Assunto proibido?

Assunto proibido?

Na metade do ano passado, o alemão Bild publicou conteúdo estimando em aproximadamente 150 bilhões de euros os prejuízos da principal economia da comunidade europeia causados pela pandemia

Guilherme Baumhardt

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Não ganhou o devido destaque na imprensa nacional, mas no início de fevereiro o jornal britânico The Telegraph trouxe reportagem jogando novas luzes sobre a origem do coronavírus. Não há nada conclusivo, mas alguns indícios merecem mais atenção da comunidade científica e das nações interessadas em cobrar da China a conta de prejuízos causados pela pandemia.

O texto assinado por Matt Ridley foi publicado no dia 6 de fevereiro. Entre outras coisas, ele revela que até julho de 2020 não haviam sido encontrados sinais de SARS-Cov-2 em morcegos na região de Wuhan, na província chinesa de Hubei. É uma informação que coloca em xeque uma das teses sustentadas até aqui: a de que a mutação ocorreu naturalmente em animais da região e, depois, contaminou seres humanos.

Além disso, o WIV (Wuhan Institute of Virology) virou uma espécie de referência de pesquisa após o surto da SARS, em 2003. Existem suspeitas, principalmente entre os norte-americanos, de que cientistas que trabalham no local ficaram doentes no outono de 2019, meses antes do início da proliferação de coronavírus mundo afora, sem qualquer tipo de alerta das autoridades orientais.

Outro aspecto intrigante é uma alteração genética do coronavírus, típica não de vírus SARS conhecidos até agora, mas de outros patogênicos como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS). A principal particularidade, neste caso, é de um agente com maior capacidade de infectar diferentes tecidos do corpo, algo que – curiosamente – não havia sido registrado em nenhum dos primeiros artigos do WIV publicados até então, apesar da sua relevância. O texto segue com outros dados e revelações.

Há muito tenho a sensação de que virou uma espécie de tabu buscar as origens e eventuais culpados da pandemia. Talvez pelo fato de o principal ator neste sentido ser o agora ex-presidente Donald Trump, que sempre se referiu à Covid-19 como “vírus chinês”, e nunca foi querido pela maioria da mídia. O topetudo era constantemente criticado pela postura e por usar a expressão acima (foi taxado de xenófobo, inclusive), mas pergunto: ficaram onde as críticas a um regime fechado – ditatorial e sem liberdade de imprensa – com fortes indícios de omissão ou até mesmo interferência na tentativa de barrar o avanço da doença?

O Telegraph é do Reino Unido. Na metade do ano passado, o alemão Bild publicou conteúdo estimando em aproximadamente 150 bilhões de euros os prejuízos da principal economia da comunidade europeia causados pela pandemia. Em editorial, o jornal defendia o pagamento de indenização pelos chineses.

A discussão segue. Ainda não é possível afirmar de maneira categórica se a mutação é natural ou se foi produzida. No segundo caso ainda existe um segundo debate. Uma alteração feita em laboratório teria como objetivo produzir uma arma biológica ou era uma pesquisa com o objetivo de desenvolver uma vacina de espectro mais amplo e eficiente contra síndromes respiratórias graves, algo aventado pelo Telegraph?

As respostas ficam ainda mais difíceis pelas características do regime chinês, um país que condenou a quatro anos de prisão uma jornalista que registrou o início da pandemia, sob a alegação ridícula de que ela estava “provocando problemas”. Vale lembrar também as ameaças ao médico que, em dezembro de 2019, tentou alertar os colegas sobre o surgimento da doença, mas foi acusado de espalhar boatos. Infelizmente, ele morreu por complicações causadas pelo vírus.

Há muito em jogo. Interesses comerciais, geopolíticos, de uma nova correlação de forças das potências mundiais que pode surgir após a pandemia. Descer o sarrafo em Donald Trump é fácil. As críticas a Jair Bolsonaro (em alguns casos com razão) viraram paisagem na imprensa nacional e podem ser vistas todos os dias. Quero ver fazerem o mesmo com Xi Jinping.


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