Jurandir Soares

Moldávia pode imitar Ucrânia

A Moldávia tem um percentual que prefere ser parte da União Europeia. Outra parcela da população ainda prefere estar do lado da Rússia

O partido pró-Europa, que está no governo da Moldávia com a presidente Maia Sandu, foi o vencedor das eleições deste domingo, com 50,2% dos votos. À primeira vista, um fato para comemorar. Afinal, a população desse país, que fazia parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), anseia desfrutar das mesmas benesses que passaram a ter seus vizinhos, como Polônia, Romênia, Hungria, Tchéquia, Eslovênia e outros, depois que passaram a fazer parte da União Europeia.

Liberdade política e econômica, acrescida de livre trânsito de pessoas e de mercadorias são as premissas que aqueles vizinhos passaram a usufruir, desde que se livraram do jugo soviético comandado por Moscou, o que ocorreu em 1991 com a queda da URSS.

APERTO

Acontece que, embora a maioria da população seja a favor da passagem para o lado político e econômico europeu, há um contingente que prefere manter-se ligado à Rússia. O que fez com que Moscou procurasse influenciar no processo eleitoral moldavo. A vitória foi saudada pelos mais diversos líderes europeus. O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk foi incisivo em apontar para Putin e festejar Sandu. "Não só salvou a democracia e manteve o rumo europeu, como também impediu a Rússia de assumir o controle de toda a região."

Aí é que mora a dúvida! Será que impediu mesmo a Rússia? Em Belarus, que está desde 1994 sob a ditadura do fiel seguidor e Putin, Aleksander Lukashenko, o povo saiu às ruas múltiplas vezes, denunciando as eleições fraudulentas e manifestando seu desejo de passar a fazer parte da União Europeia. Por meses e meses as ruas das principais cidades do país foram tomadas por multidões, clamando pela deposição do ditador e pela realização de eleições limpas. O resultado foi a repressão das forças comandadas por Lukashenko com o apoio de Putin.

UCRÂNIA

Hoje, a Belarus está dando apoio logístico à Rússia para a guerra que desenvolve na Ucrânia. Inclusive abrindo passagem em seu território para a invasão por terra. E aí tem-se que lembrar o porquê da guerra deflagrada por Putin! Simplesmente, porque a Ucrânia queria passar a fazer parte da União Europeia e da Otan! A Moldávia tem o atenuante de colocar no seu objetivo – pelo menos o declarado – apenas a UE.

Mas há um agravante e que tem gerado uma presença militar da Rússia. É a Transnístria. Uma região separatista e um território disputado na Moldávia, localizado entre a Ucrânia e o restante do país. Declarou independência da Moldávia em 1990, após a dissolução da União Soviética, mas não possui reconhecimento internacional. A região é caracterizada por ter sua própria moeda, bandeira, governo e passaportes, e por preservar um forte legado soviético, com estátuas de Lenin e símbolos comunistas. Mantém uma grande presença de tropas russas e uma economia que combina elementos socialistas e capitalistas.

LIGAÇÃO

As pretensões russas com relação à sua expansão na região foram explicitadas semana passada. A agência de notícias russa TASS citou o comandante interino do Distrito Militar Central da Rússia, o general Rustam Minnekaev, dizendo que o objetivo é criar um corredor terrestre entre Donbass e a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Têm como objetivo "controle total sobre a região oriental de Donbass e o sul da Ucrânia – e obter acesso à Transnístria”.

A questão que se coloca é: conseguindo tudo isto, a Rússia vai parar na Transnístria? O mais provável é que cruze a fronteira e expanda seu domínio sobre território moldavo. O que seria uma tarefa bem mais fácil do que esta que está sendo desenvolvida na Ucrânia.

INGRESSO

A adesão da Moldávia à União Europeia precisa ser aprovada pelos 27 Estados-membros. E está programada para acontecer em 2030. Isto, se antes, este que é o país mais vulnerável da Europa, não for invadido pelos tanques de Moscou, assim como aconteceu na Ucrânia.

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