Donald Trump, está sendo ampliado no governo Joe Biden no que toca ao aspecto de mobilização militar. Biden mandou mais navios de guerra e aviões para a região em conflito. E, na quinta-feira, a conversa de Blinken com o dirigente chinês foi seguida pelo primeiro contato direto entre os presidentes dos dois países, Joe Biden e Xi Jinping. Foram duas horas de conversa que, segundo o Wall Street Journal, envolveram direitos, comércio e clima, tendo Biden pressionado sobre direitos humanos. Seguramente, a conversa de Biden não teve o mesmo tom incisivo da de Blinken, porque a moderação faz parte da conduta do novo presidente norte-americano. Mas foi firme, porque, além de ser um grande rival comercial dos EUA no atual momento, a China tem altas pretensões expansionistas. As quais vão desde a criação de ilhas artificiais no mar que disputa com vizinhos até o seu projeto Belt and Road, que é a sua nova Rota da Seda. Com este projeto Pequim vem financiando a construção de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias pela Ásia, Europa e África, no sentido de estender os seus tentáculos.

Daí a necessidade de uma posição muito firme por parte dos Estados Unidos. A que se considerar, no entanto, que nesta disputa Washington tem uma posição muito fraca no que toca à sua tentativa de conter o avanço do sistema 5G da chinesa Huawey. Segundo Eric Schmidt, ex-presidente executivo da Google, o leilão de 5G realizado no mês passado nos EUA é um modelo fracassado. Diz ele: “Os americanos terão de encarar preços mais altos e serviços mais fracos. Terão a Internet de ontem amanhã”. Assim, fica difícil, por exemplo, a pressão sobre o Brasil para que não adote a tecnologia da empresa chinesa. Enfim, tudo isto está inserido no contexto dos desafios que Biden tem com o gigante asiático. 


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