Venezuela-Guiana: Estados Unidos dão o sinal a Maduro
É só declarar que retira a opção de guerra, em atenção ao pedido do presidente brasileiro
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O ditador Nicolás Maduro chegou ao ponto, nesta semana, de mandar imprimir e distribuir nas escolas um mapa da Venezuela onde está incluída a área de Essequibo, correspondente a 70% da Guiana, como integrante do território da Venezuela. Uma agressão ao Direito Internacional. Aliás, o próprio plebiscito não poderia ter sido realizado, de acordo com a Corte Internacional de Justiça de Haia.
Além disto, um plebiscito que consulta quem quer se apoderar da área. Não pergunta aos moradores do outro lado se eles querem se transformar em cidadãos venezuelanos. Houvesse isto, a resposta seria um contundente não. Afinal, hoje a Venezuela está numa miséria danada, com uma inflação de 341% e um salário mínimo de 5,3 dólares, enquanto os cidadãos da Guiana, graças às riquezas do país, desfrutam hoje da maior renda per capita da América Latina.
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O fato é que a subida de tom da ditadura venezuelana, deixando implícita a ameaça de uma invasão iminente, levou a aquilo que se esperava: uma mobilização militar dos Estados Unidos. Nesta quinta-feira foram realizadas manobras conjuntas entre forças norte-americanas e guianenses. A Guiana anunciou que eram manobras rotineiras, já previstas no calendário. Mesmo que estivessem previstas, o certo é que vieram em boa hora. Como um forte recado a Maduro.
As ações iniciais venezuelanas indicavam que era iminente uma invasão por terra. No entanto, logo ficou provada esta dificuldade, tendo em vista tratar-se de uma selva densa, não havendo estradas ligando os dois países. Para chegar por terra à província cobiçada, as tropas da Venezuela teriam que passar pelo território brasileiro. Algo que imediatamente foi contestado pelo nosso ministro da Defesa, José Múcio Teixeira Filho. Tendo, inclusive, determinado o envio de reforço militar para a região.
Já um ataque aéreo, como se viu, poderia encontrar pela frente a Força Aérea dos EUA. O mesmo se poderia colocar quanto à uma ação marítima, pois Washington já anunciou o envio de navio de guerra para a área. Maduro, que afirmara que poderia recorrer a “países amigos”, anunciou sua ida a Moscou, neste domingo, para pedir o apoio de Vladimir Putin. Um apoio que será dado, porém apenas em termos verbais. A Rússia, que está atolada na guerra da Ucrânia, que vai para dois anos sem definição, não irá se envolver em outro conflito. Ainda mais aqui na vizinhança dos Estados Unidos. Além de tudo, Putin deve privilegiar agora o tema que anunciou nesta quinta-feira: a sua candidatura à reeleição em 2024.
Acontece que Maduro pode desenvolver uma outra artimanha. Ou seja, não fazer nenhuma ação bélica agora, deixar a poeira sentar e aí partir para outro tipo de manobra. A qual seria, sutilmente, ir fazendo a PDVESA, a estatal petrolífera venezuelana, avançar com suas perfurações em águas territoriais de Essequibo. Poderia criar um imbróglio ali naquele local. E lógico que haveria a resistência das petroleiras que exploram o petróleo naquela área, a começar pela norte-americana Exxon.
Mas isto é especulação para o futuro. O presente exige apagar a fogueira acessa por Maduro. E aí vou repetir o que já citei várias vezes: predomina a figura de Lula. O presidente brasileiro já pediu mobilização do Mercosul assim como da Celac, a Comunidade Econômica da América Latina e do Caribe. Estes, no entanto, seriam apenas organismos de apoio, porque quem tem que pilotar este processo é o próprio Lula. Afinal, historicamente ele tem ingerência sobre Maduro. Tentou, inclusive, fazer os seus colegas latino-americanos acreditarem que Maduro é vítima de uma narrativa. Levou um chega pra lá dos seus parceiros, mas Maduro lhe ficou grato.
Além disto, Lula injetou altas somas do BNDES em obras na Venezuela, inclusive para o metrô de Caracas. Obras que melhoraram o prestígio de Maduro internamente, porém que se constituíram em mais um calote aplicado pelo ditador. Então, Lula é a pessoa mais capacitada para interceder junto a Maduro. E até já se ofereceu para mediar a disputa. Não se pode esquecer que uma das grandes ambições de Lula é ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Nos últimos tempos tentou, sem sucesso, ser o mediador para a busca da paz na guerra da Rússia contra a Ucrânia, assim como na que Israel trava contra o Hamas. Não conseguiu nada. Mas repito o que já disse: Maduro pode ser o grande impulsionador para a ambição de Lula.
É só declarar que retira a opção de guerra, em atenção ao pedido do presidente brasileiro. Ou seja, Lula teria evitado a guerra.