O cerco se fecha

O cerco se fecha

O Brasil, alavancado pela explosão das commodities no mundo, viu uma expansão vigorosa do PIB

Guilherme Baumhardt

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“As vitórias eleitorais no México, na Argentina, na Bolívia e, espero, agora no Peru; o empate no Uruguai; as rebeliões no Chile, no Equador, na Colômbia e na Bolívia mostram que está na ordem do dia, creio com a vitória nossa aqui no Brasil, a integração. Espero podermos a partir de 2023 estender de novo a mão ao povo cubano, que foi tão solidário conosco na luta contra a ditadura”.

As frases acima são de José Dirceu, um dos condenados no escândalo do mensalão. A manifestação é anterior à contagem de votos no Peru, onde o esquerdista Pedro Castillo está virtualmente eleito (no momento em que escrevo estas linhas). Para aqueles que veem um exagero nos alertas para a ameaça comunista e uma nova onda de coletivismo esquerdista (perdão pela redundância), o ex-guerrilheiro não pode ser mais claro.

Quase duas décadas atrás, em julho de 2002, o PT trazia a público a “Carta ao povo brasileiro”. No texto, um objetivo claro: acalmar o mercado financeiro e dar uma demonstração de que o petismo mais “raivoso” dos pleitos de 1989, 1994 e 1998 era coisa do passado. Deu certo. Lula foi eleito no segundo turno, após vencer o tucano José Serra.

Analisando o primeiro mandato, o que estava no texto foi, em grande medida, respeitado. As bases da macroeconomia foram mantidas, o controle da inflação permaneceu no radar e a estabilidade conquistada com o Plano Real não virou passado. O Brasil, alavancado pela explosão das commodities no mundo, viu uma expansão vigorosa do PIB. E a ala radical do partido, insatisfeita com o cenário, foi expulsa – para na sequência fundar o PSol. É como se o lobo em pele de cordeiro se comportasse como... cordeiro.A partir do segundo mandato o jogo muda. E o velho PT mostra as garras. A agenda de reformas fica pelo caminho. Surge a ideia de criar um Conselho Federal de Jornalismo – com a clara intenção de intimidar os críticos da imprensa. A reforma agrária estaciona de propósito (é importante manter uma legião a postos, em um grupo travestido de “movimento social”). Lula surfa a onda do agronegócio e dos bons ventos, mas não perde a oportunidade de posar para fotos com a cabeça enfiada em um boné do MST.

Em 2008, acontece o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos e, a partir daí, entramos em uma onda populista de dinheiro fácil, crédito abundante e sem lastro, tudo para salvar o “Brasil Maravilha” vendido na propaganda oficial. Uma irresponsabilidade (sucedida de outras irresponsabilidades) e que apresenta a fatura no final de 2014 e início de 2015, quando o país entra na pior recessão econômica da história.

“Espero podermos a partir de 2023 estender de novo a mão ao povo cubano, que foi tão solidário conosco na luta contra a ditadura”, disse Dirceu, no vídeo mencionado acima. Poucas frases dizem tanto com tão pouco. Para o petista, ditadura foi a nossa – não a cubana. É preciso lembrar que não houve solidariedade do povo cubano, mas sim do regime. Os cubanos sofrem há décadas nas mãos de uma ditadura cuja especialidade é produzir pobreza – estamos falando de gente que prefere virar comida de tubarão e tentar fazer a travessia rumo a Miami a permanecer na ilha presídio.

Jair Bolsonaro tem nos vizinhos esquerdistas a propaganda mais eficiente para a campanha eleitoral do ano que vem. O fantasma da esquerda não é fantasma. Ele é real. E hoje já produz miséria, fome e restrição de liberdade nos países da América Latina. A Argentina afunda, com inflação galopante e pobreza. A Venezuela agoniza e depende do socorro externo – especialmente o que vem da China. Paraguai e Uruguai até agora escaparam. O Brasil decide o seu futuro no ano que vem. Atenção especial com eventuais novas “Cartas ao povo brasileiro”.


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