Trégua dá sobrevida ao Hamas, mas há um caminho para a paz

Trégua dá sobrevida ao Hamas, mas há um caminho para a paz

O Hamas é considerado uma organização terrorista por diversos países, incluindo os Estados Unidos, União Europeia, Canadá e outros. A designação varia, mas muitas nações e organizações internacionais categorizam o Hamas como uma entidade terrorista.

Jurandir Soares

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A trégua entre Israel e o Hamas para a troca de reféns por prisioneiros ganhou mais dois dias e negociações seguem no Catar no sentido de ampliá-la. Esta pausa é fundamental para a sobrevivência do Hamas. Isto porque Israel tem o dever moral de tentar recuperar com vida os cerca de 240 reféns tomados pelo grupo terrorista, na sua ação de 7 de outubro. Há a informação de três reféns mortos. Porém, antes havia a informação de uma jovem que teria sido morta, no entanto, ela apareceu numa leva de reféns liberados. Ao ver-se obrigado a parar com a guerra, com a perspectiva de que as trocas possam envolver adultos, Israel dá um tempo para os terroristas se reorganizarem, substituírem as lideranças que morreram em combate e se prepararem para nova refrega. Com isto, Israel vê interrompida sua ação com vistas a liquidar o grupo terrorista. Este continuará agindo e submetendo a população civil de Gaza aos bombardeios israelenses, com base na crença de que todos são mártires e terão seu lugar no paraíso de Maomé.

A jornalista brasileira Daniela Kresch, correspondente da Rádio França Internacional em Tel Aviv, destaca que esta situação que se desenha poderia representar para o Hamas uma espécie de empate. Diz ela: “A ideia de uma resolução em que os dois lados consigam alguma melhoria, mas sem vencer totalmente o outro, é previsto pela Teoria de Jogos, ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas onde ‘jogadores’ escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar seu retorno. O melhor para cada jogador é vencer totalmente o outro lado. Mas, em caso de isso não ser possível ou correto, a segunda opção melhor é o empate. Perder seria a terceira e pior opção. Para o Hamas, a opção do empate não existe. A possibilidade de parar com o ódio fundamentalista contra os judeus, admitir a existência do Estado de Israel 75 anos depois de sua independência e, quem sabe, fazer uma aliança que transformasse a Palestina e a região inteira numa Dubai não existe. Para o Hamas, a opção de que tanto Israel quanto os palestinos vivam em paz, com Estados nacionais próprios e independentes, não existe”. Ou seja, o Hamas vai seguir vivendo na ilusão de que pode exterminar com o Estado de Israel, mesmo que isto seja daqui a 10, 50 ou mil anos. O que significa, como disse em entrevista à TV do Líbano um dos líderes da organização, Ghazi Hamad, o Hamas voltará a praticar atos como o de 7 de outubro. E o objetivo declarado de Israel ao deflagrar a guerra – exterminar com o Hamas – não será alcançado.

Assim, para mudar essa situação de permanente tensão e falta de solução para o problema palestino, só há um caminho: uma união de forças muito grande para dar respaldo ao Fatah, que é o movimento palestino pacifista, que domina a Cisjordânia e que defende a existência de dois estados, Israel e Palestina, convivendo em harmonia e com fronteiras definidas. Caberia dar ao Fatah o domínio da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, porém, com o respaldo de uma força multinacional de paz. De preferência da Otan, como está acontecendo na ex-província iugoslava Kosovo. Até porque será preciso sempre levar em conta que o Hamas não foi eliminado. Assim, somente uma força poderosa como a da Aliança Atlântica para conter os terroristas. Seria uma forte mobilização internacional como aconteceu com o combate e eliminação do Estado Islâmico. Ação que reuniu adversários históricos, como Estados Unidos e Arábia Saudita de um lado, e Rússia e Irã de outro, todos lutando com o mesmo objetivo e que foi alcançado com o fim do califado que a organização havia estabelecido em terras do Iraque e da Síria. 

Isto como primeiro passo. O segundo e não menos importante, seria a maciça injeção de dinheiro, principalmente das monarquias árabes, para a reconstrução de Gaza e o incremento da Cisjordânia, de modo a, como disse Daniela Kresch, transformar a região numa nova Dubai. Tudo também com a participação dos Estados Unidos, que tem sido o mediador histórico dos acordos de paz da região. Desde o acordo de Israel com o Egito, em 1979, e com a Jordânia em 1994, passando pelo tratado de Oslo de 1993, e chegando até os Acordos de Abrahão, em 2022. E, lógico, conforme estes últimos acordos preveem, ou seja, os investimentos árabes seriam somados ao conhecimento tecnológico de Israel para transformar a região. Só assim haveria perspectiva para a hoje desiludida população palestina jovem, que se sente cidadã de segunda classe, vivendo sob ocupação militar de Israel. Assim, o desafio é grande, mas a possibilidade existe. O que vai precisar é que todas as partes envolvidas, inclusive Israel, queiram mesmo criar o estado da Palestina.


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