Você é um inepto

Você é um inepto

Ao que tudo indica, o famigerado passaporte vacinal entrará em vigor nos próximos dias por estas bandas

Guilherme Baumhardt

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Pelo visto, para o Estado do Rio Grande do Sul, você não passa de um inepto, um incapaz, um sujeito carente das faculdades mínimas necessárias para decidir o que fazer da própria vida. Ao que tudo indica, o famigerado passaporte vacinal entrará em vigor nos próximos dias por estas bandas. No Estado que decidiu o que você poderia e o que não poderia comprar em um supermercado, não chega a ser uma surpresa.

Em março deste ano, no Rio Grande do Sul, chegou-se à brilhante conclusão de que o vírus da Covid-19 se escondia atrás de garrafas térmicas e produtos eletrônicos, nas prateleiras dos supermercados. Nada mais justo para proteger o cidadão do que isolar estas áreas, com grandes lonas plásticas e fita adesiva. Covid para lá, gente protegida para cá. Ridículo, certo?

“Seu ignorante, era uma medida protetiva, tomada para evitar, também, uma concorrência desleal com aqueles que foram obrigados a fechar as portas!”, alegam os ingênuos. Mais uma razão para não defender medidas arbitrárias e o fechamento da atividade econômica. Se eu queria comprar uma geladeira, mas não precisava de arroz ou feijão, poderia ir a uma loja de eletroeletrônicos, sem dividir espaço com todos aqueles que estavam dentro do supermercado, em busca de pão e papel higiênico. Nosso caminho (estúpido) foi no sentido inverso.

Agora, tal qual alguns poucos lugares do planeta (geralmente liderados por esquerdistas), estamos prestes a embarcar em uma canoa furada. Mais uma. Se o passaporte vacinal tivesse algum valor, não nos depararíamos com o retrato absurdo – para não dizer ridículo – de algumas semanas atrás. Em Nova York, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, contaminado com a Covid-19, poderia frequentar um restaurante. Queiroga estava vacinado. O presidente da República, Jair Bolsonaro, não vacinado (um erro, como já escrevi em outras oportunidades), mas com teste negativo, seria barrado na porta. Faz sentido? Nenhum.

Esta deveria ser uma relação entre privados. Se eu sou dono de um restaurante ou um espaço particular posso decidir, por livre e espontânea vontade, que apenas pessoas vacinadas podem frequentar aquele local. Eventuais ônus e bônus são exclusivamente meus. Assim como é decisão livre do sujeito que decide ou não frequentar um espaço que não adote tal exigência. Onde diabos foi parar o livre arbítrio? Nos Estados Unidos, país em que o conceito de liberdade está consolidado e é pilar básico da sociedade norte-americana, a ideia do passaporte foi banida, varrida, expurgada na imensa maioria das unidades da federação.

Não deixa de causar surpresa que tal decisão (se confirmada) venha após a missão na qual o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, passou pela Espanha (país com índice vacinal semelhante ao do RS). Lá o governador viu com os próprios olhos que o uso da máscara agora é facultativo em espaços públicos, tornando-se recomendado apenas em espaços fechados. No decreto que está por vir, mesmo espaços abertos como o Jardim Zoológico e o Jardim Botânico precisarão do tal passaporte, ao que tudo indica. Pra quê? A missão trouxe boas notícias para o Estado – justiça seja feita. Seria ainda mais produtiva se o exemplo espanhol servisse de inspiração no que diz respeito ao vírus.

Estamos mais uma vez diante de um caso em que o poder público (o Estado do Rio Grande do Sul) trata você como um inepto. Você, meu caro, é excelente para pagar imposto, mas um incapaz na hora de avaliar riscos e medir consequências. Logo, o “papai Estado” faz isso por você. Até quando aceitaremos isso?

Talvez sejamos mesmo um bando de frouxos, uma tropa de conformados, que acatam candidamente medidas assim, cujos benefícios são um tanto questionáveis, mas que são altamente eficazes no cerceamento da liberdade. E você? Já pagou seu IPVA?


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