Religião e liberdade

Religião e liberdade

A Califórnia, nos Estados Unidos, decidiu fechar espaços religiosos. Foi o único Estado a adotar tal medida. A Suprema Corte do país decidiu que igrejas e afins podem abrir.

Guilherme Baumhardt

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Durante a semana findou o debate no Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade de realização de cultos, missas e afins dentro de templos, igrejas, sinagogas e outros espaços religiosos. Por nove votos a dois, os ministros decidiram que estados e municípios têm o poder de restringir tais atividades presenciais durante a pandemia. Alguns acreditam que foi uma decisão sábia. Será?

Em vários lugares do mundo, em países desenvolvidos, são cada vez mais frequentes manifestações de gente pedindo liberdade. Não aceitam mais lockdown. Não ignoram os riscos do vírus. Não são negacionistas. Sabem que a doença pode matar. Mas cansaram. Cansaram de gente com uma caneta na mão regrando o que pode e o que não pode ser feito. Despertaram para aquilo que se aproxima cada vez mais de uma ditadura, afinal, na maioria dos casos o poder legislativo foi escanteado.
Imagens de famílias sendo arrancadas de casa porque resolveram fazer uma pequena confraternização finalmente provocaram o efeito que delas se espera: chocaram. Se as aglomerações em tempos de pandemia assustam, porque não deveria causar espanto a cena de um policial usando a força para retirar de um lar uma pessoa cujo “crime” foi encontrar a família?

A hipocrisia de quem impõe restrições e fica regrando a vida alheia é exposta com o passar do tempo. O governador de São Paulo, João Doria, aplicou um torniquete nos paulistas e... pegou um avião rumo a Miami, nos Estados Unidos. Diante da repercussão terrível, decidiu antecipar o retorno. O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, é adepto dos decretos. Mas foi flagrado fazendo uma festa de aniversário. Em Florianópolis, o prefeito Gean Loureiro resolveu viajar para o México, em meio à pandemia. Criticado, voltou mais cedo.

Aos que acreditam que o Supremo Tribunal Federal fez o certo, eu trago a seguinte informação: a Califórnia, nos Estados Unidos, decidiu fechar espaços religiosos. Foi o único Estado a adotar tal medida. No início de fevereiro, a Suprema Corte do país, por seis votos a três, decidiu que igrejas e afins podem abrir, apesar da pandemia — uma derrota para a cada vez mais socialista Califórnia.

Eu não tenho religião, o que não significa que não acredite em Deus. Sou filho de um católico não praticante com uma luterana que pouco frequenta templos evangélicos. Meus pais me deram a liberdade de seguir uma doutrina se assim decidisse no decorrer da vida. A crença em uma força superior existe, sem estar atrelada a qualquer preceito dentre os existentes hoje. Sou feliz assim. Fui livre para escolher.

Em síntese, estamos falando de liberdade. Um conceito que muitos teimam em não entender. Entrar em um templo ou uma igreja é uma decisão individual. O homem deve ser livre para ser dono do próprio nariz. Infelizmente, o poder coercitivo do Estado não pensa da mesma maneira. Sujeitos eleitos pelo voto viraram as costas para quem os elegeu. O poder legislativo virou peça decorativa. A mesma coerção estatal que impediu homens e mulheres de trabalharem em vários estados e municípios brasileiros, também barrou aqueles que pretendiam ouvir in loco um pastor, um padre ou um rabino.

Dentro do mesmo conceito de liberdade, qualquer um é livre para decidir se fará ou não uma doação a uma instituição religiosa — se ajudará com o dízimo ou com a força do seu trabalho. Se não quiser, ninguém poderá forçá-lo. No caso do Estado, é bem diferente. Não há escolha. Experimente não pagar os impostos para ver o que acontece. E, ainda assim, tem gente que pede mais e mais Estado.


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