Fiasco

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À exceção do eleitorado cativo de Bolsonaro e dos petistas de sempre, o eleitor que transita entre os dois campos ainda não parou para pensar sobre a disputa de 2022

Guilherme Baumhardt

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“Muito ‘gritedo’ para pouca lã”. É assim que o homem do campo define a tosa do porco. A mesma expressão poderia ser usada para resumir as manifestações do dia 12 de setembro. Mesmo com uma campanha intensa, um punhado de gatos pingados foi às ruas em algumas capitais brasileiras. Não foi nada, absolutamente nada comparado ao que se viu dias antes, no 7 de Setembro, quando centenas de milhares levaram bandeiras do Brasil – em alguns lugares mesmo com chuva – e pediram, na sua grande maioria, por liberdade, além das demonstrações de apoio ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro.

Há algumas lições importantes. A primeira delas é de que a tão propagada terceira via, por enquanto, só existe na cabeça de alguns analistas políticos. Do ponto de vista de aderência popular, nenhum dos nomes lançados até agora (e foram muitos) empolgou. Nem João Doria Jr., tampouco Luiz Henrique Mandetta. Ciro Gomes é o veterano da turma, mas seu comportamento (uma eterna biruta de aeroporto) faz com que o eleitorado mantenha dois pés atrás e uma colônia de pulgas atrás de cada orelha – sua recente declaração atabalhoada sobre o agronegócio, lembrando o velho Ciro, e o pedido de desculpas logo depois, sinalizando o Ciro moderado e controlado pelo marqueteiro, é apenas mais uma demonstração disso.

O segundo aspecto é o de que, à exceção do eleitorado cativo de Bolsonaro e dos petistas de sempre, o eleitor que transita entre os dois campos ainda não parou para pensar sobre a disputa de 2022. Para a maioria este é um assunto ainda distante, para o qual só haverá maior dedicação a partir de abril ou maio do ano que vem.
Mesmo diante de tantas incertezas, um grupo da Universidade de São Paulo (USP) lançou manifestações (do “Fora Bolsonaro”) adentro para medir a popularidade de cada um dos nomes. Aquilo que foi chamado de “pesquisa” poderia muito bem virar uma espécie de censo. Afinal, era tão pouca gente que, com algum esforço extra, seria possível ouvir todos ali presentes.

No sonho da terceira via já foram citados aqui Doria, Mandetta e Ciro. Há nomes que já desistiram, como Luciano Huck. Ainda entram na lista figuras como o ex-ministro Sergio Moro (até agora sem partido e correndo o risco de ver uma eventual candidatura barrada pelo Congresso ou Supremo Tribunal Federal) e, correndo por fora, Alessandro Vieira e Eduardo Leite. Ou seja, é muito balão de ensaio pairando no ar. Muita nuvem para pouca chuva.

Nas manifestações do dia 12 teve dancinha do governador paulista. Teve também o Movimento Brasil Livre, que se diz “de direita”, mas condenou o uso de um boneco inflável de Lula vestido de presidiário, em São Paulo. Teve até líder de manifestação dizendo “junta todo mundo aí que a gente vai fazer a foto para a imprensa”, em uma tentativa desesperada de mostrar um movimento de massa que não existiu. E teve até líder de partido liberal (João Amoedo, do Novo) discursando com bandeira de central sindical jurássica ao fundo. Aliás, Amoedo, mesmo sem uma grande estrutura partidária, era o único do pleito de 2018 que poderia realmente crescer como alternativa. Fez boa votação, superou pesos pesados (ficou à frente de Geraldo Alckmin, por exemplo), mas tomou o caminho errado. Virou uma espécie de sombra de João Doria Jr. Seu maior feito até aqui foi encolher o partido que ajudou a fundar.

O resultado é que a chamada terceira via, por enquanto, é vista pelo eleitorado apenas como uma tentativa de embuste, um caminho diferente – mais cheiroso e bonito – para devolver o poder para a esquerda. Enquanto este for o cenário, esqueçam. A disputa no ano que vem será novamente entre Bolsonaro e o candidato petista – seja Lula, seja o poste Fernando Haddad.


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