Mesmo tabuleiro, velhas peças, novas posições

Mesmo tabuleiro, velhas peças, novas posições

Apesar da reta final de campanha, o fato agora é público, a imprensa noticiou, a decisão está nas redes sociais. Nome e foto de Fortunati aparecerão na urna, mas o eleitor mais ligado sabe agora que digitar os números do PTB será o mesmo que anular o voto.

Guilherme Baumhardt

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A eleição para a prefeitura de Porto Alegre sofreu uma modificação substancial. A saída da disputa do candidato e ex-prefeito da cidade, José Fortunati, deu uma nova dinâmica à corrida. Antes de entrar na análise, é necessário um registro importante. Embora ainda pudesse recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral e permanecer no pleito, o Magrão – como é conhecido por muitos – decidiu “puxar o carro”, desistiu da disputa. Nem todos têm esta grandeza. Apesar da reta final de campanha, o fato agora é público, a imprensa noticiou, a decisão está nas redes sociais. Nome e foto de Fortunati aparecerão na urna, mas o eleitor mais ligado sabe agora que digitar os números do PTB será o mesmo que anular o voto.

Não há bola de cristal, nem mesmo pesquisa com 100% de precisão. Mas em uma primeira análise, a migração de votos deve ocorrer em maior número para a chapa Sebastião Melo/Ricardo Gomes. Melo foi vice de Fortunati. São amigos. Nos debates, nunca houve embate duro e direto entre eles, muito menos golpe abaixo da linha da cintura. O tratamento foi respeitoso, cordial.

Mas eleição – assim como futebol – não é ciência exata. É possível que eleitores de Fortunati optem até mesmo por Marchezan, com quem os embates foram mais duros e a discussão sobre as finanças da cidade parecem intermináveis. Cabeça de votante não tem muita lógica. Alguns sustentam que o passado ligado ao PT do agora ex-candidato empurra alguns dos votos para Manuela D’Ávila. É possível, embora pouco provável que sejam maioria. Ao fim e ao cabo, saberemos somente no dia 15 de novembro quem estará no segundo turno – uma quase certeza – e, no dia 29 do mesmo mês, o novo ocupante do Paço Municipal pelos próximos quatro anos.

A comemorar, e aqui novamente a grandeza de Fortunati merece ser destacada, é o fato de que uma eleição bastante intrincada ficou agora mais clara. Existia a dúvida sobre a validade da chapa encabeçada pelo PTB. Além dela, ainda paira uma interrogação gigantesca a respeito do processo de impeachment contra o atual prefeito, Nelson Marchezan Jr. A Câmara de Vereadores levará o caso adiante? Se cassado, ficará inelegível? No final das contas, perto do que ocorre nesse momento na eleição norte-americana, nossas dúvidas parecem pequenas e razoavelmente solucionáveis.

Um último registro a respeito do agora ex-candidato. A vida de Fortunati é marcada por vitórias e algumas situações negativas. Foi eleito prefeito em primeiro turno, em 2012, fato que não ocorria desde 1996. Venceu na época Manuela D’Ávila. No início do governo Germano Rigotto (2003-2006), foi lembrado pelo chefe do executivo – a contragosto do seu então partido, o PDT – para ser o secretário de Educação do Rio Grande do Sul. Começou ali a recuperação de uma carreira política ascendente, interrompida pela “rasteira” que levou dentro do PT, em 2000. Era dele a vez de concorrer ao Paço Municipal, mas diante do embate interno acabou sendo preterido. Viu Tarso Genro vencer a disputa partidária (em situações até hoje passíveis de questionamento ou crítica) e se transformar novamente em prefeito, para renunciar um ano e meio depois para disputar o Palácio Piratini, em mais um episódio das disputas com Olívio Dutra, então governador e que acabou não concorrendo à reeleição. Por este histórico, apesar da idade, não se surpreendam se o Magrão retornar à disputa nos próximos pleitos.


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