A Venezuela é aqui

A Venezuela é aqui

É nas ditaduras que a mordaça impera e acontecem disputas fajutas, de fachada.

Guilherme Baumhardt

publicidade

Enquanto esteve no poder, o ditador Hugo Chávez perseguiu e fechou canais e veículos de imprensa críticos ao seu governo. Tudo em nome da revolução bolivariana. Seu sucessor, o não menos tirano e boquirroto Nicolás Maduro, fez o mesmo, cassando inclusive concessões de emissoras de rádio e TV. Em Cuba, há apenas um jornal, o Granma, voz oficial do governo comunista.

Aqui em Banânia, o Ministério Público Federal resolveu beber de inspiração soviética e levou adiante uma ação que pede a cassação das concessões de rádio da Jovem Pan (em São Paulo e Brasília), sob o argumento – pífio, torto, nojento e insustentável – de que a emissora se alinhou “à campanha de desinformação que se instalou no país ao longo de 2022 até o início deste ano, com veiculação sistemática, em sua programação, de conteúdos que atentaram contra o regime democrático”.

Uma rápida lição aos nobres procuradores: somente em democracias é possível questionar as eleições, do sistema vigente ao método de votação. É nas ditaduras que a mordaça impera e acontecem disputas fajutas, de fachada. Já escrevi aqui: nos Estados Unidos (em mais de uma ocasião) e na Alemanha (recentemente) pleitos foram alvo de suspeição e, no caso europeu, uma nova votação ocorreu.

Não chega a ser surpresa que dentro do MPF exista gente que pensa assim. Nos anos 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o procurador Luiz Francisco Fernandes de Souza apresentava uma denúncia por semana contra o governo tucano. Luiz Francisco é o autor do livro “Socialismo – Uma Utopia Cristã” e cancelou a filiação ao PT dias antes de assumir o posto de procurador regional do Distrito Federal, em 1995.

Com menos de seis meses de governo lulopetista, são dois pontos que assustam e preocupam mais. O primeiro é o silêncio da imprensa diante de uma censura que vem a galope. Há sites, portais e canais identificados com a esquerda, com linha editorial de esquerda e este colunista jamais defendeu o seu fechamento. Fez críticas, algumas duras, mas jamais a mordaça. Enquanto isso, há no meio jornalístico um certo prazer e satisfação diante da possibilidade de a Jovem Pan ser calada, coisa de gente que tem preço, e não valores.

O segundo é que estamos chegando a níveis vistos apenas em ditaduras em uma velocidade muito maior do que a prevista. Sim, era algo esperado e que estava no horizonte, mas não com esta intensidade. A instalação de um regime de exceção, mas com tintas democráticas, está chegando mais rápido do que imaginávamos.

Lula passa fome

Terça-feira, live presidencial no ar – mais uma vez um fracasso de audiência –, o palanque ambulante diz, sob risos bobos do apresentador Marcos Uchôa: “Eu vou te dizer por que a gente não come bem. Primeiro, porque em palácio você não come bem em lugar nenhum do mundo. A segunda coisa é que eu não vou em restaurante, então minha comida é de hotel. E a comida de hotel também não é boa. Não é das melhores. Eu não tenho a liberdade de ir para um restaurante e ficar escolhendo o que eu vou comer. A minha vida é comer em hotel ou onde eu sou convidado Eu tenho brigado com o Itamaraty porque a comida não ‘tá’ boa”.

A saber: Lula e Janja torraram R$ 260 mil do pagador de impostos brasileiro (dinheiro que saiu do bolso da faxineira, do empresário, do pedreiro e da classe média) em hospedagens em Paris, para o casal – suíte de 140 metros quadrados – e um sem-fim de aspones, em um dos hotéis mais caros da capital francesa. E a pergunta que não quer calar: porque Lula não vai a restaurantes, se sua popularidade é tão grande?


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895