“Ah, faz um cheque!”

“Ah, faz um cheque!”

E o PT? Bem, o petismo ocupava todos os espaços possíveis para a cantilena de sempre.

Guilherme Baumhardt

publicidade

Quando o assunto é dinheiro, o lulopetismo lembra muito uma criança. Eu, quando tinha quatro ou cinco anos, invariavelmente, pedia coisas aos meus pais. Como diz o ditado, a “tenteada” é livre. Valia para o pipoqueiro que estacionava a carrocinha em frente ao portão da escola, ou quando passávamos em frente à vitrine de uma loja de brinquedos em um shopping center. Eu pedia. E, na maioria das vezes, não levava.

Para toda negativa dos meus pais, o moleque insistente aqui perguntava o porquê. E a resposta é de que não havia dinheiro. Como os tempos eram outros (os mais jovens agora apenas ouviram falar desta época), minha réplica era: “Ah, mas se não tem dinheiro, faz um cheque!”. Eu, ingenuamente, acreditava que aquele talão reluzente era a solução de todos os problemas. Levou algum tempo até que a lógica do sistema bancário e financeiro fizesse algum sentido. Mas eu aprendi. E esta é a diferença entre o colunista e o atual governo federal.

Na tentativa de recriar o Brasil Maravilha – que naufragou após três governos e meio (Lula e Dilma) –, o alvo da vez é o Banco Central, especialmente o presidente Roberto Campos Neto. Sim, o juro brasileiro está elevado, especialmente se olharmos os índices de inflação. Mas quem lida com isso sabe que a definição da Selic não lida apenas com o retrato de momento, mas com o cenário futuro. Vamos aos fatos.

A menor Selic da história brasileira foi registrada entre agosto de 2020 e março de 2021, após uma longa trajetória de queda, iniciada ainda no governo Michel Temer. Quais eram os recados de Brasília à época? Controle de gastos e reformas. A trabalhista passou, assim como o teto de gastos. Faltou a da previdência, aprovada no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro.

A partir de 2019, com Paulo Guedes à frente da economia, outras mudanças foram aprovadas, como a desburocratização e digitalização do governo. Empreender ficou mais fácil e o setor privado foi convidado a investir, com segurança. Obras foram destravadas e o país se revelou um destino interessante para o capital externo. Na máquina pública, o caminho foi o do enxugamento, inclusive com a suspensão e o cancelamento de concursos públicos. E, não por milagre, mas por trabalho, o Brasil encontrou o juro mais baixo da sua história.

E o PT? Bem, o petismo ocupava todos os espaços possíveis para a cantilena de sempre. “Desmonte da máquina pública”, “precarização dos serviços”, “entreguismo ao capital estrangeiro” preenchiam o rosário sem fim de bobagens. Lula não ficava muito atrás: “Esse cidadão colocou o Guedes, que fala uma quantidade de asneiras todo dia, não pensa no trabalhador, não pensa em desempregado, não pensa no pobre, ele só pensa em vender, vender e vender”, declarou em fevereiro de 2020, quando a Selic estava em 4,25% ao ano – bem distante dos atuais 13,75%. Ou ainda: “É só você assistir a uma entrevista do ministro da Economia que percebe que ele é uma biruta de aeroporto: ele fala uma coisa a qualquer hora. Não fala em crescimento econômico, não fala em investimento industrial, não fala em desenvolvimento. É só ajuste fiscal”, disse em outubro de 2020 – Selic, à época, em 2% ao ano.

Como adota o receituário da tragédia como método, o PT finge que desconhece a história, faz questão de esquecer o passado e pisa fundo no acelerador rumo ao precipício. O imposto sobre combustíveis já aumentou e a reforma tributária, que ainda precisa passar pelo Senado, ao que tudo indica, trará aumento considerável de impostos. Sem falar no arcabouço fiscal, que liberou o governo para gastar mais. Como? Aumentando impostos.

Quando estão no governo, o lulopetismo nada mais é do que uma criança de cinco anos com um talão de cheques na mão. O problema é que os correntistas somos nós, os pais que pagarão a conta.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895