O êxito no Brasil é proibido

O êxito no Brasil é proibido

O Brasil é curioso. Fica espantado com a grana que tem no exterior um sujeito que sabidamente é disputado a preço de ouro pelo mercado

Guilherme Baumhardt

publicidade

Então o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem conta em um paraíso fiscal. E daí? Qual é o problema? Nenhum. “Ah, mas há conflito de interesses!”. Amigo, só há uma maneira de zerar isso por completo: Paulo Guedes (ou qualquer outro ministro da Economia) passar a viver de sol e vento. Ele movimenta a conta bancária todos os dias, assim como eu ou você. Se ele abastecer o carro antes de um aumento da Petrobras diremos que terá agido em benefício próprio?

Não, não estamos tratando da compra ou venda antecipada de ações de uma estatal após a decisão do governo de levar adiante ou cancelar uma privatização. Estamos tratando de dinheiro que foi para uma offshore antes de Guedes virar ministro. Não, não estamos falando de um saque antecipado da poupança dias antes de o governo congelar o dinheiro dos correntistas brasileiros, como ocorreu no governo Collor.

Aos fatos. O dinheiro e a transferência foram declarados, logo, a Receita Federal tem conhecimento da operação. Se voltar ao Brasil, precisará pagar imposto sobre o excedente. “Mas Guedes quer que operações assim sejam isentas!”. Sim, e o que é melhor? Que o dinheiro dele e o de tantos outros permaneça lá fora ou volte para movimentar a economia aqui? Qual é o melhor incentivo para que isso ocorra? Taxando? Ou isentando? Que tal defender menos impostos? E escrevo isso com a tranquilidade de quem criticou o ministro após a proposta recente de aumento do IOF.

É sabido de todos que Paulo Guedes tem uma carreira exitosa no setor privado – diferentemente de tantos outros que morreriam de fome se perdessem o cabide público onde estão pendurados. Na área de atuação do ministro, figuras de ponta (caso de Guedes) chegam a salários vultosos, além de receberem prêmios e bonificações por desempenho. Ou seja, chegar à casa do milhão é uma realidade relativamente comum no setor financeiro.

“A fortuna de Guedes está toda no exterior! Que tipo de patriota é ele?”. O que está na offshore representa em torno de 10% do patrimônio do ministro. Eu no lugar dele, com o capital acumulado durante a vida, teria mandado ainda mais dinheiro para fora. Honestamente, se houve um erro de Guedes foi este. Que mancada, ministro!

Não tenho autorização para citá-lo aqui, mas relato o caso. Conheço um sujeito, jornalista, ídolo de muitos da esquerda, que remeteu recursos (de maneira legal, declarada) a um paraíso fiscal. Fruto de uma operação financeira bem-sucedida, ele decidiu proteger aquele capital, para que os filhos pudessem usufruir daquilo no futuro. Se eu tivesse algum sobrando, faria o mesmo. É autopreservação, instinto de sobrevivência.

O Brasil é curioso. Fica espantado com a grana que tem no exterior um sujeito que sabidamente é disputado a preço de ouro pelo mercado. Qualquer empresa, banco, fundo de investimento, gostaria de ter um Paulo Guedes no seu board ou conselho de administração. Mas ele é, hoje, ministro da Economia. O mesmo Brasil que compra essa esparrela sem questionar, não vê problema em Renan Calheiros (uma pilha de processos à espera de julgamento no Supremo Tribunal Federal) e Omar Aziz (sujeito enrolado até o pescoço em escândalos e casos suspeitos) liderarem uma CPI que pretende moralizar o combate à pandemia no Brasil.

Ao menos até aqui (e acredito serem poucas as chances de fatos novos) estamos diante de mais um caso de um falso escândalo. Já que a expressão fake news caiu no gosto popular, que tal criarmos o fake scandal?

Europa

Acompanho a missão do Rio Grande do Sul à Espanha, como enviado especial da Rádio Guaíba. Dias corridos, agendas e reuniões em sequência. Alguns sinais positivos, negociações iniciadas e outras em estágio avançado. E a principal conquista até aqui: a realização do South Summit, um dos maiores eventos de inovação do mundo (pela primeira vez no Brasil), em Porto Alegre, em março de 2022.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895