Putin pode invadir outro país

Putin pode invadir outro país

Governo da presidente Maia Sandu resolveu romper os cerca de 300 acordos que seu país tinha com a CEI.

Jurandir Soares

Moldávia na mira de Putin

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Lembram como se deu a invasão da Ucrânia pela Rússia? Pois, deu-se pelo fato de os ucranianos quererem sair da órbita de Moscou e passarem a fazer parte de organismos ocidentais, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Pois, na sexta-feira, 24, a Moldávia deu passos importantes nesse sentido, em atenção a uma reivindicação cada vez mais forte de sua população.

O primeiro passo foi deixar de integrar a CEI, Comunidade de Estados Independentes, organismo que, ao fim do comunismo no Leste europeu, veio substituir a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O governo da presidente Maia Sandu resolveu romper os cerca de 300 acordos que seu país tinha com a CEI. Inclusive um que previa assistência recíproca em caso de acidentes naturais. Ao mesmo tempo, a política de 51 anos, que já foi deputada e primeira-ministra, afirmou que iria começar as tratativas para ingresso do país nos organismos ocidentais.

O motivo principal da rebeldia moldava prende-se à Transnístria, uma província do Leste do seu território e que faz divisa com a Ucrânia. No início dos anos 1990, logo após o fim da União Soviética, houve um movimento rebelde na província no sentido de se separar da Moldávia e de continuar fiel aos princípios comunistas. Antes de serem contidos, os rebeldes receberam o apoio bélico da Rússia, que os tornou vitoriosos. Só que a província não recebeu reconhecimento de sua independência por nenhum país do globo. Mas segue até hoje sob a tutela de Moscou. Que, aliás, tem acusado a Ucrânia de querer invadir a província. Neste caso não se sabe se para tomar posse ou para devolvê-la à Moldávia.

Em fevereiro último, foi revelado um documento interno do governo russo, que detalha as ações para desestabilizar a Moldávia, país vizinho da Ucrânia. De acordo com o portal Yahoo News, parte de consórcio investigativo que revelou o documento, informou que o plano foi concebido no outono de 2021 pelo Diretório Presidencial para a Cooperação Transfronteiriça da Rússia, que recebeu informações dos serviços de inteligência de Moscou. A estratégia do Kremlin passa por “contrariar as tentativas de atores externos”, como os Estados Unidos, a União Europeia, a Ucrânia e a Turquia, para “interferir nos assuntos internos da República da Moldávia, fortalecer a influência da OTAN e enfraquecer a posição da Federação Russa”.

O plano estabelece como objetivo que a Moldávia entre nas duas organizações criadas por Moscou, a União Econômica Eurasiática e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, para, respectivamente, enfrentar a UE e a OTAN. A região separatista pró-russa da Transnístria é também visada nesta estratégia, com o Kremlin objetivando a “neutralização” de todas as tentativas do governo moldavo para expulsar a presença militar russa da região, escreve o Yahoo News. O relatório estabelece metas em curto, médio e longo prazo, sendo um dos objetivos finais a “criação de grupos estáveis de influência russa entre as elites políticas e econômicas da Moldávia”.

Numa iniciativa do presidente francês, Emmanuel Macron, a União Europeia entrou em campo, a 1º de junho último, em defesa a Moldávia. Foi realizado no castelo de Mimi, nas cercanias da capital Chisinau, um encontro dos 27 membros da organização e mais representantes de outros países que se sentem ameaçados pelo expansionismo de Moscou. Entre as nações não pertencentes à UE estavam Reino Unido, Turquia, Suíça, Islândia, Armênia, Sérvia e Azerbaijão. O final da reunião definiu estratégias para segurança, abastecimento de energia e o estabelecimento de uma missão civil na capital Chisinau para fortalecer a resiliência do país contra a desinformação e ataques cibernéticos.

A pequena República da Moldávia, encravada entre a Romênia e a Ucrânia, é o país mais pobre da Europa Oriental e tem cerca de 2,6 milhões de habitantes. A ex-república soviética conquistou a independência em 1991, após o colapso do comunismo, mas tem que lidar com a Transnístria que se autoproclamou independente em 1992, e onde a Rússia mantém tropas desde então.

O governo moldavo acredita que o país possa ser o próximo alvo do presidente russo, Vladimir Putin. Apesar de contestar Chisinau, o Kremlin tem realizado as mesmas ações que adotou antes da anexação da Crimeia, em 2014, e da invasão na Ucrânia no ano passado. A Moldávia foi o país que proporcionalmente à sua população recebeu o maior número de refugiados ucranianos – cerca de 450 mil pessoas cruzaram a fronteira para fugir do conflito. Espera-se que estes, assim como os moldavos, não tenham que fugir para um terceiro país, em função de invasão russa.


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