Os bandoleiros que tudo podem

Os bandoleiros que tudo podem

Poucas vezes na história se viu tamanha capacidade de reunir tanta burrice em tão poucas linhas

Guilherme Baumhardt

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Antes eu tinha pena, hoje não mais. Até pouco tempo eu sentia um misto de comiseração com raiva, quando via as imagens de hordas bárbaras invadindo fazendas, prédios públicos ou privados e promovendo destruição e saques. Pensava com os meus botões: pobre gente, sendo usada como massa de manobra pelos líderes de movimentos bandoleiros como o MST e a Via Campesina.

Pois bem. Na semana que passou as imagens se repetiram. O mesmo de sempre. Muda apenas o alvo. O foco da mais recente balbúrdia foi a sede da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), em Brasília. O mote? A “Jornada Nacional da Soberania Alimentar”, cujo lema é “contra o agronegócio para o Brasil não passar fome”. Poucas vezes na história se viu tamanha capacidade de reunir tanta burrice em tão poucas linhas. O edifício foi pichado com frases como “o agro mata” e “agrosoja é fome”. As faixas, porém, revelavam o verdadeiro alvo da manifestação: “Soja não enche o prato. Bolsonaro financia a fome”. Tudo ficou mais claro. Como sempre, não há preocupação com o estômago alheio. O que existe é um movimento político-partidário, travestido de movimento social (alguém ainda acredita nisso?).

Não faz nenhum sentido falar em matar a fome e apontar as armas para o mais eficiente agronegócio do mundo, com os maiores índices de produtividade, responsável por garantir comida na mesa de bilhões de pessoas no mundo, seja com produção direta, seja com a matéria-prima para fabricação de ração destinada à produção de proteína animal (aves, suínos...).

Sou neto e bisneto de agricultores. Colonos. Gente que trabalhou duro, de sol a sol, para amealhar algum patrimônio. Pessoas que sabiam que dinheiro não cai do céu, nem dá em árvore. Gente simples que sempre respeitou a propriedade privada, para que um dia pudesse aproveitar também deste direito. Ninguém ficou milionário, mas tiveram uma vida digna. Meus avós estudaram pouco, mas trabalharam. E muito. Viram todos os filhos e netos ingressarem no ensino superior, algo inatingível para eles. Esta, inclusive, sempre foi a maior herança que poderiam deixar. Meu avô paterno (o velho Willy) me dizia: “Estuda, guri, porque o que está aqui (e batia com o dedo indicador na minha cabeça) ninguém pode tirar”. Alguns argumentarão que o MST tem escolas. Besteira. Na maioria dos casos, o que existe é uma indústria de doutrinação, que alimenta sistematicamente o ódio de classe, a cada novo encontro das crianças com um pseudo professor. Marx ficaria orgulhoso.

Se antes eu tinha pena, hoje gostaria de vê-los (não apenas os líderes) respondendo pelos crimes que cometeram. São maiores de idade, responsáveis por seus atos. Nossa leniência alimentou esse tipo de comportamento ao longo dos anos. No Uruguai, aqui ao lado, movimentos assim não se criam. Esperar que sejam punidos (a horda e suas cabeças), porém, é um sonho distante. Ainda mais quando há na suprema corte brasileira ministros simpáticos aos grupos bandoleiros.

Hermanos, hermanos...

O governo do poste kirchnerista, Alberto Fernández, anunciou nesta semana mais um congelamento de preços. E é óbvio que não vai dar certo. Assim como não deu certo em nenhuma das tentativas anteriores. Agora a lista tem mais de 1200 itens e o congelamento tem prazo de 90 dias. Os argentinos não podem reclamar. Foram eles que escolheram, via eleição, insistir no erro. Se estão vivendo uma nova porcaria, é por livre e espontânea vontade.

Curiosidade

Fui a Buenos Aires duas vezes. A cidade é linda. Belos museus, teatros, cinemas, gastronomia. E livrarias. Muitas. Nossos vizinhos estão entre os maiores consumidores per capita de livros. Por favor, não me entendam mal. Não vou fazer apologia à ignorância (como Lula fazia quando se vangloriava de ter estudado pouco), mas a provocação com os argentinos é inevitável. Não basta ler, mas é preciso entender. Ou, talvez, escolher melhor o que será lido. Ler muito não evitou que nossos vizinhos enfiassem o país em um novo buraco.

Ciro (de novo)

Há um tiroteio verbal entre Ciro Gomes, Lula e Dilma Rousseff. Não se iluda, não se deixe enganar. Há uma tentativa de distanciamento do mais novo pupilo do marqueteiro João Santana. Tudo calculado. Se, porventura, Ciro conquistar uma vaga no segundo turno, contra Bolsonaro ou outro candidato mais à direita, Lula, Dilma e Ciro estarão juntos. Só ingênuos acreditam que exista uma diferença entre eles. Estavam juntos até ontem. E estarão novamente amanhã.


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